Hackers e Resistentes
Carlos A. Lungarzo
Em 1968,
o líder negro americano caribenho Kwame Ture (1941-1998), mas conhecido como Stokely Carmichael, referiu-se
otimistamente às enormes revoltas dos afrodescendentes que colocaram várias
cidades do norte dos EEUU à beira do colapso, como reação contra o racismo da
sociedade americana. Atribui-se a ele esta frase:
“Os EEUU conseguem matar milhões de vietnamitas porque os atacam desde
fora. Mas, nós [negros] estamos dentro de seu país, misturados entre eles, e não
podem nos bombardear sem atingir também sua própria gente”.
No momento atual, essa frase de Stok
é de crucial importância. As corporações americanas estão tratando de afogar a
liberdade que oferece a Internet, secundados por seus mais vermiformes
subservientes da América Latina, como os propugnadores de uma lei brasileira
chamada por seus inimigos de “AI5 cibernética”, em lembrança do Ato
Institucional número 5 da ditadura militar, que cortou absolutamente todas as
liberdades.
Mas os resistentes a esta opressão contra a liberdade de informação não
podem ser assassinados massivamente como iraquianos e afegãos, pois não estão
num único espaço físico e não são diferenciáveis pela cor de pele, nem pelo sotaque
nem pelas vestes.
Os revolucionários da Internet estão
em todas as partes, como os negros americanos dos anos 60 e, ainda melhor, eles
ocupam espaços em diferentes países, podendo formar uma rede de solidariedade
como jamais teria sido sonhada há 30 anos.
A idéia de escrever este artigo
apareceu em minha mente após ler o post de hoje de Celso Lungaretti sobre o site Megaupload,
um texto curto, mas excelente. (Vide)
A Batalha da
Internet
Faz
tempo que setores de direita das Américas e da Europa querem amordaçar a
Internet. As razões são múltiplas. Por um lado, está o argumento de que os
internautas que baixam música e filmes para uso pessoal, sem interesse
comercial, podem levar à falência as grandes empresas gravadoras e de cinema. Para
tocar a sensibilidade pública, os autores deste apelo ainda acrescentam que esses
internautas prejudicam os autores, porque estes não recebem direitos quando os
clientes “roubam” em vez de comprar.
O respeito pelo autor seria justo em
muitos casos, mas acontece que os que mais precisam desses direitos (que são o
99% de autores desconhecidos que não recebem fortunas por seu trabalho),
justamente são aqueles ludibriados pelos empresários, que, pelo menos no Brasil,
quase nunca pagam sua porcentagem. Eu pessoalmente decidi colocar vários livros
meus na Internet (textos sobre lógica, matemática, e o dez vezes editado O Que é Ciência), quando vi que meus
direitos de autor por mais de 30.000 exemplares eram furtados pelo grupo
familiar que dirige a editora que os publicou.
Mas, há outros motivos para o novo
nazismo cibernético. Para o capitalismo, tão importante como o benefício
econômico é o poder de controlar opiniões, de censurar, de cercear a propagação
das idéias libertárias, de continuar impondo superstições, crendices, slogans,
evitando que a população se eduque, pois, pela primeira vez, países como os da
América Latina têm uma oportunidade (ainda remota, mas viável) de tornar
esclarecidas as massas hoje mantidas na desinformação.
Importante também para o fascismo
neoliberal é a formação de um catálogo de possíveis inimigos, de pessoas que
denunciam abusos, que propõem uma sociedade mais humana, que defendem
perseguidos, etc. O pretexto de cuidar os direitos de autor e de evitar os
roubos informáticos de bancos (sic!) foi usado pela máfia Brasileira da “AI5
cibernética” para justificar a identificação
de todos aqueles que entrem na Internet. Isto seria o maior elenco de
possíveis vítimas que nem a Inquisição, nem o Nazismo, nem o Macartismo, se
tivessem podido trabalhar juntos, jamais poderiam ter obtido.
As campanhas pela Internet não
penetram ainda em todos os meios, porque modificar o paradigma de comunicação
talvez não seja possível em duas gerações, mas elas têm-se mostrado poderosos
aliados das causas nobres. A defesa dos direitos humanos, da ecologia, dos
direitos dos animais, do pacifismo, do antirracismo, do antifascismo, do
combate contra o estado policial/militar, etc., são hoje objetivos mais
visíveis do que eram 10 anos antes.
Por sua vez, as causas mais sujas,
como o racismo, o belicismo, o ódio, etc., não se beneficiam tanto da Internet,
embora devamos colocar atenção nos perigos deste fenômeno, e exigir do Ministério
Público que se tomem as medidas já previstas em lei contra mensagens de ódio.
A Internet não é tão útil à direita,
porque, por um lado, ela dispõe da mídia convencional, muito mais clássica e
contundente, que entra em todos os lares e só precisa a vocação do público de
se intoxicar passivamente. Mas, por outro lado, embora a WWW faça possível que pessoas desconhecidas e sem nenhum poder
social divulguem seu pensamento, não fabricam
o pensamento, pois este deve ser fornecido pelo usuário. Então, a direita,
órfãa de pensamentos coerentes, fica esperando que a própria Internet fabrique
suas matérias.
Um fato muito evidente durante a luta
pela não extradição do escritor
italiano Cesare Battisti, foi que, embora os blogues de ódio se multiplicassem
e se enchessem de palavrões e pieguices demenciais, a maioria deles apenas era
lida pelos que já pensavam daquele jeito e simplesmente encontravam nesse lixo
um espelho para suas próprias taras.
Era como masturbar-se vendo a própria
imagem, o que, para sermos justo, só vale se a pessoa se considera atraente
para si mesma. Como alguns desses fascistas tinham certa autocrítica, decidiram
abdicar desta contemplação e poucas vezes entraram naqueles sites infetos.
Por causa da possibilidade (ainda
incerta) de que o Congresso americano aprove duas leis de policiamento de
Internet (SOPA e PIPA), vários sites importantes, dos quais o mais gigantesco é
o da Wikipedia, decidiram um
“apagão” durante o 18/01, como protesto contra o que poderia ser, se aprovado,
o maior projeto mordaça na Internet.
Mas, com ou sem SOPAS e PIPAS, o FBI
continuou sua provocação, fechando o valioso portal de Megaupload, e prendendo quatro de seus coordenadores.
A resposta dos resistentes da
Internet não se fez esperar (vide). Um grupo autodenominado Anonymous (vide) se atribuiu a desconexão de sites
do Ministério da Justiça, do FBI e de empresas de Copyright dos EEUU, numa ação de envergadura ainda nunca vista no
ciberespaço, que atingiu redutos considerados inexpugnáveis e, segundo foi
difundido pelos autores, mobilizou mais de 5.300 voluntários.
O sistema defensivo dava a
oportunidade de colaborar a pessoas que não teriam o know how e talvez tampouco desejassem assumir o risco de agir
diretamente: Anonymous exportou livremente links
que podiam ser voluntariamente clicados (se quisessem), por aqueles que os
recebiam, colocando o fluxo de sua máquina na corrente de ação contra os servidores
dos algozes.
É bem sabido que a Internet reúne o
maior conjunto de voluntários por causas nobres, entre os que se contam
excelentes especialistas em informática, capazes de responder com eficiência ao
fogo destrutivo disparado por instituições cujo poder financeiro e operacional
é infinitamente maior.
Este assunto merece um
esclarecimento. Para a maioria da população, um profissional da computação é
identificado com um jovem que gastou a totalidade de seu salário com as
mensalidades de uma faculdade de centésima categoria, para obter um diploma que
lhe permite fazer alguns ajustes num sistema operacional, desenvolver um software administrativo, e reproduzir,
por exemplo, um pacote para espionar os moradores de num prédio. Estes jovens
estão a soldo de empresas de todos os tamanhos que lhes pagam apenas o suficiente
para que se sintam sábios e importantes.
Mas, muitas pessoas ignoram que há
milhares de jovens esclarecidos, apaixonados não pelo aspecto nerd da computação, mas pelas grandes
possibilidades que a informação oferece para melhorar nosso planeta, e que
atuam, seja em grupo, seja individualmente, como antídotos contra a poluição
mental disparada desde os grandes provedores das empresas de telecomunicações.
Um fenômeno como Wikileaks não poderia ter surgido de um grupo de yuppies interessados em desenvolver “shells” para bancos, ou sistemas de
tempo real para o exército americano (que, dito seja de passagem, de vez em
quando falham e acabam gerando “fogo amigo”). Tampouco são matemáticos ou
computólogos que vendem pacotes financeiros de eficiência inverificável a
investidores inescrupulosos e ignorantes (mas com muito dinheiro).
Wikileaks surgiu
de um grupo de intelectuais, cientistas, jornalistas e, especialmente,
ativistas de direitos humanos, ecológicos e da informação, de muitos países
diferentes. Entre eles há grandes experts
em computação, alguns dos fundadores do Fórum Social Mundial, dissidentes chineses e de outras ditaduras,
etc., todos os quais (cerca de 2000) são voluntários. Eles entraram na
organização não por hobby, mas seriamente
preocupados pela falta de liberdade e direitos no planeta. A organização não
cultua nenhum sectarismo e deixa conhecer o material que obtém (preservando a
fonte) a algumas agências e órgãos da mídia (a minoria séria e bem
intencionada), que respeita a liberdade de opinião. (Para mais detalhes, vide)
A importância de Wikileaks foi
diminuída com azedo despeito por alguns jornalistas brasileiros que disseram
que “não havia nada de novo” naquelas propostas da nova ONG. Mas seus patrões
americanos, geralmente melhor informados, não participam deste ufanismo. Não é
por acaso que durante anos Julian
Assange é perseguido pelos EEUU, em cumplicidade com parte de judiciário
sueco e dos tribunais britânicos, e que membros do partido Republicano dos EEUU
tem proposto a pena de morte para ele.
Nenhum é tão importante como
Wikileaks, mas há outros grupos de defensores da liberdade na Internet que
trabalham ativamente. Não só é necessária a existência de grupos que podem
difundir abundante informação confidencial, mas também grupos de ação que
preparam os contra ataques contra governos e empresas que tentam matar essa
liberdade.
Como os grupos de direitos humanos
(os autênticos), as organizações Verdes, os partidos Piratas (iniciados na
Suécia), as ONGs pelas liberdades sexuais, pela defensa das crianças e das
mulheres, os grupos antirracistas e outros, estes resistentes da Internet fazem parte de uma esquerda humanista muito
diferente dos velhos partidos.
O Que é um
Hacker?
O termo hacker foi demonizado pelo sistema capitalista e seus ideólogos e
usado como desqualificação, da mesma maneira em que palavras como subversivo e terrorista são aplicados a qualquer que luta contra a opressão
social ou, ainda, contra quem se manifesta contra ela, mesmo sem fazer nenhum
ato físico.
De acordo com o dicionário da gíria hacker, um hacker é alguém interessado em computação que tenta explorar ao
máximo as possibilidades dos sistemas programáveis, analisando de maneira
profunda sua estrutura, em oposição à atitude mais comum na maioria dos
usuários, que é conhecer o indispensável.
Os hackers fazem parte de uma subcultura do mundo da informação, e
geralmente se identificam com:
: A liberdade de expressão, de informação, de distribuição do conhecimento e de
acesso às fontes.
: A defesa de privacidade dos que fornecem informação, mantendo se sigilo, caso
estes entendam que podem sofrer retaliação.
: A transparência de todos os atos públicos, e a cobrança dessa
transparência dos poderes estabelecidos.
: O combate à comercialização do conhecimento, a censura, e ao patenteamento do
conhecimento científico e natural.
: A unidade dos que defendem a informação e a aquisição de consciência através do contato internacional contínuo,
considerando desprezíveis barreiras políticas, fronteiras nacionais, e outros
artifícios criados por interesses políticos, econômicos, militares e
religiosos.
Entre os grandes movimentos hackers
estão aqueles que criaram o software
livre, algo que o Brasil se recusou a adotar, preferindo as engenhocas da
Microsoft, cuja compra foi mais lucrativa para os funcionários encomendados
para realiza-la.
Linus (Luis Benedito) Torvalds, grande pesquisador nórdico, inventor
de uma versão flexível de linguagem Unix (o LINUX) é um dois hackers mais
conhecidos.
Legítima Defesa
Parece
justo na maioria dos casos que, se alguém está mirando em tua direção para te
matar e você tiver a oportunidade, possua o direito de se defender, mesmo se a
defesa for letal para o atacante. Mas, como qualquer ação letal é desagradável,
se você for atacado, pelo menos tem o
claro direito de destruir a arma de seu inimigo, caso tenha suficiente
pontaria e rapidez (como sabem os que assistiram muito faroeste na infância
onde o mocinho faz estourar o Colt do bandido).
Na guerra internética, a questão é
ainda mais clara. Se alguém esmaga teu direito à informação, à educação, ao
desenvolvimento da tua inteligência, você tem todo o direito de destruir a arma
com a qual se consuma esse ataque. E, melhor ainda, neste caso você sabe que
não matará nem ferirá ninguém. Apenas fará cair os lucros desaforados dos
representantes do fascismo de mercado.
E, se seu exemplo se disseminar, talvez dentro de algumas gerações se consiga
derrotar totalmente o monopólio capitalista da informação, e se tenha uma verdadeira sociedade da informação, que
é o oposto exato do processo de “poluição de cérebro” (quem disse “lavagem”?)
que faz a mídia.
Para acabar com a resistência
internética, os recursos dos empresários e seus aliados políticos e militares
são insuficientes, porque não há maneira de comprar as mentes mais autênticas
(que são muitas mais do que os feitores capitalistas acreditam). Eles investem
bilhões em estruturar a Inteligência
Artificial e conseguem alguns triunfos, mas isso é insuficiente, porque se
precisa também a inteligência natural e a sensibilidade biológica. É verdade
que essa inteligência pode resolver muitos problemas trilhões de vezes mais
rápido que o mais talentoso dos humanos, mas os problemas resolvidos são sempre
os que não requerem de criatividade.
O caso mais conhecido para o grande público, que causa sempre confusão, é o do xadrez.
Hoje ninguém pode ser tão desafiante
como David Levy, o enxadrista que, em 1978, pensava que poderia vencer qualquer
computador futuro. Muitos antes disso, em 1913, o matemático alemão Ernst Zermelo provou que jogos como o
xadrez são algorítmicos, de modo que o jogador que começa o jogo (caso nunca cometesse um erro, e excluindo a
possibilidade de empate), deveria ser o primeiro em dar mate. (Uma versão deliciosamente
simples e elegante para público no profissional do teorema de Zermelo pode
ver-se aqui).
Para construir uma máquina invencível
pelo homem, o problema é conseguir a velocidade suficiente para cumprir os
tempos oficiais (que o jogador humano pode aproveitar melhor por sua capacidade
intuitiva), o que requer, no final da linha de produção, um planejamento que só
pode ser feito por uma inteligência
humana. Essa máquina talvez já esteja sendo construída, pois desde a Deep Blue (o supercomputador IBM que
jogou contra Garry Kasparov em 1998),
os progressos têm sido rápidos e frenéticos.
Além do xadrez, os computadores podem
vencer os humanos em muitos aspectos. Isto, às vezes apresentado como grande
descoberta por charlatões e escritores de (pseudo) ciência ficção, não é
nenhuma novidade. Já os babilônicos descobriram que as máquinas podem ser
superiores ao homem em muitos aspectos... como lançar projéteis, por exemplo.
Mas, em qualquer paradigma viável de Inteligência Artificial, um robô não
pode ter iniciativa. Quando isto for possível (se for), como nos romances de
Asimov, será porque teremos dado um salto qualitativo e aí haverá um novo conceito de ser humano. Mas, estes
novos humanos também terão sensibilidade e, embora feitos de chips e não de
neurônios, também se revoltarão contra seus tiranos como os “humanos
convencionais” fazem. Por sinal, Asimov não
mostra a possibilidade de um mundo de homens mecanizados, mas de máquinas
humanizadas...
A inteligência não é garantia de
honestidade nem de bons propósitos. Como contraexemplo está o terceiro maior
cientista do século 20 (Werner Heisenberg), que fora partidário do nazismo. O
dogma de que a virtude e o saber vão juntos é uma herança platônica,
sacralizada por Santo Tomás. Talvez ele tenha inventado esse slogan para consolar-se pela falta de
neurônios nas cabeças de seus colegas de devoção.
Mas, a inteligência global de um
sujeito não deve ser confundida como a capacidade específica para um tipo de
ação que requer uma rotina ou uma forma parcializada de concentração mental
(como tem o cientista ultra especializado, o jogador de xadrez ou aqueles
agentes de CIA que conseguem decorar mais de mil números de telefone).
Estou pensando na inteligência total,
aquela que permite discernir a verdadeira estrutura da realidade, incluindo, é
claro, a realidade social com suas relações de dominação e resistência. Esse
tipo de inteligência conduz, inevitavelmente, a entender que qualquer forma de
dominação por classe ou corporações é desumana, e se existem algumas mentes
brilhantes que se vendem ao sistema, isso acontece porque a sensibilidade e a
inteligência do sujeito é derrotada por sua própria ambição.
Mas, a experiência mostra que há
grande quantidade de pessoas realmente inteligentes que não vendem seus
neurônios ao capitalismo e que encontram sua verdadeira satisfação em se
proclamar livres.
Casos de grandes talentos, como os do
grupo Manhattan, que colocaram sua inteligência ao serviço da barbárie militar
ou policial, são exceções. Como todos sabem, Einstein se arrependeu de ter sido
apenas um peão no tabuleiro do Pentágono, e justificou sua colaboração com os
militares (aos que dedicou numerosas amostras de desprezo em suas obras
sociológicas) por causa de seu terror ao nazismo.
É verdade que há numerosos
matemáticos e físicos que trabalham em projetos dos exércitos ou das políticas,
mas eles são quase sempre mentes doentias, ou então, medíocres tecnocratas sem
nenhuma criatividade que encontram em seus patrões não apenas dinheiro, mas um
reconhecimento que nunca teriam na comunidade científica. Não é por acaso que a
história registre com detalhe os grandes cientistas que se entregaram, por
dinheiro, vaidade ou fanatismo, a projetos destrutivos. Eles podem ser lembrados porque são poucos. Entretanto, se fizermos
uma lista dos grandes cientistas italianos do século 20, veríamos que mais de
80% eram de esquerda.
O caso de Brasil é bem claro: os
grandes físicos brasileiros, como Mário Schemberg, Leite Lopes e muitos outros,
foram devotados ativistas pelo socialismo e os direitos humanos e sofreram a
maníaca perseguição das casernas, enquanto os postos científicos nas áreas
bélicas e repressivas foram cobertos por tecnocratas inexpressivos, que
galgaram secretarias, reitorias e empregos de dedos duros. Por sinal, a
dispersão e aniquilamento desses talentos por militares e fascistas (incluindo
o Estado Novo), explica por que o Brasil nunca teve um prêmio Nobel, apesar de
enorme excelência destes pesquisadores. Em síntese: cientistas mercenários há
muitos, mas os de grande talento são poucos. Os mais talentosos são quase todos
progressistas, e eles são os que criam ferramentas de defesa contra a ofensiva
tecnológica da direita.
Estas considerações otimistas não impedem de pensar que as elites
podem acabar ou cercear a liberdade na Internet. Eles não têm a racionalidade,
mas têm abundante força bruta.
Mas o preço para fazer isto deveria
ser muito alto. Se fosse instalado um sistema de censura rígida como em
ditaduras truculentas, tipo China ou Irã, com certeza mesmo os setores de
centro-direita se oporiam. O caso de Cuba mostra que um sistema medianamente
autoritário, que possua alguns limites, não pode impedir a sobrevivência, mesmo
dura, de alguns blogueiros independentes. Precisa-se de uma violência ainda maior
para calar qualquer resistência.
Portanto, os que tenham condições ou
vocação pela informática e estejam dispostos a ajudar a construir um mundo
melhor, o melhor que podem fazer é
juntar-se aos hackers da resistência, porque, ao combater com os métodos de
controle e repressão das empresas de comunicações e seus governos títeres,
farão possível a difusão de comunicação e, portanto, da consciência.
Em alguns anos, o mundo terá vários
milhões de hackers, e cada vez o sistema terá mais dificuldade em combatê-los.
É uma alternativa duríssima, mas vale o risco: o mundo oscila entre voltar à
repressão feroz do nazismo, mas agora muito mais letal, e a possibilidade de
tornar-se uma grande comunidade humanitária.
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