RESUMO
O estudo descrito a seguir foi realizado por meio da observação e da análise da linguagem exercida em ambientes virtuais de comunicação com o objetivo de determinar alguns aspectos da interação em tais contextos. Os aportes teóricos foram encontrados em Bakthin, Faraco, Chartier e Silva, dentre outros. Entendendo a linguagem de forma dialógica e que, é na relação com os outros que nos constituímos, pretendeu-se, aqui, investigar de que maneira os internautas organizam sua interação, tanto em ambientes virtuais ou híbridos para que se possa registrar esses fatos historicamente com o objetivo de contribuir na investigação e constituição de formas pedagógicas a serem utilizadas em ambientes formais de educação.
Palavras-chave: Interação virtual. Ambiente. Linguagem. Educação.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado de uma reflexão embasada em conceitos de linguagem dialógicos e na observação e análise do efetivo exercício dessa linguagem em ambientes virtuais como sites, blogs e comunidades que fazem parte da Internet. Além disso, também foi observada a forma como se organizam as redes sociais, qual seu conteúdo e a que extrato social pertencem as pessoas que se habilitam a usar as ferramentas adequadas e participar da troca ciberespacial.
O acesso a computadores e à rede da Internet tem se ampliado significativamente nos últimos anos e estudos sobre o assunto tornam-se urgentemente necessários em curto espaço de tempo, para determinar o impacto das atividades realizadas em ambientes de interação social, principalmente em ambientes híbridos, sobre o processo formal de aprendizagem.
O conceito de linguagem aqui apresentado tem como pressuposto que esta é uma visão de mundo que busca as formas e instauração de sentido que passa pela abordagem lingüística e discursiva, pela semiótica da cultura, podendo ser definida como um conjunto de imagens entretecidas e ainda não de todo desveladas.
Para que se tenha uma idéia da importância da leitura, é importante citar Barthes e Compagnon apud Silva (2003).
Sabe-se que a leitura – o saber ler – foi, durante milênios, um operador brutal de discriminação social. A escrita-leitura (visto que uma não existe sem a outra) esteve, desde o início, ligada (com os escribas reais) às esferas do poder e da religião. Como padrão do tempo, da comunicação, da memória, do segredo, só podia ser um instrumento privilegiado do poder – ainda que este saber estivesse delegado numa casta de técnicos (escravos e clérigos) que dependia do poder. É por isso que a ‘alfabetização’ (ou difusão da escrita como técnica) sempre esteve ligada às lutas políticas e sociais da história.( Silva, 2003, p. 9)
Desta maneira, podemos dizer que, novamente, nos deparamos com outro operador de discriminação, o analfabetismo digital. Conforme Chartier (2002)
(...) quanto à ordem dos discursos, o mundo eletrônico provoca uma tríplice ruptura: propõe uma nova técnica de difusão da escrita, incita uma nova relação com os textos, impõe-lhes uma nova forma de inscrição. A originalidade e a importância da revolução digital apóiam-se no fato de obriga o leitor contemporâneo a abandonar todas as heranças que o plasmaram, já que o mundo eletrônico não mais utiliza a imprensa, ignora o ‘livro unitário’ e está alheio à materialidade do códex. É ao mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica da produção do escrito, um a revolução da percepção das entidades textuais e uma revolução das estruturas e formas mais fundamentais dos suportes da cultura escrita. Daí a razão do desassossego dos leitores, que devem transformar seus hábitos e percepções, e a dificuldade para entender uma mutação que lança um profundo desafio a todas as categorias que costumamos manejar para descrever o mundo dos livros e da cultura escrita.( Chartier, 2002, p. 23-4)
Percebe-se, no momento atual, um temor das pessoas em relação à tecnologia, que os pegou desprevenidos, pois, além de não terem acesso e conhecimentos para usar, conforme o mínimo exigido dos profissionais hoje em dia, são facilmente passados para trás até por crianças que ainda não freqüentam a escola. Convivemos, também, com a tradicional falta de visão e decisão por parte das autoridades que, supostamente, deveriam cuidar do assunto.
De acordo com Brait (2001, p.77) “(...) a linguagem não é falada no vazio, mas numa situação histórica e social concreta no momento e no lugar da atualização do enunciado.” Isso significa que é necessário analisar a dimensão histórica e intersubjetiva do evento, pois, a dimensão é uma atualização do enunciado do ponto factual e semântico, ou seja, no momento de sua realização e não extraída após o acontecimento, apenas como uma forma gramatical seja ela palavra ou frase. Interessa-nos, na análise em questão, saber de que maneira tem sido feita na escola a formação do leitor do texto eletrônico, quais são as características da internet e do computador como suportes e produtores de textos, além da forma como são estruturados os textos digitais e de que forma se processa a interação com o leitor. Assim, foi feita uma análise documental e a observação de comunidades virtuais de estudos, discussões e de propagação de notícias, entre outros. Na verdade, tal idéia corrobora o pensamento de Bakthin, isto é, de que a perspectiva da semiótica das ideologias pode ser flagrada no intercurso social e nas manifestações de linguagem aí produzidas.
2 O DIALOGISMO NO CIBERESPAÇO
Entende-se que o sujeito nasce e é constituído como tal em um complexo caldo de heteroglossia e dialogização. Assim esse sujeito, no princípio, percebe a realidade lingüística como múltiplas vozes sociais que se realizam “em múltiplas relações dialógicas – relações de aceitação e recusa, de convergência e recusa, de convergência e divergência, de harmonia e de conflitos, de intersecções e hibridizações.” (Faraco, 2003, p. 80).
Bakthin define uma visão dialógica de mundo, ou seja, um diálogo entre existência e linguagem, entre mundo e mente, entre o que é dado e criado, que estão presentes nas discussões que faz sobre autoria, respondibilidade, mesmo e outro, mundo como experiência em ação, mundo como representação no discurso. Esses aspectos serão apresentados como conclusão deste trabalho, após a análise e estudo das comunidades virtuais de acordo com os pressupostos descritos acima. É interessante relembrar que em muitos lugares do mundo a alfabetização tradicional, que usa suportes mais simples do que os tecnológicos, ainda não chegou a resultados satisfatórios. Os suportes tecnológicos são, também, considerados intelectuais, já que promovem a experiência e a atribuição conceitual aos elementos utilizados.
Os estudos sobre questões de linguagem e de leitura, na formação de professores, perante a força de modelos discursivos não científicos, os quais orientam o ensino da língua no Brasil, bem como dos preconceitos lingüísticos e, por extensão, pedagógicos que são postos em todos os setores da sociedade, podem, também, ser equiparados à problemática da alfabetização digital com a qual a sociedade se depara neste momento. Considerando-se a função mediadora da tecnologia no processo de aprendizagem, torna-se primordial a discussão dos vários pressupostos teóricos relacionados a essa nova linguagem e não simplesmente a sua utilização como ferramenta. Por outro lado, são as crianças que dominam o assunto e conhecem todas as possibilidades do ambiente multimídia, dominando a sua utilização. Praticam várias experiências no ciberespaço, como, por exemplo, a formação e a participação em comunidades sociais que, por sua vez, pressupõem padrões, costumes e códigos sociais partilhados no ambiente.
Silva (2003) salienta:
É importante destacar que a tecnologia propriamente dita presente na Internet não é questionada pelas crianças enquanto aparato técnico, pois ela adquiriu uma determinada transparência que lhes permite lidar com pessoas, informações, jogos, serviços, aplicações e amigos. Por isso, é necessário considerar as implicações trazidas pela sua utilização sobre a percepção da realidade social, isto é, ao nos conectarmos com as informações por meio da Internet, estão ocorrendo mudanças externas, mas também internas. É fundamental reconhecer que o computador tornou-se um novo ambiente cognitivo.(Silva, 2003, p. 110)
Muitas são as considerações e estudos que se fazem necessários sobre os objetos informáticos, já que esses são imateriais e de existências virtuais, além de potencialmente interativos e, por tais motivos, são bem adaptados a uma pedagogia ativa.
Ainda sobre os ambientes interativos virtuais, é possível citar vários grupos de estudo e troca de experiências como, por exemplo, o Blogs Educativos, comunidades diversas formadas e interligadas por temas de estudo em várias áreas do conhecimento como o edudemocratica-Grupos, ou de interesse por notícias como o dHitt, redes de relacionamento como Orkut, Plaxo e muito mais.
Para exemplificar as formas interativas no ciberespaço, são reproduzidos abaixo trechos da comunicação entre alguns membros do Blogs Educativos.
-----Mensagem original-----
De: blogs-do-ozai@googlegroups.com [mailto:blogs-do-ozai@googlegroups.com]
Em nome de Antonio Ozaí da Silva
Enviada em: sábado, 8 de novembro de 2008 20:39
Para: blogs-do-ozaí
Assunto: [blogs] Cenas da Metrópole / A importância da literatura para o
homem de cultura universitária, qualquer que seja sua especialização
Caros(as),
informo que foram publicados novos textos nos blogs:
Cenas da Metrópole
A mulher negra caminha com dois cães poodles. É manhã ensolarada e
está quente. Lembrei do pupi, o nosso cachorrinho. Um pensamento me
assaltou e o meu lado “politicamente correto” o repudiou. Na dúvida,
perguntei se os poodles eram dela. Ela confirmou o que imaginei: “Não,
são da patroa”. Observo que leva sacos plásticos para recolher as
sujeiras deles.
http://antonio-ozai.blogspot.com/2008/11/cenas-da-metrpole.html
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Em Literatura, Política e Sociedade, leia:
A importância da literatura para o homem de cultura universitária,
qualquer que seja sua especialização - por Maurício Tragtenberg
http://antoniozai.blogspot.com/2008/11/importncia-da-literatura-para-o-homem
.html
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Veja no blog cultura e ciência política:
A História das Coisas - 1 a 4
The Story of Stuff - Cap 1 a 4, em Português
http://cienciapolitica-dcsuem.blogspot.com/2008/11/story-of-stuff-cap-1-4-em
-portugus.html
A História das Coisas - 5 a 7
The Story of Stuff - Cap 5-7 em Português
http://cienciapolitica-dcsuem.blogspot.com/2008/11/story-of-stuff-cap-5-7-em
-portugus.html
Metade (Osvaldo Montenegro)
http://cienciapolitica-dcsuem.blogspot.com/2008/11/metade.html
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Abraços, bom final de semana e tudo de bom,
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Como se observa na correspondência acima, os membros de um determinado grupo recebem um email com indicações de leitura, ou outras, que são freqüentemente renovadas, conforme o assunto. A par disso, percebe-se o aspecto informal da mensagem e as formas afetivas de interação entre os membros.
É freqüente, também, o auxílio mútuo nessas comunidades como se observa em:
2008/11/25 drekassia
> Olá pessoal,
> Se houver algum professor que trabalhe diretamente com o uso das
> TIC´s em sua escola, por favor me ajudem!
>
> Continuo minha pesquisa para o meu artigo de TCC e gostaria de saber
> como as TIC´s são trabalhadas em suas instituições. Em minha pesquisa
> visitei várias escolas aqui da minha região (Assis, Ourinhos, Cândido
> Mota, Palmital, Santa Cruz do Rio Pardo, etc) do interior de São
> Paulo, e notei um certo descaso não só por parte das escolas, mas
> também abandono por parte do governo. Equipamentos que vieram para as
> escolas a mais de 7 anos, capacitação que só tiveram a 4 anos atrás,
> laboratórios com 5 computadores que muitas vezes nem funcionam, para
> turmas de mais de 30 alunos. Não percebi nenhum trabalho empolgante
> para tentar motivar professores a utilizarem a tecnologia a seu favor
> em suas aulas. Será que isso acontece somente aqui? Gostaria de saber
> se há mais iniciativa em sua região. Será que pode me ajudar dizendo
> como as coisas funcionam por aí?
>
> Um grande abraço.
>
> Andréia
>
>
>
--
Larissa Silva
Msn: larypcoelho@yahoo.com.br
Blog: http://rabiscosdelary.blogspot.com/
Tel: (71) 9966-4918
[As partes desta mensagem que não continham texto foram removidas]
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Por outro lado, o texto do email acima sugere que a professora que o responde presta apoio à outra que, além de pedir ajuda para solucionar alguma dificuldade, ao mesmo tempo relata não receber apoio quanto ao uso de novas tecnologias em seu local de trabalho. Por meio dos exemplos citados, destaca-se aqui a real situação do uso da tecnologia em função da educação, observada em situações reais de uso.
3 CONCLUSÃO
A partir dos dados coletados e analisados nesse trabalho fica evidente que a internet, assim como, em outras épocas, cadernos, rádios, vídeos, dentre outros, veio para se estabelecer na sociedade porque, também, além de possuir outros aspectos relevantes para fins pedagógicos, cria redes de informação e, só por esse motivo, já seria adequada a sua inserção em locais em que se trabalha formalmente com educação. Além disso, essa inserção deve ser seguida de infra-estrutura, tanto física quanto humana e de uma política educacional coerente, isto é, de nada adianta prover escolas de computadores se não há um entendimento de como esse suporte deve ser utilizado de forma pedagógica. Não é demais repetir que, a exemplo de outros suportes anteriormente introduzidos nos meios escolares, não é só da competência do professor o estabelecimento das maneiras de utilização das ferramentas tecnológicas, mas é, também, de outros profissionais que participam da educação como bibliotecários, técnicos, webmasters e outros.
Finalmente, a crença de que a análise das transformações, que acontecem na sociedade, não se esgota em um único momento e contexto, permite que se afirme que novos estudos sobre a interação no ciberespaço devem ser realizados continuamente, dada a complexidade do dialogismo e da condição humana em cada momento histórico.
Referências
BRAIT, Beth. Diálogos com Bakhtin. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001.
CASTRO, Gilberto de. FARACO, Carlos Alberto. TEZZA, Cristóvão (orgs.). Diálogos com Bakhtin. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e Diálogo. As idéias lingüísticas do Círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2003.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2003.
OZAI. De: blogs-do-ozai@googlegroups.com
Em nome de Antonio Ozaí da Silva
Enviada em: sábado, 8 de novembro de 2008 20:39
Para: blogs-do-ozaí
Assunto: [blogs] Cenas da Metrópole / A importância da literatura para o
homem de cultura universitária, qualquer que seja sua especialização.
[1] Mestre em Educação e Especialista em Língua Portuguesa
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