sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CARTA DE PARIS AO CAMARADA KOSTRÓV - MAIAKOVSKI

SOBRE A ESSÊNCIA DO AMOR

Perdoe-
me,

camarada Kostróv,

com sua habitual

largueza de vista,
se eu desperdiço

as minhas estrofes
de Paris

em lírica
imprevista.
Imagine:
uma beleza

entra na sala
vestindo

peles e
adereços.
A essa
bela presa

a minha fala
(não sei se

bem ou mal)

eu endereço:
Sou russo,

camarada,

e sou famoso em meu país.
Já tive muitas namoradas
bonitas
- todas as que eu quis.
As mulheres

amam os poetas.
Sou vivo,
minha
voz é de bom timbre.
Tonteio como éter.
Basta
Ouvir-me

Não me fisgam

com armas

sem valor.
Não caio
por
qualquer charme.

Eu fui
para sempre

ferido pelo amor -
mal e mal

posso arrastar-me.
Não meço

o amor

pelo matrimônio.
Deixou de amar -

passe bem!
Para mim,

camarada,

as cerimonias

valem
menos que um vintém.
Para que ficar palrando?
Deixe de onda,
formosura,

eu não tenho mais vinte anos,
mas trinta...
p;
e outros tantos
fora da conta.
O amor

não está
nbsp;
em ferver bruscamente,
nem está
em acender
uma fogueira,
mas no que há

por trás
;
das montanhas do peito
e acima
da jangal-cabeleira.

Amar
é ir ao fundo
;
do cercado
e até que a noite
sp;

- corvo negro -
chegue
cortar lenha
p;
com chispas

no machado
e a nossa própria força
sp;
pôr em xeque.
Amar
é desfazer-se dos lençóis

que a insônia desarruma
p;
e com ciúmes
de Copérnico,
a ele,
não o marido

p;
da Maria dos Anzóis,
considerar rival eterno.
O amor
não é

paraíso nem geena.
Para nós
o amor
p;
é o atestado
de que

outra vez
;
se engrena
o coração -
sp;
motor enferrujado.

Você
rompeu o fio
p;
com Moscou.
Os anos
criam

distâncias.
Como
explicar o que passou
assim de relance?
Na terra

há luzes - até
o céu ...
No céu azul
bsp;
estrelas

a granel.

Se eu
não fosse poeta
seria astrônomo

por certo.
A praça já se apinha.

Os coches rodam.
Eu passo
anotando
linhas
No meu livro de notas.
Correm
os carros

rente,
mas não me atropelam.
Entendem,

de repente:
Está em êxtase

por ela.
Sonhos,
visões,

excursos

enchem-no

até os ossos.
Aqui
até os ursos

ganhariam asas.
E agora,
quando acabo de
fervê-las,
num restaurante barato,
as palavras

soletram das letras
às estrelas
um cometa dourado.
Deixando

pelo céu

um longo rastro,
brilha
a plumagem do cometa,
para que os namorados

vejam os astros
de seus quiosques

de violetas.
Para acordar

e atrair

o apreço
desses
a que a visão já falha.
Para cortar
aos inimigos

a cabeça
com a longa cauda

luminosa
navalha.

Ouço
em meu peito

até o último pulsar
como se o estivesse

esperando
para um encontro:

o amor

a ressoar
simples e humano.

O furacão,

o fogo,

o mar
vêm vindo

furiosamente.
Quem
os pode

domar?
Você pode?

Experimente...

(Tradução de Augusto de Campos)

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