Battisti,
Conti e o Ministro da Justiça
Carlos A. Lungarzo
Ontem (14/05) a Globo News transmitiu mais um programa de Diálogos com Mário Sergio Conti, desta vez entrevistado o Ministro
da Justiça, José Eduardo Cardoso.
Até a
hora de escrever este post (12:36), não encontrei na Internet nenhuma
referência a essa entrevista, apesar da importância de um dignitário de Estado
como o Ministro da Justiça, e do prestígio, amplamente reconhecido, do
jornalista Mário Sérgio Conti, uma luz na noite impenetrável da mídia
brasileira.
Logo que a Globonews publique o vídeo, enviarei aos leitores o link
correspondente.
Depois de uma breve conversa sobre
assuntos políticos, Conti soltou uma pergunta à queima roupa, no seu estilo
natural, bem humorado, quase brincalhão, mas direto e sem retórica.
Por que a polícia federal monitora
continuamente Cesare Battisti?
Cardoso foi sempre um grande defensor
do direito de asilo e, junto com Tarso Genro e Suplicy, um dos três políticos
brasileiros com maior peso no caso Battisti. Em 2008 foi o primeiros em levar
sua solidariedade oficial a Battisti pessoalmente em nome do Partido dos
Trabalhadores.
Posteriormente, falou várias vezes
como parlamentar, criticando de maneira direta à campanha de difamações,
desinformação e, especialmente, de injúrias de todos os tamanhos que o Estado
Italiano dirigiu ao governo, estado e povo brasileiros. Inclusive, fez uma
menção forte a um assunto crítico: a forma vulgar em que o deputado fascista
Pirovano dirigiu um insulto oblíquo às mulheres brasileiras.
Com linguagem sempre respeitosa aos
outros poderes, e se expressando de maneira discreta, sem alardes, porém com
absoluta objetividade, Cardoso reconheceu entre outras coisas, o estado
calamitoso das prisões brasileiras, e chegou a afirmar que para ele era
preferível morrer a ficar preso.
Quando era interrogado pelos
jornalistas sobre as sentenças do mensalão, sempre manifestou que não devia se
pronunciar sobre os outros poderes do estado. Nunca percebi que fizesse nenhuma
declaração demagógica para acalmar a sede de vingança da mídia, como fizeram
outros políticos. Também reconheceu a dificuldade em saber o que acontecia em
seu próprio ministério.
A resposta de Cardoso a Conti foi tão
corajosa e sincera quanto a pergunta. O alarme e a preocupação que demonstrou
ao ouvir a denúncia de Conti seria algo impossível de fingir nem pelo melhor
ator britânico.
Declarou imediatamente que não sabia que
estivesse acontecendo esse monitoramento, sobre o qual expressou sua clara
rejeição. Conti afirmou que ele próprio havia visto os federais seguindo
Battisti, o que foi rapidamente respondido por Cardoso com surpresa. O Ministro
estimulou, sem duvidar nem um instante, que o advogado de Battisti apresentasse
uma representação dirigida a ele mesmo (o ministro) para poder começar uma
investigação. Insistiu pelo menos duas vezes nesse ponto.
Conti mencionou também os boatos
sobre a tentativa de “troca” entre Battisti e Pizzolato e se referiu à juíza (de
primeira instância), que havia produzido uma sentença atropelando as decisões
do Chefe do Estado e até do STF (9/6/2011).
Cardoso disse, com ênfase que não
deixou lugar a qualquer dúvida, que a permanência de Battisti no Brasil era
totalmente legítima e que não podia ser questionada, mostrando que o chamado
“caso Battisti” está fechado.
Embora, consoante com sua prudência,
Cardoso não se estendesse sobre o assunto, reiterando apenas a necessidade de
ser representado por Battisti para poder investigar esse monitoramento
ilegal.
Surge imediatamente uma pergunta que,
embora não formulada, se deduz logicamente da fala do ministro.
Se o Ministro da Justiça não tinha
qualquer informação sobre o acionar da PF, que forma um departamento integrado
dentro desse ministério, quem é que manipula os federais?
A PF, de maneira diferente a outros
corpos policiais no Brasil, não é uma estrutura militarizada e, por outro lado,
não se conhecem casos em que tenha atuado como milícia ou grupo parapolicial.
Não cabe pensar que uma autoridade dessa polícia tomaria a iniciativa de
monitorar Battisti. A única resposta possível é que a provocação (como
aconteceu antes com o sequestro do 12 de março) é da
própria “lavra” dos juízes e MP’s envolvidos na criminosa tentativa de entregar
um “ex-extraditando” que foi liberado pelo Poder Executivo, o presidente da
República que é o Chefe do Estado Brasileiro e pelo próprio STF.
Fica outra pergunta:
Qual é o motivo de monitorar Battisti
ostensivamente?
Obviamente, não é pesquisar suas
conexões com o terrorismo internacional, como pretendeu fazer parecer em 2008 a
PF do Rio de Janeiro, que até noticiou ter encontrado um “computador
misterioso” na casa de Battisti, ou seja, seu notebook de uso pessoal.
Mas, este monitoramento tem sim uma
explicação, que, aliás, mostra um fato que aconteceu várias vezes no Rio e que
só não acabou em deportação pela intervenção rápida dos advogados e grupos de
apoiadores. A explicação é simples.
Na maioria dos casos, uma pessoa
fortemente monitorada tende a perder o equilíbrio emocional e cometer erros.
Isto, é claro, quando a pessoa sabe que, se for capturada, pode ter um destino
atroz. Não é o caso dos membros do grupo de apoio a Cesare, que temos até a “geladeira
grampeada”, mas achamos isso divertido. Pessoalmente, de vez em quando mando
meus comprimentos aos grampeadores. Talvez algum dia peça à alguns deles se não
quer contar-me a história de sua vida, quem sabe dê para fazer um romance.
No caso de alguém aguardado com a
tortura e a morte, é fácil que o monitoramento faça perder a cabeça, mas
Battisti consegue manter o equilíbrio. Estes monitoramentos de provocação têm
longa história em muitos países (aqueles onde o sequestro violento seria mal
visto). Tenta-se conseguir o desequilíbrio do monitorado para quebrar seus
nervos. Pode acontecer que ele tome um pileque, brigue com um vizinho e isso
daria ensejo para que fosse detido por “uma noite” como permitem os decretos
contra a alteração da ordem. Mas essa noite poderia ser eterna.
Por sinal, dentro de investigação que o Ministério
da Justiça sem dúvida fará, seria importante incluir informações sobre
o que exatamente esperavam os PF enquanto percorriam por horas as ruas de São
Paulo antes de levar Cesare Battisti à Sede da Polícia Federal no bairro da
Lapa, conforme determinação da Juíza Adverci. O que se passava em Guarulhos
enquanto Battisti (tratado com muita gentileza pelos federais) percorria a
cidade com seus captores sem ter, aparentemente, um percurso fixo.
Será que estavam esperando
autorização para embarcar Cesare num avião (italiano?) posicionado numa pista.
Aliás, esse posicionamento era regular? Há registros deles nas torres de
controle?
Hum! A Itália segue sendo a terra dos
mistérios desde a época de Pitágoras. Só esperamos que, ante a posição decidida
do Ministro da Justiça, ninguém tenha mais a ideia de proceder a um sequestro
violento, como o fracassado golpe que tentou o chefe nazista Gaetano Saya na
Sardenha em 2004, e do qual Battisti nem chegou a tomar conhecimento.
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