| Brasília - Se violência gera violência, submeter um jovem infrator ao cárcere só fortalece seu lado agressivo. Esta é uma das várias declarações humanistas do filósofo francês Edgar Morin, que está no Brasil para uma série de palestras e seminários. Enquanto o mundo se preocupa com os conflitos entre iranianos, é o pobre e esquecido povo do Sri Lanka que ele lembra em primeiro lugar quando perguntado sobre formas de violência que mais o preocupam.
Quanto aos conflitos no Irã ele afirma que as informações vindas de lá devem ser sempre analisadas em seu contexto histórico, político e social.
Em entrevista exclusiva concedida à TV Brasil, ele explica sua Teoria da Complexidade. Autor de 30 livros, entre eles a trilogia O método e Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, Morin avalia que o mundo ainda não compreendeu a importância do erro – um desses sete saberes – e revela que a educação mudou pouco nos últimos anos, pois permanece ainda muito negativa.
Prestes a completar 88 anos, Morin se empenha em popularizar os conceitos de Política da Civilização e Política de Humanidade. Admirador do Brasil, o professor concedeu a entrevista em português. Recém-chegado da França, ainda não tinha “tomado um banho de português” necessário para deixar suas frases mais “belas”. A mistura, porém, não tirou o caráter inovador de suas ideias.
A entrevista vai ao ar às 21h de hoje (22) na TV Brasil. TV Brasil - O assunto que o traz a Brasília são os direitos humanos e, em especial, as formas de violência. Nesse tema, que tipo de violência mais o preocupa? Edgar Morin - A mais preocupante é a violência que vem com as guerras, as perseguições, como é a violência que chegou ao Sri Lanka há poucas semanas. A população, aos milhões, está em situação de horror, de matança. Isso é o mais grave. Mas também são as violências urbanas, cotidianas, matrimoniais, muitos homens que golpeiam as mulheres, os pequenos, uma situação muito impressionante. Mas a coisa mais importante é quando se diz, vamos fazer violência para acabar com violência. Em condições gerais, violência, gera outra violência. É um ciclo que não se interrompe. A questão fundamental é como parar a violência. Fazer com que em um momento não exista mais violência. E há vários caminhos: são os caminhos da compreensão. Por exemplo: a violência juvenil. Ser jovem é um momento de transição. Se essa violência é respondida com a violência do cárcere, vai se produzir delinquentes mais fortes. Outra política de compreensão para a pessoa fazer sua transformação é um momento de magnanimidade, de perdoar a pessoa e interromper o ciclo de violência. Existem exemplos, limitados, como de Gandhi, que sem violência teve sucesso contra o império inglês. Há vários tipos de meios. Hoje podemos pensar em lutar contra todas as formas de violência, com os modos apropriados para cada forma de violência.
TV Brasil - O senhor é conhecido no mundo inteiro, e muito estudado, também no Brasil, pela Teoria da Complexidade. Como se poderia resumi-la? Morin - Falamos primeiro de violência. Na complexidade, não podemos reduzir uma pessoa a seu ato mais negativo. O filósofo Hegel disse: se uma pessoa é um criminoso, reduzir todas as demais características de sua personalidade ao crime é fácil. Entender, não reduzir a uma característica má uma pessoa que tem outras característica, isso é a complexidade. Uma pessoa humana tem várias características, é boa, má e muito mais. Devemos entender que a palavra latina complexus significa tecido. Em geral, o nosso modo de conhecer que vem da escola nos ensina a separar as coisas, e não religá-las. A complexidade significa religar. Por exemplo: um evento, um acontecimento, uma informação. Quando chega uma informação sobre o que ocorre no Irã, por exemplo, devemos entender o contexto político, histórico, social. A complexidade busca favorecer uma compreensão maior que a compreensão que vem de se isolar a coisas, colocar o contexto, todos os contextos em uma situação.
TV Brasil - No Os sete saberes necessários à educação do futuro, o senhor fala da importância do erro. A humanidade já compreende e já aceita melhor o erro? Morin - É uma coisa que disse Descartes, o problema de errar é não saber que se erra. Eu penso que é muito inteligente quando se sabe que se comete um erro e se esquece do erro. Penso que é muito importante conhecer as fontes do erro. De onde vem o erro.
TV Brasil - Mas a humanidade vê melhor o erro do que há dez, vinte ano atrás? Morin - Penso que não há progresso, o sistema de educação não mudou, é cada vez mais negativo. Os problemas globais fundamentais são cada vez mais fortes. Por isso penso que há a necessidade de reformar a educação. Com uma idéia melhor de como se faz o conhecimento e também compreensão humana dos outros. Penso que minha proposta será muito útil para o desenvolvimento nosso futuro.
TV Brasil - Para aceitarmos a complexidade, é preciso uma reforma do pensamento e enxergar o mundo de outra maneira. O senhor acha que os meios de comunicação tradicionais essa reforma do pensamento ou é uma tarefa para a internet? Morin - A internet hoje dá uma possibilidade de multiplicação de informação e comentários, que é muito útil, por que a vida de uma democracia é a pluralidade das opiniões, visões, sem a homogeneidade da imprensa. Não há muitas diferenças na grande imprensa. É muito útil a internet, o que não significa que não há coisas falsas que venham dessas redes. Mas é a educação que dá à pessoa condição de ver e confrontar o que vê na internet e na televisão. Penso que hoje a internet dá uma possibilidade de mudança muito grande, por exemplo, pela complexidade. No México, há um curso de complexidade da educação virtual, com 25 países.
TV Brasil - O senhor tem se dedicado muito a pensar a política e tem feito a separação da política da civilização e da política da humanidade. Qual a diferença? Morin - A política de civilização luta contra todos os efeitos negativos da civilização ocidental. É para restabelecer a solidariedade, humanizar a cidades, revitalizar os campos. Cada civilização tem suas virtudes, qualidades, suas diferenças, isso é verdade também para a civilização ocidental. Também para as civilizações de pequenos povoados, como índios da Amazônia, conhecimentos de plantas, animais, arte de viver, novos curativos, como os xamãs. A política de humanidade é combinar o melhor de cada civilização, fazer um simbiose no nível do planeta onde o melhor do mundo ocidental, que são os direitos humanos, direitos da mulher, a possibilidade do individualismo - mas não do egocentrismo - que combine outras civilizações, onde há mais solidariedade. A questão é lutar contra os defeitos das civilizações e pegar o que há de melhor. Porque nas civilizações tradicionais não há só coisas boas como solidariedade. Há também dogmatismo, autoridade demasiada dos mais velhos, do homem sobre a mulher. A ideia é tirar o melhor de cada, não idealizar a civilização tradicional ou a ocidental. FONTE: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/06/22/materia.2009-06-22.4379220494/view |
NADIA, MAIS UMA ÓTIMA ESCOLHA ESTA ENTREVISTA DE EDGAR MORIN, COMO SEMPRE...Gostei qdo ele mostra a violência cotidiana na cultura. Jacques Derrida chama esta violência de terrorismo cultural.Impedir a fala do Outro, desrespeitar o ser humano em nome de jogos de poder...COM VC...PARABÉNS,SAUDADES SEMPRE...BEIJOS...
ResponderExcluirBoa tarde Glória!! que demais esta educação a distância!! quem dera a EAD fosse assim ....!!
ResponderExcluirAinda há muito o que se descobrir em matéria de educação a distância heimmmm Glória!!???
Este Derrida...nossa!! a desconstrução que eu adoraria conhecer a fundo! e Morin!!?? vc saberia dizer se Bruno Latour ....bom...como não se influenciar!? esta é a velha história do conhecimento, um diz uma coisas vem outro a seguir que consegue melhorar o que o outro dise antes!! rsrsrsss... GlÓRIA, aguardo as próximas aulas!!! EAD pela blogosfera é muito bom!! kkkk
abração Nadia (sua aluna)
(...)Edgar Morin (2001) e Bruno Latour (1994) nos esclarecem que somos definidos
ResponderExcluiratravés das mediações que tecemos, das trocas que produzimos, das conjunções que
compomos entre objetos, cultura, natureza, técnica, sociedade.
A própria tecnologia está repleta de sujeitos e também é fruto de trocas e relações
entre a natureza, a subjetividade, o social, o cultural, o econômico, o político etc. Para
ele, é impossível definir o humano através de uma essência e sim, através do incessante
processo de mediação que nos caracteriza. Latour define o humano como um
“permutador ou recombinador de morfismos”.
Essa leitura prevê que todo um universo “sociotécnico” está a nos envolver;
estamos inseridos num processo que opera uma mistura incessante de gêneros. Toda a
vida ocorre no meio, tudo transita, tudo acontece através de mediações, traduções,
bricolagens, interfaces. São através dessas trocas que somos definidos, e se assim o é,
não podemos pertencer a nenhuma essência ou substância pura, antes somos o resultado
de hibridizações e agenciamentos.(...)
FONTE : http://www.cchla.ufpb.br/culturasmidiaticas/pdf/01/09_julio.pdf.
(...)As novas tecnologias da comunicação e informação multiplicam os “não-
ResponderExcluirhumanos” e os “quase-objetos” envolvidos nesse coletivo reticular no qual estamos
imersos. As categorias estanques, os domínios homogêneos, os gêneros puros são
construções do projeto moderno que, através da separação entre natureza e cultura tentou expurgar toda a mescla, toda mistura, na tentativa de construir instâncias
classificatórias “objetivas”, erigindo pretensos sistemas estáveis e universais.
Nas trocas e permutas entre domínios heterogêneos é que somos “definidos”,
constantemente recompostos, reinterpretados. As grandes “verdades universais”, os
modelos lineares, os universos homogêneos, nasceram da tentativa dos modernos de
construir uma “imanência”. No projeto moderno, a ciência tinha como objetivo
purificar, dividir, categorizar todos os elementos para tornar possível contemplarmos os
“fundamentos” – a tão decantada razão imutável, verdadeira e organizadora de todas as
coisas. Percebemos, aqui, a grande pretensão do humanismo em colocar o homem como
centro do universo, entregando-lhe a tarefa de subjugar a natureza, de administrá-la e
conseqüentemente explorá-la; a razão cumpria o propósito de ensinar-nos a renegar
mitos, crenças, superstições para alcançarmos a objetividade proveniente da crítica e da
análise “verdadeira” dos fenômenos. Esta era a grande dádiva da ciência.
Latour (1994), nega a existência de uma ameaça tecnológica oriunda do
desenvolvimento tecnológico sem precedentes, apartado e exterior ao homem, que
colocaria em risco o próprio gênero humano(...)
>>>>GLÓRIA, da mesma fonte aí de cima!! e queria dizer que se os jornalistas antigos fossem tão ativos como vc nestas novas tecnologias!!... CARAMBA!!! seria extraordinário!!! abração Nadia