segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E AGORA, LULA?

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A ambígua política de relações exteriores do governo Lula, desde o seu primeiro mandato, faz com que neste momento de tensão e probabilidade de guerra entre Venezuela e Colômbia o governo não saiba exatamente a quem apoiar ou que posição tomar. É um governo de tendência claramente neoliberal, ou seja, um governo capitalista que defende a liberdade de mercado aliada à desestatização.

      Ao mesmo tempo, finge ser um governo de “esquerda”, baseando-se no fato de que Lula é de um partido que já ameaçou ser de esquerda, mas preferiu aderir ao modismo keynesiano na economia, ao neoliberalismo, afastando-se de qualquer possibilidade de socialismo. Nesse sentido, para fins políticos e eleitoreiros foram criados alguns mecanismos, como o Bolsa Família e outros, que deram à política governista uma cara assistencialista ao atuar nos bolsões de maior miséria e pobreza, como válvula de escape social, justamente para impedir a probabilidade de qualquer revolta popular.

      Na política externa, desde o primeiro momento o governo Lula se revelou como um aliado dos Estados Unidos. Isso ficou claro no instante em que preferiu Davos ao Fórum Social Mundial, enviou o ultra-reacionário exército brasileiro para chefiar a Minustah no Haiti, como legítima filial do império, e, finalmente, para carimbar a sua decisiva guinada para a direita, assinou uma aliança militar com os Estados Unidos no mesmo período histórico em que na América do Sul era fundada a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), uma zona de livre comércio continental, com a exclusão dos Estados Unidos, à qual o Brasil não aderiu.

      Ficou claro que o objetivo do atual governo, na política externa, é meramente o de chefe de negociações para a abertura de novos mercados. Por isso as inúmeras viagens de Lula e seu “staff” para todos os países da América Latina. Não para aderir à política socialista de Venezuela, Cuba, Equador e Bolívia; também não para apoiar o fascismo de um Uribe ou a indecisão de um Lugo, mas para entabular acordos comerciais.

      Mesmo assim, para muitos países que estão tentando livrar-se do domínio secular dos Estados Unidos, como alguns dos citados acima, e para outros que ainda procuram alternativas políticas, como Uruguai e Argentina, além daqueles, como Chile e Peru que, a exemplo do Brasil, permanecem em compasso de espera, apenas trocando as velhas oligarquias por uma juventude carreirista sequiosa de poder, os contatos com o governo brasileiro foram proveitosos no lado comercial.

      A propaganda petista continua insistindo que o governo brasileiro é progressista, fazendo parecer que o Brasil tomaria uma posição a favor da emergente luta pela independência latino-americana, mas os mais atentos perceberam que o Brasil está se transformando em um país imperialista. Com uma capacidade muito grande de barganha, devido à sua política de exportação e à extração de minérios, como o petróleo, que enriquece o bolso dos já muito ricos, o governo brasileiro descobriu outra grande mina nos negócios que está a realizar com os países vizinhos de idioma espanhol.

      Para continuar assim, Lula joga dos dois lados, conversando com Fidel, em Cuba ou com Chávez, na Venezuela, auscultando as idéias do novo presidente eleito da Colômbia, Santos, indo ao Paraguai para tentar cooptar Lugo para o seu modelo desinvolvimentista ou aumentando as exportações para o Uruguai, com a idéia de torná-lo um país dependente da nossa economia. Uma política para as empresas, para as grandes empresas, que necessita de paz para que os negócios aconteçam naturalmente na região.

      Súbito, nesse mar idílico dos grandes negócios, quando o governo brasileiro, inclusive, já ameaça reatar as relações com o governo golpista de Honduras; quando as eleições presidenciais já estão ganhas, graças à propaganda das grandes empresas de comunicação, que tem a sua parte nesse festejado bolo, surge a real possibilidade de guerra entre Colômbia e Venezuela. Uma guerra, que, se acontecer, poderá se estender para outros países, como Bolívia e Equador, e permitiria a entrada em cena do exército dos Estados Unidos, que apenas espera uma oportunidade como essa para tentar liquidar com a Venezuela bolivariana e tentar impor, novamente, o seu poder na América do Sul.

      E tudo isso saudado ufanisticamente pelos meios de comunicação brasileiros, como Globo & Cia., através dos seus diversos canais e enésimos programas de TV satanizando Chávez, Fidel e outros menos cotados. Os mesmos meios de comunicação que apoiaram, de maneira explícita ou subliminar, as duas eleições de Lula e fazem o mesmo, agora, com Dilma, a Lula de saias. E se Lula não obedecer às diretrizes políticas desses verdadeiros consórcios da informação e apoiar “o lado errado”, as eleições estarão perdidas e o projeto político do PT será extinto, porque uma verdadeira campanha difamatória surgirá, varrendo Dilma e Lula do cenário político.

      O que fazer? Se a guerra acontecer, a política de bobo equilibrista de Lula ficará a descoberto, porque será obrigado a apoiar a Colômbia, ou, ao menos, demonstrar uma neutralidade equívoca. Não poderá nunca apoiar a Venezuela, porque tem uma aliança militar com os Estados Unidos – que serão os principais interessados na guerra. E se os Estados Unidos entrarem na guerra o Brasil terá de fazer o mesmo ou, no mínimo, colocar o nosso exército nas fronteiras com a Venezuela para, na hora certa, tentar pegar a sua parte do botim. E o rei estará nu.

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