domingo, 7 de março de 2010

CANÇÃO - MÁRIO QUINTANA


Cheguei a concha da orelha à concha do caracol.
Escutei
vozes amadas
que eu julgava
eternamente perdidas.

Uma havia
que dentre as outras mais graves
tão clara e alta se erguia...

que eu custei mas descobri
que era a minha própria voz:
sessenta anos havia
ou mais
que ali estava encerrada.

Meu Deus, as coisas que ela dizia!
as coisas que eu perguntava!

Eu deixei-as sem resposta.

As outras vozes, mais graves, tampouco
nenhuma lhe respondia.

O mundo é um búzio oco,
menino...

Mundo de vozes perdidas
e onde apenas o eco
eternamente
repete as mesmas perguntas.

Do livro "Nova Antologia Poética"

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