Seu Zé, baleiro da antiga -
Na velha
Bahia... -
O ÚLTIMO BALEIRO.
Jackson Machado de
Assis e do Pandeiro
Estranho.
Um baleiro em plena rua, com o seu tabuleiro e, pasmem, “fardado”
como os baleiros de antigamente. Aqueles que víamos no cinema. Eu,
nas matinês, ou na seção Vermute. Talvez até possamos encontrar
alguns, nos circos, quando estes passam pelas nossas cidades. Deste,
de que estou lhes falando, parece ser o último dos baleiros, vestido
formalmente, rodando pelas ruas da cidade, pasmem, novamente,
vendendo balas e guloseimas, daquelas que a gente encontrava nos
tabuleiros deles, dentro do cinema. Até puxa-puxa. Parece mentira,
não? Juro que encontrei, até pedi pro meu amigo Dieguinho
fotografá-lo. Não é que o rapaz tem três fardamentos. Tinha dois
um azul e outro vermelho. Como vamos ter a famigerada Copa do Mundo,
por tudo quanto é canto deste País Tropical, ele se deu ao luxo de
fazer mais um - verde e amarelo - as cores da Seleção Brasileira de
Futebol. Precisa vender os seus doces e, para isso, vai ter que
batalhar, muito. Na FIFA tem até um ex-torturador da “Revolução”,
ou golpe, de 1964, o Marin. Quem sabe dele é o Lungaretti. Quem
quiser saber mais sobre esse tal de Marin, entre no blog Náufrago da
Utopia. Lá, ele, o Celso Lungaretti, explica direitinho de quem se
trata.
Baleiro é coisa
antiga, desde os velhos tempos do cais dourado da velha Bahia (como
já disse Martinho da Vila), até, este rapaz, com o qual dou de
cara. Nada me assusta. Pensei, vou falar com ele e descobrir de onde
saiu essa ideia maluca de, acabado os cinemas, sair, vestido de
baleiro, com tabuleiro, balas e tudo, pelas ruas centrais da nossa
pequena cidade. Convidei o para a gente sentar na praça, pedi para o
Diego Lameira ir fotografando e fui, maneira de dizer, entrevistá-lo.
Também pedi se ele não poderia se apresentar para as referidas
fotos com os outros “fardamentos”, os antigos, em azul e, o
outro, vermelho. Prontamente, prometeu que, depois posaria para a
câmera do Dieguinho, vestindo aqueles outros, os quais estavam na
corda, secando para revezarem com o novo. Segundo ele, o nome do novo
era “Pra frente, Brasil. Salve a Seleção”. Sujeito franzino,
mas com uma fibra! Conversamos.
Seu nome,
por favor, pra gente já ir se conhecendo melhor. O meu nome é
Jackson Machado de Assis e do Pandeiro.
- Sou
o ........., mas, pode me chamar de......
Logo
perguntei: De onde você tirou essa ideia? Você é jovem, acho que
nem chegou a ver um baleiro desses de cinema, os quais vestiam, assim
como você. Acho que já tinham até fechado os cinemas da nossa
cidade, quando você era garoto...
-
Precisava arranjar um trampo... daí parti pra essa...
- Bem,
então foi por necessidade. Nada que o tenha chamado a atenção pela
grande importância dos baleiros e, mais, ainda, pela sua quase
extinção. Os cinemas... um virou estacionamento; outro é uma
igreja qualquer (até escrevi uma crônica, Chico Baleiro e as voltas
que o mundo dá, falando sobre isso); o outro, também central, foi
alugado pra uma loja, dessas cheias de quinquilharias e balaios de
liquidação. Tudo, uma merda só. Mas, sinal dos tempos, acho.
Livrar-se do fogo eterno do castigo de Deus, carro e comprar, comprar, comprar, como manda o Sistemão que fez água, novamente, em 2008, e nós continuamos a pagar o pato. Eta, ferro, sô! E os banqueiros – todo banqueiro é ladrão, foi o que vi nos cartazes de rua, enormes, espalhados pelo Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Sul, parece que em 2000 ou 2001, por toda a cidade de Porto Alegre. Ninguém foi processado. (Por que será).
- Ando por toda a cidade, maneira de dizer. Pelo menos nesta área central, tenho rodado. Já estou ficando, até, conhecido. Vendo o meu peixe, quer dizer os meus doces. A maioria, sou eu mesmo quem faz. Compro somente alguns, porque o pessoal fica pedindo, Mentex, bala de goma e algum chocolate tipo bis. De mais, eu faço. A minha mãe, também, tem uma mão pra doce, que só vendo.
- Mas os baleiros dos cinemas, também, alguns eles compravam, outros era o pessoal de casa quem fazia. Pela quantidade, valia à pena, acho. Lembro da mãe do Chico, a dona Zica, cada doce maravilhoso. E as balas de coco, então? Nossa, uma delícia! Quais os que você faz em casa?
- Olha, todos os que estão aqui no meu tabuleiro, são feitos em casa. Claro, tirando aqueles que eu lhe falei, não tem como fazer. Enquanto estou bandeando por aí, minha mãe vai adiantando para o dia seguinte. Todos os dias têm doces novos. Já tenho uma freguesia que, pelo menos, para o nosso sustento, meu e de minha mãe, dá. Assim, vou passeando com o meu tabuleiro (e o carrinho) por aí, pra quem quiser provar as delícias, principalmente feitas pela minha velha.
- Sabe onde é que eu vi um baleiro, pela última vez? Num circo. Olha, o garoto era ágil, subia aquelas arquibancadas num pé e descia no outro. Acho que trabalhava sob comissão, mesmo assim, vendendo daquele jeito, acho que tirava um bom troco.
- Acredito. É que lá no circo as pessoas estão concentradas num mesmo espaço, e eu, preciso ir à cata dos fregueses. Ando um bocado. Mas, melhor para o corpo, não acha? Dizem que se movimentar é bom pra saúde. Então... Ah, e eu me sinto muito orgulhoso de ser o único baleiro da cidade. Está vendo este uniforme, e os outros que tenho lá em casa, eu mesmo faço. Tecido barato; tenho uma maquininha, dessas elétricas, mando bala, em dois toques tenho uma roupa de trabalho novinha. O pessoal percebe que eu estou sempre limpinho. Precisa, né? Trabalhando com coisas de comer, tem que ser assim.
- Olha, estou gostando muito de falar com você. Principalmente por estar falando com um baleiro. Além das recordações, de outros tempos, você reencarna uma figura que, só pelo que representa, já é de muito valor. Ainda os doces... Olha, aqui, um pé-de-moleque! Vou comprar um. Sou louco por pé-de-moleque. Dá um pro Dieguinho, também; acho que ele vai gostar. Sei que ele adora fotografar, mas, também, ninguém é de ferro e um pé-de-moleque vai bem, muito bem,
- Uma tarde qualquer, eu estava ali na lotérica e vi você passar. Pensei, ainda vou conversar e escrever algo sobre esse cara.
- A gente, às vezes, pensa que as pessoas não notam...
- Só não nota, quem não quer. Ou não sabe.
- Pode marcar outro dia, garanto, virei com os outros uniformes. Este daqui é por causa dessa Copa. Gosto, mesmo, é daquele azul (tenho, também o vermelho), é o meu xodó. Estou acabando outro, branco. Esse vou parecer um garção; com botões dourados. Chique, não? Bem, trabalhando, principalmente servindo coisas de comer, estarei no clima, não é mesmo?
http://balaacobaco.blogspot.com.br
fonte das imagens acima:
http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,o-baleiro-mais-antigo-da-fonte-nova,1081287
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2013/12/a-historia-dos-baleiros-de-antigamente.html
https://www.facebook.com/otaviomartinsescritormusico
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