20 Perguntas sobre Comissões de Verdade e Memória (CVM)
Carlos Alberto
Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
17 de maio
de 2012
1.
O que são comissões de Verdade e/ou
Memória e onde são instaladas?
As CVM são comissões formadas por cidadãos
aos que se reconhece vocação para a defesa dos direitos humanos e sensibilidade
para entender as violações desses direitos, sejam próprios ou alheios. Além
disso, requer-se objetividade, capacidade de pesquisa, e critérios não
desviados por interesses de grupo. São instaladas em países onde, algum tempo
antes, houve graves crimes contra a Humanidade praticados pelo estado, e pelas
corporações paralelas a este (parapoliciais e paramilitares, jagunços,
corporações, mercenários, etc.)
2.
Qual é sua Tarefa?
1)
Determinar a verdade sobre os possíveis crimes
contra a humanidade, estabelecendo se realmente
os fatos arguidos aconteceram na forma denunciada, e se possuem as
consequências e características que se supunham. Ou seja, a investigação se monta sobre a base de
denúncias (que, em alguns países, se acumulam durante anos sem serem
resolvidas).
2)
Quando se
comprova que os fatos a, b, c, ... são reais e que as denúncias são
verdadeiras, se cria um registro de
memória, uma base de dados que deve ser amplamente divulgada, e deve ser
utilizada para escrever a história
autêntica do que aconteceu. A verdade obtida fica assim na memória da sociedade. Uma medida
indispensável é que todos os setores da sociedade sejam educados na defesa dos direitos que foram violados. A memória
mostra por que essas violações foram
possíveis, e alerta sobre sua não
repetição.
3.
Há Muitos Casos de CVMs já instaladas
nos mundo?
Incluindo a agora inaugurada no Brasil, se conhecem 23
CVMs independentes. São, em ordem alfabética:
N Argentina
N Brasil
N Canadá
N Colombia
N Chile
N El Salvador
N Fiji
N Ghana
N Guatemala
N Kenya
N Liberia
N Morocco
N Panama
N Peru
N Filipinas
N Serra Leona
N Ilhas Solomon
N Africa do Sul
N Korea do Sul
N Sri Lanka
N Timor Leste
N Uganda
N Estados
Unidos
4.
Pode dar algum exemplo?
A mais próxima do Brasil, a mais
complicada, mas também uma das mais exitosas foi a da Argentina.
Em 1983, após sua derrota na guerra de
1982, as FFAA argentinas deveram abandonar a ditadura que exerciam desde 1976.
Os políticos, para não perder as vantagens de sua aliança com os militares,
fingiram acreditar que as FFAA tinham
cometido atos de violência porque tinham sido agredidas.
Os defensores de DH não aceitaram
esta mentira, e apresentaram milhares de denúncias, que representavam quase a
4ª parte do total de pessoas desaparecidas e exterminadas. (Eram 8.000
denúncias sobre mais de 30.000 vítimas).
Os civis lutaram durante 21 anos, até
conseguir os primeiros resultados, e puderam confirmar a verdade. As vítimas foram assassinadas não apenas para
evitar a oposição ou punir os inimigos: havia um plano de aniquilamento, que incluía sindicalistas, intelectuais
progressistas, grupos de esquerda, libertários e secularistas.
A luta armada já tinha sido dizimada
durante o governo peronista (1973-1975). Os militares queriam, segundo
eles, “extirpar as raízes do mal”, que,
segundo eles, estava na oposição às FFAA e à Igreja. Esse aniquilamento suponha
também a morte dos familiares diretos e amigos íntimos. É por isso que foram assassinadas tantas mulheres grávidas,
crianças, pessoas idosas e com deficiências.
5. E como se
registra a memória?
Depois da investigação, a memória se registra primeiro em publicações oficiais, como o Nunca Más da Argentina e em dúzias de
centenas de livros com relatos dos crimes militares. Os livros oficiais e relatórios impressos distribuem de maneira massiva e gratuita.
Na Argentina, a mídia foi fanaticamente defensora do
genocídio, mais que não Brasil, mas o genocídio argentino foi maior, e sua
defesa se tornou muito difícil.
Comparemos: neste documento (vide), que
parece confiável se diz que o número de desaparecidos
pela ditadura foram 379. No final dos anos 80, quando já tinha passado o
pior, Brasil tinha 122 milhões de Habitantes.
Na Argentina, o número de desaparecidos é
desconhecido, mas a estimativa mais aceita é de 30.000. (Há provas de que são
mais de 35.000, mas vamos aceitar a crença geral). Então, os desaparecidos no
Brasil são 0,00031 % e na Argentina aproximadamente 0,11%.
Inicialmente, a mídia argentina enalteceu o massacre, mas
deveu mudar de discurso em 1984, porque o tamanho dos crimes tinha produzido
numerosos inimigos dos militares. Havia cerca de 1 milhão de parentes e amigos
das vítimas, e 7 governos fazendo grande pressão internacional.
Foram filmados quase 100 filmes, alguns de muito
sucesso, programas de vídeo, documentários, se fizeram celebrações públicas. Foram
redigidos novos manuais de história. Vários centros de tortura e campos de
extermínio dos militares foram transformados em museus para lembrar sempre
aquelas atrocidades. Foram erigidos monumentos, foram afixadas placas, para que
nunca ninguém possa negar esses crimes. É
algo parecido ao que se fez com o genocídio nazista. Mas ainda há muito
para fazer.
Após a derrota militar na guerra, na Argentina teria sido possível (porém difícil) dissolver as FFAA,
mas os políticos nem pensaram nisso. Eles têm muito medo dos militares e se
beneficiam de sua “proteção”.
6. As CMVs são uma
espécie de tribunal popular? Fala-se que na Argentina a CONADEP promoveu os
julgamentos.
Não. Elas não julgam. Elas investigam a verdade e, quando obtém um dado
verdadeiro, o publicam e registram. Depois, criam arquivos, sejam escritos,
orais, multimídia, monumentos, etc., para que esses dados fiquem na memória da
sociedade.
A CONADEP (o equivalente da CVM) conseguiu todas as provas em 7.000
casos que eram um quinto do total, mas já era bastante. Depois, o governo,
muito pressionado, entrou na justiça com um pedido de julgamento dos
comandantes das juntas militares. Foi a justiça federal que condenou alguns
militares (algo menos de uma dúzia) a diversas penas de prisão, em 2005.
7.
Mas, o que acontece quando há uma lei
de Anistia?
Continuando
com o exemplo: depois que os militares argentinos foram julgados, e alguns
poucos condenados a prisões longas, o governo se assustou. Em um ano, os
militares promoveram 3 rebeliões e, em cada uma delas, o governo foi ficando
cada vez mais de joelhos.
Em 1987 e,
apesar do repúdio geral, políticos e magistrados inventaram leis para que os
assassinos e torturadores não fossem investigados mais. Isso foi muito mais
forte que uma anistia. Foi uma lei de intocabilidade.
Os parentes das vítimas lutaram duramente desde 1987 até agora.
Só em 2003,
com a mudança do judiciário, conseguiram declarar as anistias absolutamente viciadas e ilegais.
Atualmente,
algo como 100 criminosos militares e policiais estão presos. Eles representam
cerca de 1% do total de executores, mas já é um grande sucesso, comparado com
outros países.
8. Mas, no
Brasil a Anistia foi protegida por uma decisão do STF? Aqui há possibilidade?
Sabe-se que o
direito humanitário internacional permite que qualquer lei claramente
iníqua seja
declarada inexistente. Aliás, o
Parlamento sempre pode fazer uma nova lei que elimine à anterior. O Congresso
pode fazer uma lei absolutamente nova, com outros termos, que derrogue a de
1979.
O STF disse
que a lei devia proteger também os torturadores. Qualquer que seja a razão do
STF, ele se referia a uma lei existente. Se essa lei for anulada por outra, a
situação deve mudar.
Se a Suprema
Corte de Alemanha tivesse anulado os julgamentos de Nuremberg, será que os
amigos de Hitler teriam andado pelas ruas até agora, abrindo novos campos de
concentração e matando os judeus que ficaram?
9.
E que acontece se um estado não
obedece as exigências internacionais, como aconteceu várias vezes com a
Comissão de DH da OEA?
Aí estamos no
limite do possível. Como sabemos, a política internacional é um jogo de
interesses. Mas, se a OEA não é obedecida, deve tentar-se as Nações Unidas, em
especial, o Tribunal Penal Internacional. Em alguns casos, é formado um
tribunal especial como os da antiga Iugoslávia e Ruanda.
Teoricamente,
essas cortes teriam direito a propor ações físicas contra os países, mas o Conselho
de Segurança prioriza as vantagens políticas sobre a justiça. Então, os
resultados têm sido poucos. Por exemplo, o massacre de Ruanda de 1994 (900.000
mortos) poderia ter sido evitado se o CS da ONU não tivesse abandonado o
general Dallaire que dirigia a força da paz.
10.
Algumas Comissões de Verdade, como a
da África do Sul, se chamam também de Reconciliação? Isso é válido?
Na África do Sul o racismo branco criou
um confronto perverso entre negros e brancos. Esse confronto devia ser dissolvido,
porque raça não tem nada a ver com ideologia ou com ética. Era um conflito
ilegítimo. O mesmo valeria em caso de nacionalidades ou religiões. São
ilegítimos os casos de confronto quando a inimizade é gerada entre grupos definidos
por raça, nacionalidade ou religião, que não têm nada a ver com ética.
Não há nenhum sentido num confronto
entre negros e brancos. Aliás, alguns brancos boers abraçaram a causa contra o racismo, e ajudaram aos negros.
Não foram maioria, mas houve alguns.
Nos casos em que o confronto é entre
corporações ou ideologias, a questão é diferente.
Na América Latina, os autores dos
crimes pertenciam a certas corporações, e estas apoiam os crimes de seus membros. Então, aqui há uma
oposição real.
Você não pode dizer
·
“Este
cara é meu inimigo porque é japonês”.
Mas você pode dizer:
·
“Este
cara é meu inimigo, porque é nazista”.
Se alguém criou um conflito entre
brasileiros e ingleses, por exemplo, esse conflito é racista e deve ser
dissolvido, procurando a reconciliação.
Mas se uma corporação atacou um grupo humano, este têm motivos para sentir repulsa contra os membros dessa corporação.
Isso não é vingança. É um natural sentimento de nojo ante criminosos tão
brutais.
Você pode reconciliar-se com aqueles
membros da corporação que não participaram nos crimes ou que mostrem
autocrítica (se isso existir).
Mas, será que você pode
reconciliar-se com um grupo que matou e torturou membros de sua família???
Se for capaz disso, pode ser
considerado uma pessoa especial.
Mas, qual é o objeto disso. Qual
seria o motivo para você ficar amigo de alguém que gostaria matar você?
Insiste-se muito na idéia
de reconciliação, porque, para a
direita, a diversidade é um perigo. Eles odeiam mentes livres. Por isso, sempre
propõem coisas como unidade nacional,
integridade territorial, unificação
de credos e de opções sexuais, etc. É o totalitarismo.
11.
Alguns dizem que essas comissões são
revanchistas
Revanchista é
aquele que quer retaliar, tomar vingança. Vingar-se é fazer que teu inimigo
sofra. A revanche é típica de pessoas supersticiosas, fetichistas, que
acreditam no pecado e no castigo. É o que se chama feudo de sangue. Revanchismo é o dos torturadores e genocidas. Não
por acaso a vingança é um valor exaltado por corporações armadas, grupos místicos
e máfias. Nenhuma lei moderna fala em
vingança.
Uma CMV quer apenas que as pessoas
responsáveis por crimes de lesa humanidade deixem de ser perigosas. Que nunca
possam repetir seus ataques. Especialmente, pretende impedir que passem a tocha
a seus sucessores para criar uma nova geração de criminosos, como acontece em alguns lugares.
Para isso, pode acontecer que os
algozes devam ser afastadas da sociedade, mas também pode ser que fiquem em
liberdade, caso se tenham tornado inofensivos.
12.
Têm razão os que dizem que precisamos
virar a página?
Como disse o juiz espanhol Baltasar
Garzón, quando você decide virar uma página deve ler o conteúdo dela antes de
virar. Se não for assim, sempre voltaremos ao passado para ver como era essa
página. Você pode e deve virar a página do ódio, da vingança, do rancor, mas não pode virar a página de justiça. Aliás,
se você vira a página do livro da história, lembre de colocar o conteúdo no computador.
Se você apaga a história, você priva
todas as gerações de saber o que aconteceu. O estudo da história deve ter o
objetivo inverso ao que têm atualmente: não é para venerar os tiranos do
passado, mas para advertir sobre os horrores que aconteceram e evitar casos
futuros.
Você pode dizer: aqui não aconteceu
nada, somos todos irmãos, algumas torturas, assassinatos, estupro... tudo isso
é bobagem... , devemos aceitar o castigo de Deus...
Bom, se alguém leva a sério este conformismo,
continuará havendo massacres. Argentina teve, desde 1930 até 1976, seis
ditaduras. De 1984 até agora, não houve nenhuma outra. Apesar do modesto das
punições (apenas 1% do total), foi muito mais que em outros países. Os
militares não saberiam, pelo menos por enquanto, como organizar o 7º golpe.
Isto pode servir como um alerta, embora nunca se possa dizer “temos paz”,
enquanto os estados não tenham a coragem de destruir as instituições
belicistas.
Nos países onde se “virou a página”
continua havendo crimes contra a humanidade, mesmo se não houver novo golpe de
estado. África em geral é um grande exemplo.
13.
As Comissões de Memória e Verdade podem
evitar novas atrocidades no futuro?
Podem, mas dependem de que estejam
bem conduzidas. Por exemplo, quando morreu Stalin, o Partido Comunista
Soviético fez uma espécie de Comissão de verdade, mas muitos dos criminosos que
atuaram sob o estalinismo continuaram em seus postos. Você deve usar as
Comissões para educar a sociedade.
Se não muda a mentalidade da
sociedade, de aqui a 10, 20 ou 50 anos poderá haver uma nova ditadura em muitos
países. Para isso, é necessário modificar radicalmente
as instituições. Novamente, o exemplo soviético serve neste caso. Hoje a Rússia
tem uma relativa imitação de democracia, muito pobre, mas isso foi porque
Gorbachev, durante a pierestroica, mudou algo as
instituições repressivas. Ora, como ele não tinha apoio para fazer uma reforma
total, algumas coisas se mantêm parecidas, mas se percebe uma diminuição da
repressão.
14.
Alguns criticam as comissões porque
dizem que tanto o estado como as vítimas tem sua quota de culpa.
Isso se fala em muitos países, mas é ridículo.
A resistência ao despotismo é, não
apenas um direito positivo aceito em vários documentos históricos, mas,
especialmente, um direito natural.
Pode acontecer, porém, que um grupo de cidadãos promova a violência sem motivo
justificável. Mas, nesse caso, a resposta do estado deve estar dentro dos
recursos legítimos. Qualquer forma retaliatória ou terrorista é radicalmente
ilegítima e torna a missão do estado inviável.
Os crimes cometidos pelo estado são
ilegítimos por natureza, já que estão em contradição com sua suposta função
civilizadora. Além disso, a repressão estatal é quase sempre mais cruel que a
rebelião. Isso inclui até a própria Grã Bretanha, onde houve abusos contra os
revolucionários irlandeses. Fala-se muito das vítimas de ambos os lados. Quantos foram as vítimas que as FFAA dizem
ter tido????
Por outro lado, os crimes do estado
tem maior impacto, muito maior poder de replicação, letalidade massiva, e
atacam a humanidade em seu conjunto. Daí o nome “crimes contra a humanidade”.
Um grupo rebelde não tem esse poder, salvo que se constitua em estado paralelo.
15.
Alguns criticam as comissões porque
não incluem os representantes das instituições repressoras
As Comissões querem averiguar a verdade, mas se
instalam onde JÁ SE SABE que
houve terror estatal. O objetivo da pesquisa é saber sua intensidade. Por que
não se instala uma Comissão da verdade na Suíça? Porque não se conhecem aí
casos de terrorismo estatal, mesmo que nenhuma sociedade seja perfeita. As
pesquisas das CMV não são pesquisas jornalísticas que têm um “contraditório”; é
um método para denunciar o desequilíbrio entre agressores e vítimas. Se o
estado tivesse atuado legitimamente, e ele tivesse reprimido as revoltas dentro
da lei, os autores de abuso por parte dos revolucionários (caso houvesse) já
estariam punidos. A CMV é para anular a impunidade
que dá o estado repressor, não para que as vítimas da repressão sejam vitimadas
mais uma vez.
Os que falam de crimes
de ambos lados, o que querem fazer, simplesmente, é justificar os crimes dos militares, e punir, se puderem, mais uma
vez suas vítimas.
16.
Mas, que acontece quando algumas das
chamadas vítimas cometeu abusos contra o estado?
Isso aconteceu em alguns países, mas o espaço para
apurar os delitos desses particulares que atuaram injustamente contra o estado,
é a própria justiça do estado. O ativismo de direitos humanos não é para
substituir a justiça comum nem a polícia: é para denunciar os poderes públicos,
pois, salvo em países muito democráticos (como a Noruega ou a Finlândia, por
exemplo), os membros do poder público tem muita impunidade, até na Europa e nos
EEUU.
17.
Mas, há exemplos de pessoas e grupos
que se revoltaram contra ditaduras e eles próprios cometeram atos de terrorismo
e abuso?
Isso aconteceu em alguns países. Entretanto, o
objetivo da justiça não deve ser a vingança, mas a neutralização do agressor.
Estas pessoas geralmente se tornaram inofensivas após a queda das ditaduras que
combatiam. Aí já não tem mais sentido. Na Argentina, o governo democrático que
subiu em 1983 e abriu a Comissão de Memória (CONADEP), também pediu a captura
de alguns chefes guerrilheiros que tinham cometido abusos, mas isso era
desnecessário porque eles tinham abandonado as armas. Puni-los seria apenas
vingança. Salvo em dois casos, eles não tinham condições de realizar atos de
violência novamente. Foi apenas para conformar os militares, que, apesar disso,
nunca ficaram satisfeitos. Eles não queriam justiça nenhuma, queriam continuar
o extermínio.
18.
Ora, que acontece num caso onde
grupos que, além de opositores armados a uma ditadura, eram reais terroristas, e
pretendem seguir atuando durante a democracia?
Isso pode
acontecer, mas é infrequente. Nesse caso, os atores devem ser processados com
todas as garantias da lei, em função dos
novos atos de violência, mas não dos que foram exercidos contra a ditadura.
Uma democracia também tem direito de processar os que cometeram atos de terror
injustificado, que afetaram pessoas não
vinculadas com a ditadura que combatiam. Mas nada disso se aplica as atuais
CVM.
19.
Como se faz para que as corporações se
submetam à justiça? E que acontece se o judiciário os protege, como fez o STF?
A única solução é tentar a ação internacional. Mas,
isso possui por enquanto muitas limitações. O poder político geralmente tem
medo das corporações armadas. O que não deve esquecer-se, mesmo que seja a
nível individual, é manter sempre as pessoas esclarecidas. Em geral, as novas
gerações parecem ser mais conscientes que as outras. O objetivo é que, algum
dia, todas as pessoas atuem sem preconceitos, e os propugnadores da violência e
o militarismo percam todo o apoio. Isso pode acontecer... se o mundo durar o
suficiente.
20.
As CVM que existiram até agora têm
dado certo?
Algumas sim, mas isso foi porque a população afetada
se organizou e atuou de maneira sistemática, com métodos pacíficos e
esclarecedores. Alguns governos, como o de Mandela, também têm o mérito do
sucesso dessas comissões, mas estes casos são raros. Para o pragmatismo político,
é mais útil um carrasco que uma vítima.
Mas a população deve mobilizar-se.
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