sábado, 30 de janeiro de 2010

Jornalismo científico e mudanças conjunturais da comunicação


Trabalho elaborado para o I Simpósio Nacional de Jornalismo Científico,
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos de Goytacazes, RJ,
26 de novembro de 2009.
Maurício Tuffani
(Assessoria de Comunicação e Imprensa, UNESP – Univ Estadual Paulista)
Resumo: A questão crucial do jornalismo na área de C&T acabou por se
tornar a mesma do jornalismo em geral neste neste início de milênio: o
essencial não é saber se os jornais vão desaparecer, nem se os
profissionais de imprensa serão todos terceirizados, mas se a função do
jornalista deixará de ser a produção da informação para se restringir
ao mero gerenciamento dela.
1. O modelo deficitário da divulgação científica
Em seu livro Conhecimento Público, de 1968, o físico britânico John Ziman (1925-2005) destacou que a ciência moderna teve início pouco depois do surgimento da imprensa.1 Não a imprensa no sentido mais estrito e hoje predominante do jornalismo, mas no sentido da impressão, da invenção gutemberguiana que no século XV rompeu definitivamente o círculo fechado em torno do conhecimento escrito. A partir desse novo e revolucionário recurso, a recém-nascida ciência moderna não poderia ter deixado de se estruturar em função dele. Muito mais do que ser registrado, o conhecimento científico tinha de ser comunicado. Centenas de anos depois, já no final do século XIX, os cientistas já haviam consolidado entre si a comunicação por meio de publicações destinadas a especialistas, ao passo que o jornalismo já se tornara uma atividade empresarial voltada para o público em geral.
Em meio aos profissionais das diversas especialidades jornalísticas, os repórteres de ciência consolidam sua imagem, já no início do século XX, de tradutores da linguagem especializada dos cientistas, cada vez mais inacessível para os leigos. “Verdadeiros descendentes de Prometeu, os escritores de ciência pegam o fogo do Olimpo científico — os laboratórios e as universidades — e de lá o trazem para baixo, para o povo”, disse William Laurance, jornalista do The New York Times.2 Essa criativa metáfora ressalta no imaginário da sociedade não só a distância entre o discurso científico e a linguagem comum, mas também a posição dos cientistas como deuses, acima dos “mortais”.
Essa visão “prometéica” do jornalismo na área de ciência e tecnologia (C&T) passou a ser amplamente criticada por estudiosos da divulgação científica a partir dos anos 80. Rotulada como “modelo difusionista linear” ou “modelo do déficit”, essa concepção tem as seguintes características, como bem resumiu Yurij Castelfranchi:
  • a ciência é pensada (conscientemente ou não) como em certa medida autônoma em relação ao resto da sociedade, e “impermeável”;
  • o público é visto como massa homogênea e passiva de pessoas caracterizadas por déficits, falhas, buracos cognitivos e informativos que devem ser preenchidos por uma espécie de transmissão de tipo “inoculador”; e
  • o processo comunicativo é tratado como substancialmente unidirecional, linear, “top-down”: do complexo para o simples, de quem sabe para quem ignora, de quem produz conteúdos para quem é uma tabula rasa científica. A comunicação de C&T para o “público leigo” é, então, uma operação de simplificação em que, no caminho entre a ciência e a cabeça das pessoas, muita informação é sacrificada ou perdida, por causa da banalização operada pelo comunicador ou por uma parcial incompreensão devido às falhas culturais do receptor. 3
É consenso entre vários estudos que essa é uma concepção ultrapassada de divulgação da ciência, e para ela foram propostos modelos alternativos, como o contextual, o do conhecimento leigo e o democrático ou da participação pública.4 De um modo geral, no plano do ensino de graduação do jornalismo, prevalece o objetivo pedagógico de substituí-la por meio de uma prática jornalística ancorada na contextualização das atividades científicas, destacando seus problemas, seus métodos e seus aspectos históricos, sociológicos e filosóficos.(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM :    http://laudascriticas.wordpress.com/2009/11/26/simposio-uenf-2/

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