quinta-feira, 4 de março de 2010

Reaprendendo a viver Reabilitação melhora recuperação após AVC; saiba quais são as modalidades mais comuns e o que há de novo na área

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

O AVC (acidente vascular cerebral) é a doença que mais mata no Brasil -responde por 10% dos óbitos, matando aproximadamente 90 mil brasileiros por ano (estima-se que 450 mil sejam afetados). Mas, mesmo entre os sobreviventes, costuma haver pouco a comemorar: a doença é, também, a principal causa de incapacidade no mundo.
Se cerca de 20% dos pacientes que sofrem o problema (chamado popularmente de derrame) morrem, sobra um enorme contingente de pessoas que, em muitos casos, ficam com sequelas -segundo dados internacionais, é o que acontece com 70% dos pacientes inadequadamente tratados, que acabam não retornando ao trabalho, afirma a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC. Metade deles fica dependente de outras pessoas para as atividades diárias.
São dezenas de milhares de brasileiros que precisam lidar, do dia para a noite, com dificuldades para realizar tarefas tão básicas quanto andar, mexer o braço, falar, comer, escrever.
Felizmente, há diversas modalidades de reabilitação que tornam a recuperação mais fácil. As opções vão de fisioterapia na água a terapia com música e teatro e botox. "Nos últimos dez, 15 anos, a reabilitação evoluiu muito. É indiscutível que, com esse auxílio, todos os pacientes conseguem algum grau de recuperação", afirma Mirto Prandini, chefe da neurocirurgia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo a fisiatra Cristiane Isabela de Almeida, gerente médica de reabilitação do hospital Albert Einstein, há muitas novas ferramentas que ajudam esses pacientes. Uma delas é a neuropsicologia. Ainda difícil de ser encontrada, a modalidade ajuda na recuperação principalmente de sequelas como deficit de atenção, de memória, na resolução de problemas e na realização de funções executivas (manejar várias informações ao mesmo tempo). Almeida diz que os neuropsicólogos oferecem, simplificadamente, uma espécie de treinamento cerebral. "É como fazer exercícios com o cérebro", resume.
Outro recurso novo, ainda em fase de pesquisa, é a estimulação magnética transcraniana, que usa um campo magnético para estimular neurônios. "Se um braço está fraco, tentamos estimular uma área do cérebro que facilite sua recuperação", exemplifica Adriana Conforto, neurologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
Ela diz, porém, que, apesar de estudos com pessoas parcialmente paralisadas terem mostrado benefícios, eles são pequenos e não são suficientes ainda para que a técnica se torne um procedimento clínico.
A robótica também já está sendo usada a favor desses pacientes no exterior. Almeida, do Einstein, visitou recentemente, no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA, um centro que usa essa tecnologia para a reabilitação. "São máquinas que auxiliam em todos os movimentos. Estamos tentando trazer para o Brasil", diz. Também têm sido feitas experiências com ferramentas que usam a realidade virtual. "Temos que lembrar que a tecnologia ajuda, mas o trabalho tradicional também tem ótimos resultados", diz.
Opte-se pelos métodos tradicionais ou inovadores, os especialistas são unânimes em dizer que, quanto antes procurar a reabilitação, melhor. "A velocidade de recuperação de um AVC é maior nos primeiros meses", diz Eli Faria Evaristo, professor de neurologia na USP. Além disso, quanto mais o tempo passa, mais o paciente reforça padrões errados de movimento e fica mais difícil se livrar deles depois.
O tipo de sequela decorrente do AVC depende da área cerebral afetada. Uma das mais comuns é a hemiplegia (paralisia de um lado do corpo), assim como dificuldades na linguagem.
Há pacientes ainda que ficam com sequelas visuais, comportamentais, de equilíbrio ou de memória, entre outras.
O grau das sequelas depende da gravidade do AVC, e esta, por sua vez, é influenciada pelo tempo que demora para o paciente ser socorrido -até três horas é o ideal.
O tempo e o grau de recuperação desses problemas dependem do tipo de sequela e de características individuais.

Jovens e crianças
Quanto mais velho é o paciente, mais chance de ter um AVC, mas estudos têm mostrado um aumento no número de pessoas mais jovens afetadas, por estarem mais expostas a fatores de risco como obesidade, hipertensão e tabagismo.
Uma pesquisa divulgada no último mês na conferência da American Stroke Association, por exemplo, mostrou que, de 1993 até 2005, a idade média dos pacientes caiu cerca de três anos. A porcentagem de pessoas com idade entre 20 e 45 anos que tem derrame subiu, no período, de 4,5% para 7,3%.
O que muita gente não sabe é que, apesar de ser raro, mesmo crianças podem ser atingidas. Dados da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo mostram que, em 2009, foram 177 casos de crianças de até 14 anos.
Segundo Paulo Breinis, neuropediatra do Hospital Infantil Darcy Vargas e do hospital São Luiz, em geral esses pacientes são portadores de cardiopatias congênitas, doenças renais e outros problemas de saúde -mas, em 30% dos casos, a causa não é descoberta.
Ele observa que é difícil identificar os sintomas em crianças muito pequenas. "Elas não falam, não andam, fica mais difícil perceber problemas nessas funções. Só um exame neurológico vai tirar a dúvida", afirma.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0403201007.htm

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