NOEL ROSA TOM JOBIM
ESSES DOIS... (para as novas gerações)
Otávio Martins Amaral
Um, da antiga. O outro, da Bossa Nova. O Noel Rosa, talvez o maior compositor da Música Popular Brasileira, não passou dos 26 anos, mesmo, assim, deixou uma obra pra lá de grande e importante. O obstetra, na melhor de suas intenções, fez tudo para salvar o bebê e a mãe, a professora Martha de Medeiros Rosa.
Então, Noel sofreu ainda rebento, a força do fórceps, o qual iria marcar a sua fisionomia e a sua vida para sempre. No início tocava o bandolim, de ouvido, logo passando para o violão, talvez para compor e acompanhar a música que já nascia da sua grande sensibilidade e criação, como poeta e como sambista. Por isso o chamam, até hoje, de Poeta da Vila. Vila Isabel. Longe das ondas de Copacabana. O mesmo obstetra não teve esse problema ao assistir o parto de Dona Nilza Brasileiro de Almeida Jobim, no nascimento de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, no ano de 1927. Com o tempo, o foram chamando de Tom, daí, um passo para Tom Jobim, assim como o conhecemos. Noel Rosa levou a sua vida, melhor dizendo, madrugadas, principalmente, pela Lapa, Largo do Estácio, Vila Isabel (onde morava) e o Tom Jobim, preferiu a Zona Sul, praias e, também, muita boemia. Muitos bares. Noel, apesar de pertencer à classe média, costumava dizer, até em suas composições, que os bares que freqüentava, eram zurrapa. Apesar de rimar com Lapa, parece que era verdade, mesmo. Vivia na zona. Bebia bem, fumava e passava a maior parte de seu tempo na boemia. Noel, talvez pelo jeito, solitário, esteve envolvido em enfrentamentos musicais – parecia inveja. Já o Tom, desde Newton Mendonça, ao contrário, estendia toda a sua criação através de parcerias: depois vieram Vinícius de Moraes, Chico Buarque de Holanda e outros. Tempo do Beco das Garrafas, no Rio. Com Vinícius, uma das músicas mais tocadas na década de 1960 em todo o mundo, competindo com Yesterday, dos Beatles, com toda aquela mídia, a Garota de Ipanema, que ele, Tom Jobim, gravou para a TV norte americana, juntamente e a convite do Frank Sinatra, intérprete norte americano.
Mas, Noel, já havia feito o seu nome, de boca em boca, na boca do povo, literalmente, e era, já, considerado o grande compositor da MPB. Morreu cedo, sempre às voltas com a sua doença pulmonar, a qual o levaria, até, a morar em Belo Horizonte, de onde escreveu para o seu médico Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Pra mim é um brinquedo/A injeção me tortura/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não tem material/Para o exame de escarro”.
Ainda bem que não tinha a TV, logo iriam querer compará-lo a Francisco Alves, João Dias, Silvio Caldas, Dorival Caymmi. Os bonitões da época. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro era um “antro” de grandes artistas, Carmem Miranda, Laurindo de Almeida, Dilermando Reis, Bola Sete, Luiz Bonfá, Assis Valente, Otacílio Amaral e um monte de outros tantos.
Se considerarmos as duas Bossas, a Antiga e a Nova, o ponto mais significativo – isso, inclusive, sob o olhar do Tom Jobim – é que a Bossa Nova veio com letras, principalmente a partir do grande poeta Vinícius de Moraes, de uma forma muito positiva, valorizado a mulher e o amor, ao afirmar coisas como: “Eu sei que vou te amar/por toda a minha vida, eu vou te amar... Se todos fossem no mundo iguais a você/Que maravilha viver ou Chega de saudade/A realidade é que sem ela não pode ser...”. Isso com o Tom Jobim. Com o Baden Powell, os afros e, ainda, músicas como “Consolação”. Enquanto a Bossa mais antiga, contando, ainda, com o Lupicínio Rodrigues, mesmo as relações, quando terminavam, eram, quase sempre, trágicas, deixando marcas amargas, até vinganças, para sempre. Noel escreveu: Quando o samba acabou: “Lá no morro de Mangueira – “... Lá no morro uma luz somente havia /Era o sol quando o samba acabou/De noite não houve lua ninguém sambou”... No último desejo: “Nosso amor que eu não esqueço/E que teve o seu começo/numa festa de São João/Morre hoje, sem bilhete...”. Porém, intuitivamente, pode ter sido, Noel registra, na feição de um cronista do seu tempo, até mesmo, o desenvolvimento da indústria têxtil brasileira, que já vinha do século anterior, com a fartura de algodão e da mão de obra barata. a qual mudaria as relações sociais, também no Brasil: “Quando o apito da fábrica de tecidos/Vem ferir os meus ouvidos... Com ciúme do gerente impertinente que dá ordens a você...”; “Três Apitos”, inclusive gravada pelo próprio Tom Jobim, quase meio século depois de composta, em 1934. Também, Noel dizia ser a arte, moleza. Ser artista, é bem fácil, “... sair do Estácio é que são elas – “... Ser estrela é bem fácil/Sair do Estácio é que é/O X do problema, samba gravado pela grande Aracy de Almeida, uma das intérpretes das músicas de Noel. Sem contar o humor que, por vezes, perpassava suas poesias. Tom costumava dizer que não era mole ir atrás do dinheiro para o aluguel. Dizem que costumava chorar de barriga cheia.
Além do violão, Tom aprendeu piano, flauta transversal e foi, ainda, maestro arranjador, além de cantor. Como disse o Chico Buarque de Holanda, numa de suas letras “Antonio Carlos Brasileiro/Meu poeta soberano”. Ficou conhecido pelo mundo inteiro e as suas músicas foram gravadas por vários intérpretes da música internacional, principalmente as grandes damas do jazz. Bem, outro tempo e outras mídias além de viver grande parte de sua vida no exterior e participando, até, de festivais globais, por aqui. Noel, com o seu violãozinho, pelos bares zurrapas da Lapa e poucas estações de rádio, marcou tanto e tão bem o mundo musical brasileiro que é tido, até os nossos dias, como o maior compositor da MPB. Nessa briga, eu não entro. Gosto dos dois. O Chico, dizem, é o novo Noel.
Ambos pertencem à Academia Brasileira do Samba.
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