DOIS
PRA LÁ, DOIS PRA CÁ
Crônica de Jackson Machado de Assis e do Pandeiro
A
gente vai junto, prum lado ou pro outro. Cair, jamais. É o que se
pretende. Mesmo quando sentimos muito frio. Este, até na alma.
Lá no salão onde costumávamos
frequentar, tanto no inverno quanto no verão, assim que o uísque
começasse a subir, partíamos para os boleros, ninguém desconfiava.
Íamos, os dois, para um lado e, em seguida, para o outro. Sempre no
ritmo de bolero. De preferência “Dois pra lá e dois pra cá”,
do João Bosco e do Aldir Blanc, imortalizado pela maior intérprete
deste País, Elis Regina. Se a gente se desgrudava, nossa, seria, na
certa, um desastre, um pra lá e outro pra cá. Cairíamos no meio do
salão. Não ajudariam, nem se importariam. Apenas iriam rir.
Uma vez, não lembro onde,
escrevi: É na
estrutura do ziguezague que o bêbado se garante.
Tampouco lembro se copiei de alguém.
Voltando àqueles dois, um, até
crooner já
foi, dizem; mineiro. O outro, carioca, tipo carnavalesco
circunspecto, pasmem, além de escrever essas letras para músicas y
otras cositas más,
ainda ex-baterista e psiquiatra. Durma-se com o som desses dois.
Pra falar a verdade, eu
dependia dele e, ele, de mim. Éramos unha e carne na arte de dançar,
ou, de equilibrarmo-nos. Se eu estivesse aflita, ou ele aflito, vá
que o coração, de qualquer um de nós, disparasse feito aquele
instrumentozinho que o rapaz lá da orquestra costuma tocar, uma
bolinha em cada mão, nos boleros, a gente nem ligava. Às vezes,
talvez pelos uísques, poderia, até, parecer que a gente se
entusiasmava mais do que os outros, no imenso salão. Nossos perfumes
se misturavam a tal ponto que, nem ele e nem eu, tentávamos explicar
ou querer saber de quem seria ao certo.
Costumava enfeitar-me para
aquelas ocasiões. Não tinha jóias caras. Mas, as bijuterias, eram
lindas!
Para ser sincera, mesmo, acho
que essas lojas de calçados deveriam, quando vendem esses sapatos,
principalmente esses mais baratos, dar, de brinde, um par de
band-aids.
É quase certo que aquele calo que bem o conhecemos, o sapato novo
fará lembrá-lo, ou fazer-nos lembrar de algum aperto por que
passamos.
Foram tantos uísques com guaraná que acabei me
acostumando com a parceria. Chego a escutar, em meio aos meus
delírios: “São dois pra lá, dois pra cá”.
Bagé, 16 de junho de 2015.
Essa escapou. Ana Maria Mineira.
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