"Senhor Cidadão,
eu e você
temos coisas até parecidas:
por exemplo, nossos dentes,
da mesma cor, do mesmo barro.
Enquanto os meus guardam sorrisos,
os teus não sabem senão morder.
Que vida amarga!"
("Senhor Cidadão", Tomzé)
eu e você
temos coisas até parecidas:
por exemplo, nossos dentes,
da mesma cor, do mesmo barro.
Enquanto os meus guardam sorrisos,
os teus não sabem senão morder.
Que vida amarga!"
("Senhor Cidadão", Tomzé)
Senhor Cidadão, não adianta colocares toda tua máquina de comunicação, inclusive a mídia que te é subserviente, para embaralhar os fatos, atirando sobre funcionários, professores e estudantes da USP a culpa pela batalha campal que teve lugar na Cidade Universitária, igualzinha àquelas dos tempos ásperos da ditadura militar, quando eu e você tínhamos coisas até parecidas: pelo menos nossos ideais, da mesma cor vermelha e moldados no mesmo barro da solidariedade para com os explorados.
Só que, enquanto eu os defendia nas ruas, os teus passos te levaram para bem longe, onde não havia sustos, nem companheiros tombando ao teu lado, nem o teu sangue corria risco de ser derramado pela causa.
Talvez advenha daí o teu rápido esquecimento daquilo que continua impresso indelevelmente na minha mente: as lições aprendidas na luta.
Uma delas é a de que, quando manifestantes e tropas de choque estão frente a frente, o conflito acaba sempre ocorrendo. E a imprensa burguesa acaba sempre culpando os "baderneiros" e fechando os olhos à bestialidade dos fardados.
E o pior é que nem uns, nem outros são os verdadeiros culpados. A responsabilidade é de quem arma o tabuleiro dessa forma.
Caso do episódio desta terça-feira (9). Pois, não fosse a presença no campus dos mais truculentos efetivos da Polícia Militar, nada aconteceria além de uma manifestação pacífica, na qual o pessoal da USP distribuiria flores aos transeuntes, faria os discursos de sempre e depois se retiraria, como sempre, com a sensação de dever cumprido daqueles que tiveram brio de protestar contra as injustiças. Quantas vezes não ocorreram atos semelhantes, sem que fosse derramado sangue?
Mas, lá estando as odiadas e odiosas tropas de ocupação que o teu governo fez questão de lá manter mesmo depois de superada a situação utilizada como pretexto (não motivo, jamais motivo!) para a invasão aberrante de um templo do saber, isto tinha o efeito de uma provocação sobre aqueles jovens ciosos da diferença entre universidade e quartel, ambiente acadêmico que propicia a livre discussão e ambiente autoritário que impõe a obediência cega.
E deu no que deu, Senhor Cidadão: essas imagens chocantes que jamais deveriam se repetir em plena democracia, mas servem ao teu propósito de convenceres a direita de que és confiável. Agora, no teu afã de angariar apoios para a corrida presidencial, provastes aos inimigos de outrora que não há nada, absolutamente nada, que deixarás de fazer.
Foi como se dissesses aos reacionários: "às favas todos os escrúpulos de consciência!". Lembras? Trata-se da frase que definiu o papel histórico do coronel Jarbas Passarinho, aquele que era teu antípoda há quatro décadas e hoje, talvez, nem tanto...
Que vida amarga!
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