sábado, 20 de junho de 2015

QUANTO MAIS EU REZO, MAIS ASSOMBRAÇÃO ME APARECE - Otávio Martins




QUANTO MAIS EU REZO, MAIS ASSOMBRAÇÃO ME APARECE

Otávio Martins

José Flores de Jesus – O Zé Keti
Pra falar a verdade, nem creio em rezas. Sou ateu convicto. Se ele existir, e encontrarem com ele, apresentem-me. Mas, foi o ditado que melhor eu poderia usar naquele momento, o qual se passou outro dia comigo. Talvez fosse coincidência, mas... Yo no lo creo em brujas, pero... Pelo sim ou pelo não, fico arisco. Essa cultura cristã me deixa assim. Fico, por vezes, até, bonzinho.

Ao que interessa. Vejam se não é pra se ficar cabreiro: Dois caras iguaizinhos, não eram gêmeos. Coincidência? No mesmo lugar e no mesmo instante? Aqui, pra vocês! Bateu o sino da igrejinha perto da minha casa ao mesmo tempo em que tocou o meu celular, que, ainda nem comprei, com uma musiquinha que eu acabara de ouvir no Youbube, com a Filarmônica de Viena. Casualidade? Se é por aí, nada de mais. Vamos admitir qualquer coisa que aconteça, por mais que seja estranha.

Meu filho falou: “Papai, estão batendo na porta”. A esta hora? Não, assim também não. PODEM ME PRENDER/PODEM ME BATER/QUE EU NÃO MUDO DE OPINIÃO... Bem naquela horinha, lembrei do meu amigo Zé Keti, no tempo em que veio morar aqui em São Paulo, no Bairro do Limão. Foi a minha salvação. Caiu um raio e rachou a parede dos fundos. Falei, ô Zé, este lugar está, até, perigoso. Ele complementou: “Não liga, não, o raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Aí, não adiantava mais eu tentar dissuadi-lo de ficar em São Paulo. Ficou lá no Limão, com toda a sua turma de percussionistas. Churrascos à vinha d’alhos, todos os domingos. Uísque e muita mulher. Desisti. Como o Zé era teimoso! As mulheres nem eram dele, eram dos percussionistas, o sonho do Zé, me confessou certa vez, era acabar de restaurar um barco, lá no Rio, para promover uns passeios pela Baía da Guanabara. “Se não forem os sonhos, quem nos levará?”, completou. Tranquei-me em copas. Ainda consegui uns lugares pro Zé e a sua turma de percussionistas se apresentarem. Cachê pequeno, mas, dava pra quebrar o galho. Ficava eu fazendo conta de cabeça. Uísque, churrasco, mulheres, taxi. Mas, o Zé Keti era uma figura sem igual, e eu jamais o abandonaria.

O Zé era grande. Depois, bem depois é que fui me inteirar melhor sobre a sua vida. Ganhei um livro, Autobiografia do Augusto Boal, da Lídia e do Fausto, que, por sinal, havia morrido (o Boal) no ano anterior. Então, ele falava do Show Opinião, ele dirigindo no que, depois, ficou conhecido como Teatro Opinião (antes, parece, era o Teatro de Arena), o João do Vale, a Nara Leão e o Zé Keti, no Rio de Janeiro. Isso lá na década de 1960. Como o Zé Keti foi importante para a música e para a história do Brasil!

Até esqueci-me da história que iria contar. Provavelmente seria uma grande mentira, como diria o poeta Manoel de Barros: “Oitenta por cento que eu escrevo, eu invento; vinte por cento é mentira”. Mas, dá pra se notar que não teve grandes conseqüências. Outro dia, se eu lembrar, eu conto. 





 

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