Triste,
Magra,
Solitária,
Acompanhada apenas pela fome e a dor.
Mulher frágil mas forte
No seu chorar,
no seu avançar,
Pela estrada poeirenta.
Seus pés descalços,
Rachados,
são como o solo estorricado,
sem verde.
Você tem raízes nos pés.
Nas veias altas,
As pernas marcadas,
Mas o ventre sempre fértil,
a desafiar a fome.
Você olha o céu sem nuvens
E traz nuvens no seu olhar.
Maltrapilha,
Com braços finos mas fortes,
Bastantes para embalar
Seus filhos na rede,
No colo,
junto ao coração que teima em esperar
A chuva
A água amanhã
Nas lutas da sua vida,
Mulher destemida e sofrida,
Eu admiro a sua força.
Mulher mãe.
Cidadã da fome e da dor,
Que coloca seus filhos no mundo
E com suas mãos tece a cruz,
Ao devolvê-los ao berço-terra,
Na cruz da sua dor.
Eu louvo suas lutas inglórias,
Mas um dia lhe será concedida
A alegria de mergulhar as mãos
Na água pura
Que a alma liberta se inunda de luz,
Matar sua sede de amor,
Num amor maior.
Sacrifício ainda lhe pedem,
E nos seus olhos tristes,
Você agradece as migalhas
Que lhe chegam dos que muito possuem.
Você ama,
Você perdoa
O solo ingrato
E ainda sente
Gratidão e amor.
Sertaneja, Imagem da dor,
Que lhe abençoe nosso senhor.
Cecília Meireles
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