domingo, 2 de novembro de 2008

NUM MONUMENTO À ASPIRINA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO (clique aqui)

Claramente: o mais prático dos sóis,

o sol de um comprimido de aspirina:

de emprego fácil, portátil e barato,

compacto de sol na lápide sucinta.

Principalmente porque, sol artificial,

que nada limita a funcionar de dia,

que a noite não expulsa, cada noite,

sol imune às leis de meteorologia,

a toda hora em que se necessita dele

levanta e vem (sempre num claro dia):

acende, para secar a aniagem da alma,

quará-la, em linhos de um meio-dia.



Convergem: a aparência e os efeitos

da lente do comprimido de aspirina:

o acabamento esmerado desse cristal,

polido a esmeril e repolido a lima,

prefigura o clima onde ele faz viver

e o cartesiano de tudo nesse clima.

De outro lado, porque lente interna,

de uso interno,por detrás da retina,

não serve exclusivamente para o olho

a lente, ou o comprimido de aspirina:

ele reenfoca, para o corpo inteiro,

o barroso de ao redor, e o reafina.

**POSTADO POR ZARATUSTRA

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