22/01/2010 - 09h48
GIULIANA VALLONE
da Folha Online
O começo do ano é hora de organizar as finanças. Além de janeiro ser um bom mês para fazer mudanças nos gastos, muitas pessoas acabam se endividando no período, afundadas em despesas como o IPVA, material escolar e o reajuste das mensalidades. A Folha Online reuniu dicas de especialistas para sair do vermelho e começar 2010 poupando.
O primeiro passo é quitar as dívidas pendentes e evitar que os débitos cresçam com os juros do cheque especial, que é um dos mais altos entre os cobrados pelos bancos. Assim, os especialistas afirmam que é melhor pegar um empréstimo com juros menores, como o consignado, por exemplo, do que deixar a dívida aumentar no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito.
"O primeiro aspecto é saber quanto você tem de dívida e quanto paga de juros. Se está no cheque especial, isso acaba tirando sua capacidade de saldá-la. Então, nesse caso, é melhor trocar juros mais caros por juros baratos, como o consignado [com taxas de cerca de 2% ao mês], e pagar a dívida cara", afirma Mauro Calil, professor e educador financeiro. Ele ressalta, porém, que é preciso arcar com as parcelas do empréstimo.
Para se ter uma ideia, uma dívida de R$ 1.000 no cheque especial, pagando juros de 7,27% ao mês --taxa média, de acordo com pesquisa da Anefac em dezembro--, passa a valer R$ 1.523 após seis meses. A mesma dívida, financiada pelos juros do empréstimo pessoal de um banco (com juros médios em 4,82% ao mês) em seis meses, ficaria em R$ 1.326, quase R$ 200 a menos. Os juros para o parcelamente de faturas no cartão de crédito são ainda maiores, chegando a 10,68% ao mês (dívida de R$ 1.838 após seis meses).
"Parcelar o cartão de crédito é uma péssima ideia, os juros do rotativo são muito caros, em seis meses a dívida quase dobra de tamanho", diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
"Colchão financeiro"
Pagas as dívidas, o próximo passo é se organizar para pagar as parcelas do empréstimo, evitar contrair novas dívidas e economizar para montar um "colchão financeiro". E para arrumar a vida financeira, todos os especialistas dão o mesmo conselho: colocar os gastos e receitas na ponta do lápis.
"A primeira coisa é elaborar seu orçamento doméstico, confrontar receitas e despesas. Rever tudo e ver onde cortar", afirma Oliveira. "Na planilha, a pessoa vai colocar o que ela tem a gastar, como água, luz, aluguel, prestação do carro, mensalidade. Aí é hora de ver as receitas. A diferença entre elas é o que será poupado. Se der negativo, ou ela dá um jeito de ganhar mais ou de gastar menos", completa o professor de Finanças da USP (Universidade de São Paulo), Keyler Rocha.
O ideal, segundo eles, é economizar pelo menos 10% de suas receitas todos os meses. Assim, é possível ter sempre alguma reserva para despesas eventuais ou emergências, como problemas de saúde ou um carro quebrado, por exemplo.
Montando o orçamento doméstico, seja em um caderninho ou no computador, fica mais fácil saber quais os gastos que podem ser cortados ou reduzidos, como a conta de celular acima da média, ou compras demais no cartão de crédito.
"Cartão de crédito é uma ótima ideia, desde que bem utilizado. Tenha um ou no máximo dois. Esse cartão deve te dar algum tipo de benefício, como carro, viagens, etc.. E a soma dos limites dos cartões tem que ser de, no máximo, 50% do seu salário líquido", afirma Mauro Calil.
Aspectos emocionais
Outro fator que pode atrapalhar um orçamento equilibrado são as chamadas "compras emocionais". "Aspectos emocionais atrapalham muito o orçamento, então a pessoa precisa ter uma certa educação financeira. Se ela não conseguir se controlar, é melhor não ter cartão de crédito, nem cheque [na carteira]", afirma Keyler Rocha, da USP.
De acordo com ele, quem acha que não consegue se controlar para não gastar o que não precisa, deve deixar os cartões e talões de cheque em casa. "Assim, durante o tempo em que ela terá de voltar em casa para pegar, pensará melhor sobre a compra", disse.
Confira as dicas dos especialistas para economizar e evitar dívidas:
- Faça uma planilha com todos os seus gastos e receitas no mês. Assim é possível ver quais as despesas que podem e/ou precisam ser cortadas e conferir se a conta está fechando positiva no fim do mês.
- O ideal é que, ao final do mês, sobre pelo menos 10% do seu salário líquido para suas reservas pessoais.
- O educador financeiro Mauro Calil recomenda que o chamado "colchão financeiro" tenha ao menos 12 meses de seus gastos garantidos. Assim, em caso de demissão, por exemplo, você terá tranquilidade maior para se restabelecer.
- Parcelar a fatura do cartão de crédito ou pagar a dívida e entrar no cheque especial não são boas ideias. Os juros dessas modalidades são muito altos e podem fazer sua dívida dobrar em pouco tempo.
- Para pagar as dívidas e recuperar o equilíbrio financeiro, prefira modalidades de crédito com juros mais baratos, como o consignado --cujas parcelas são descontas diretamente da folha de pagamento-- ou o empréstimo pessoal.
- Tenha no máximo dois cartões de crédito, e controle seus limites de modo que a soma dos saldos máximos dos dois plásticos seja igual à metade do seu salário. Para simplificar: se você ganha R$ 2 mil por mês, o limite dos seus cartões de crédito, somados, deve ser igual a R$ 1 mil.
- Ao receber o 13º salário, divida-o em três partes: uma para pagar dívidas, uma para presentes e outros gastos, e outra para despesas de começo de ano, como IPVA, material escolar e etc..
- Se programe com antecedência: se quer fazer uma viagem de R$ 1 mil no revéillon, comece a separar as parcelas da viagem alguns meses antes da data. Assim, as parcelas pesam menos no seu bolso.
- Algum sacrifício é importante para o equilíbrio orçamentário. Pense antes de consumir o que pode ser postergado ou deixado de lado.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u682824.shtml
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