Excrementos
Nada pertenceu em maior medida a uma pessoa do que aquilo que se transformou em seu excremento. A pressão constante sob a qual se encontra a presa transformada em comida, durante todo o longo tempo em que peregrina pelo corpo; sua dissolução e a íntima conexão que estabelece com aquele que digere; o completo e definitivo desaparecimento primeiramente de todas as funções, depois de todas as formas que um dia compuseram a sua existência; a sua equiparação ou assimilação ao corpo já existente desse que a digere - tudo isso pode ser muito bem visto como o fenômeno mais central, ainda que mais recôndito também do poder. Trata-se de um fenômeno tão óbvio, automático e tão além de todo o consciente, que se lhe subestima o significado.
Elias Canetti, p209
Nenhum comentário:
Postar um comentário