segunda-feira, 15 de junho de 2015

SÓ PRA CHATEAR - Crônica de Jackson M. de A. e do Pandeiro

                  
        

SÓ PRA CHATEAR
 

Crônica de Jackson Machado de Assis e do Pandeiro


   Eu mandei fazer um terno/Só pra chatear... Não, isso é da música do Hermínio Bello de Carvalho e do João de Aquino (primo do Baden Powell, acho. Por isso Baden Powell de Aquino). O que eu quero falar, mesmo, é dessa coisa que a gente tem de incomodar os outros. Só por incomodar. Será da natureza humana ou é que a gente é que inventa um jeitinho de chatear o próximo? Mas, que incomoda, incomoda.
   Ela vinha não sei de onde e nem por que. Mas, veio. Postou-se ao meu lado, como se eu a tivesse convidado. Bela e faceira. Bela, só pra citar a expressão. Uma verdadeira bruxa. Ou feiticeira, como outros preferem. A maquilagem excessiva.
   De cara, depois de bem acomodada, perguntou:
   - Você é daqui do pedaço?
   Nem respondi. Vocês precisavam ver e ouvir do jeito que ela fez essa simples perguntinha. Um misto de sarcasmo e ironia. Aí, podemos considerar uma mistura de inteligência e maldade. Fiquei mais quieto do que estava antes dela chegar. Só não saí cantarolando naquele momento porque eu estava, justamente, sentado à mesa da qual há anos costumo sentar-me no inferninho do seu Maximino, aqui na Lapa. Já é costume, saio da Biblioteca Nacional, no comecinho da noite e dou uma passadinha por ali, por vezes, até conversamos. Eu e ela. Antes, eu achava que era por acaso, nada, é só para vê-la.
   Precisava ser daquele jeito? Conhece-me há anos e fazer tal pergunta, como se eu fosse um estranho. Um qualquer. Ela sabe, muito bem, que a profissão dela é assim mesmo, há milênios, dizem. Quem sou eu para discriminá-la?
   Como eu não respondi à sua primeira pergunta, foi em frente no seu questionário, próprio para o ambiente. “Do jeito que você é corneado, parece, até, que nem vem lá da Favela”.
   Foi o que bastou! “Nunca mais repita isso”, eu falei. Levantei e fui-me embora, deixando-a falando sozinha.
   Nem contei que havia comprado uma casinha ali mesmo, na Lapa, bem próxima a casa dela. Sai cantarolando a letra da musiquinha lá de cima, do Hermínio e do João de Aquino:
   “... Mas vou morar na Lapa perto dela. Só pra chatear”.







Assis Valente com Arcos da Lapa ao fundo

























Fonte: Google Imagens

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