domingo, 9 de novembro de 2008

PROMETHEUS (JOHANN WOLFGANG VON GOETHE)

Encobre o teu céu,Zeus,

Com vapores de nuvens,

E, qual menino que decepa

A flor dos cardos,

Exercita-se em carvalhos e cristas de montes;

Mas a minha terra

Hás-de me deixar,

E a minha cabana, que não construíste

E o meu lar,

cujo braseiro

Me invejas.

Nada mais pobre conheço

Sob o sol do que vòs,o Deuses!

pobremente nutris

De tributos de sacrifícios

E hálitos de preces

A vossa majestade,

E morrerías de fome, se não fossem

Crianças e mendigos

Loucos cheios de esperança.

Quando menino não sabia

Para onde havia de virar-me,

Voltava os olhos desgarrados

Para o sol, como se lá houvesse

Ouvido para o meu queixume,

Coração como o meu

Que compadecesse de minha angústia.

Quem me ajudou

Contra a insolência dos Titãs?

Quem me livrou da morte

Da escravidão?

Pois não foste tu que tudo acabaste,

Meu coração em fogo sagrado?

E jovem e bom, enganado

Ardias ao Deus que lá no céu dormia

Tuas graças de salvação?

Eu venerar você? E por quê?

Suavizaste tu jamais as dores

do oprimido?

Exugaste jamais as lágrimas

do angustiado?

Pois não me forjaram Homem

O tempo todo-poderoso

E o Destino eterno,

Meus senhores e teus?

Pensavas tu talvez

que eu havia de odiar a vida

E fugir para os desertos,

Lá porque nem todos

Os sonhos em flor frutificam?

Pois aqui estou ! Formosos homens

À minha imagem,

Uma estirpe que a mim se assemelhe

Para sofrer, para chorar,

Para gozar e se alegrar,

E para não te respeitar,

Como eu!



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