A dificuldade de diagnosticar a doença nos primeiros estágios expõe pacientes a risco de perda financeira
Para família e advogados, fica difícil saber até que ponto a pessoa ainda é capaz de tomar decisões sozinha
GINA KOLATA
DO "THE NEW YORK TIMES"
A dona de casa Renee Packel tinha uma típica vida suburbana. Ela cuidava da família e da casa, localizada perto da Filadélfia (EUA). Seu marido, Arthur, era advogado e vendia seguros.
Um dia, tudo desabou. Os proprietários da casa ligaram cobrando o pagamento das prestações. Para a surpresa de Renee, seu marido havia parado de pagá-las.
Arthur Packel estava desenvolvendo doença de Alzheimer e se esquecera de como lidar com dinheiro. Quando tentou pagar as contas, Renee não achou as economias do casal. "Simplesmente desapareceram."
O que aconteceu com essa família é comum, segundo especialistas em Alzheimer.
MUDANÇA FUNCIONAL
De acordo com uma pesquisa feita por Daniel C. Marson, neuropsicólogo da Universidade do Alabama, a confusão sobre dinheiro pode ser o mais importante entre os primeiros sinais de mudança funcional que acontecem no início da demência.
Isso não afeta só as famílias. Consultores financeiros e advogados ficam em uma situação difícil quando a mente de seus clientes parece estar se esvaindo.
O problema vem crescendo com o envelhecimento da população e deve se tornar mais complexo à medida que os médicos diagnosticam a doença cada vez mais cedo.
Se novos exames do cérebro mostrarem sinais de que a pessoa está desenvolvendo a demência, isso significa que o paciente deve ser acompanhado ou que devem ser colocados limites nas suas tomadas de decisões que envolvam finanças?
Renee Packel teve que fechar o negócio do marido e vender a casa para pagar advogados e credores.
Agora, eles vivem em um apartamento de um quarto na Filadélfia. Aos 75 anos, ela sustenta a casa como recepcionista. Ele passa o dia em um centro para idosos. "Foi uma reviravolta", diz Renee.
Advogados veem outro lado do problema. Há diretrizes para lidar com clientes com demência, mas muitas questões ficam em aberto, segundo Charles P. Sabatino, líder de uma comissão sobre lei e envelhecimento.
Não é fácil determinar se o cliente pode assinar um testamento ou transferir propriedade. "A lei quer uma resposta simples, sim ou não", diz Sabatino. Mas avaliações médicas não são categóricas. Elas levam em conta pontos fortes e fracos da capacidade de raciocínio que colocam o paciente em um estágio da evolução da doença. "Não há sim ou não."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd0311201002.htm
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