«Antes de Gertrude Stein ser uma artista de vanguarda, foi cientista. A primeira publicação de Stein aconteceu em 1898, na Psychological Review. O artigo resumia uma pesquisa sua, realizada no Laboratório de Psicologia de William James, em Harvard, onde Stein explorava a escrita automática. As experiências nesta área geraram páginas e páginas de frases inescrutáveis.
O fracasso experimental de Stein pô-la a cismar... Mesmo que tivesse escrito acerca de rigorosamente nada, o que acontecia, na maior parte das vezes, era que o tal "nada" continuava a ser gramatical: as frases não tinham sentido e, no entanto, continuavam a obedecer às regras-padrão da sintaxe.
Stein tinha tido a esperança de que a experiência libertasse a linguagem de constrangimentos. Todavia, o que acabou por descobrir foi o constrangimento que não se pode evitar: a nossa linguagem tem uma estrutura e essa estrutura está cauterizada no cérebro. A investigação de Stein recorda-nos que os nossos substantivos, adjectivos e verbos não são reais. São apenas significantes, conglomerações aleatórias de sílabas e de som. Porque investimos, então, tanto significado nas palavras? O que Stein intuiu, pela primeira vez foi que tudo o que dizemos está encerrado numa disposição dentro de um sistema.
A Psicologia iria precisar de cerca de 50 anos para descobrir as estruturas linguísticas que os escritos de Stein expuseram com tanto zelo. Em 1956, um linguista tímido chamado Noam Chomsky anunciou que Stein tinha razão: as nossas palavras estão presas a uma gramática invisível que está incrustada no cérebro. ».
Imagem: Google ImagesExcerto adaptado
Cf. Jonah Lehrer (2009): 171-5.
Mais uma vez, as regras abstractas impõem uma ordem (também) a tudo o que dizemos [Cf. Hannah B. Higgins. The Grid Book] .
P.S. Há dias, um post no blogue «marcas d'água» lembrou-me a demanda de Louis Wolfson em Le Schizo et les Langues, e trouxe-me à memória o entendimento de Roland Barthes sobre o sentido assertivo da língua: " [L]a langue (...) est tout simplement: fasciste. » (Barthes, 1989: 14). Os comentários de C. e da Ana Paula, em «Como a Arte antecipa a Ciência», voltaram a abordar a questão. A mensagem «A língua é pura e simplesmente fascista?» adveio desta troca de ideias.
Agradeço a todos!
OI GLÓRIA!! ontem assisti parte de um programa da UNESP na TV CULTURA,e um dos convidados era um linguista que citou a frase de Barthes : " A LÍNGUA É FASCISTA" ...aí foi por isso que postei este texto aqui....mas vc que conheceu Barthes...
ResponderExcluirdiga algo, diga algo sobre esta frase!!! AGRADEÇO!!! ABRAÇÃO