Por Celso Lungaretti
Eles venceram o 1º round. Quantos outros recuos haverá? |
Como era esperado, a presidente Dilma Rousseff constituiu a Comissão da Verdade com os notáveis de sempre --aqueles que o sistema aceita como tais.
Como era esperado, vergou-se à pressão dos congressistas reacionários, que impuseram a condição de que nenhum antigo resistente integrasse o colegiado. O infame art. 2º, cuja inclusão eles exigiram para permitirem a aprovação da lei instituindo a Comissão, foi seguido ao pé da letra (o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim garante ter sido acordada também a investigação de crimes atribuídos aos resistentes, será que a pusilaminidade chegou a tal ponto?!).
Como era esperado, os compromissos da governabilidade pesaram mais na decisão de Dilma do que a coerência com a própria história de vida: quem sempre afirmou que os militantes se igualavam aos verdugos ("ambos cometeram excessos") é a pior direita que existe, a das viúvas da ditadura.
Ao
aceitar o veto aos que arriscaram tudo e tudo sofreram para combater o
despotismo, como contrapartida à não participação de militares, Dilma
endossou a posição dos Passarinhos e Ustras da vida. É lamentável. Fico
triste por mim, pelos companheiros que morreram e pelos que nunca mais
foram os mesmos depois do calvário nos porões; e envergonhado por ela.
Que me desculpe aquela que conheci em outubro de 1969 como Vanda, mas nunca mais a tratarei novamente por companheira presidente. Quem fez jus a tal distinção foi Salvador Allende, que morreu em nome dos seus princípios... revolucionários!
Para mim, doravante, será sempre Vossa Excelência, tal qual o José Sarney e o Fernando Collor, dentre outros ocupantes do Palácio do Planalto.
UMA PALAVRA FINAL
Sinceramente, eu já adivinhava que a Dilma não se comportaria como uma companheira presidente.
Tudo me levava a crer que ela se tornara apenas uma tecnoburocrata do
capitalismo, sem a mais remota aspiração atual de dar um fim à
exploração do homem pelo homem.
Agora
está confirmado: é mais uma política que joga o jogo segundo as regra
do sistema, não uma militante que entra no sistema para alavancar a
revolução.
Apesar das minhas intuições, fiz tudo que
podia para empurrá-la na direção dos ideais de outrora. É assim que
sempre ajo. Não desisto enquanto a batalha não estiver definitivamente
perdida.
Da mesma forma, quando a Comissão da Verdade
foi aprovada a partir da capitulação diante da bancada direitista no Congresso, lutei até o fim contra tal ACORDO PODRE, INDIGNO E ALTAMENTE INSULTUOSO PARA NÓS, OS ANTIGOS RESISTENTES.
Foi
este o motivo de me haver proposto como anticandidato. Tratou-se apenas
de uma tentativa de fazer com que a esquerda se unisse em torno da
exigência de um representante das vítimas.
Os algozes
não poderiam mesmo estar representados, mas a igualação no veto só seria
cabível em se tratando de grandezas equivalentes (aberração que só as
viúvas da ditadura defendem, tentando encontrar uma atenuante para as
atrocidades perpetradas). Ademais, aplicar a um processo de resgate
histórico as regras de um tribunal é rematada tolice.
Sempre achei que o mais adequado para o papel fosse o Ivan Seixas, tanto que constantemente o indicava como uma ótima possibilidade.
Sempre achei que o mais adequado para o papel fosse o Ivan Seixas, tanto que constantemente o indicava como uma ótima possibilidade.
Infelizmente,
uma parte da esquerda preferiu desqualificar de fora a comissão,
enquanto a outra parte, ou queria emplacar suas candidaturas
(compatíveis com tal limitação), ou se alinha automaticamente com tudo
que o governo faz.
Eu lutei como pude, por menores que
fossem as chances de mudar o que já estava pactuado; e, agora que o acinte
se consumou, estou batendo pesado, como sempre faço.
É travando
todas as lutas até o último cartucho que conseguimos vencer alguma,
mesmo se todas as condições são desfavoráveis, como no Caso Battisti.
De resto, o cenário que se desenha é o do parto da montanha produzir um rato: os militantes já cansaram de proclamar a verdade e os militares não terão motivo nenhum para abdicar da mentira.
A tendência é que se sistematizem as versões já conhecidas sobre as execuções e demais atrocidades da ditadura, pouco se avançando na descoberta dos armários em que eles guardaram os esqueletos --salvo se a Comissão pudesse ao menos ordenar a prisão dos comprovadamente perjuros.
Mas, é óbvio que isto não ocorrerá.
De resto, o cenário que se desenha é o do parto da montanha produzir um rato: os militantes já cansaram de proclamar a verdade e os militares não terão motivo nenhum para abdicar da mentira.
A tendência é que se sistematizem as versões já conhecidas sobre as execuções e demais atrocidades da ditadura, pouco se avançando na descoberta dos armários em que eles guardaram os esqueletos --salvo se a Comissão pudesse ao menos ordenar a prisão dos comprovadamente perjuros.
Mas, é óbvio que isto não ocorrerá.
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