sábado, 12 de setembro de 2009
O Medo à Liberdade - ERICH FROMM (LIVRO)
O Medo à Liberdade (1983), originalmente publicado nos EUA, em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, pelo filósofo, sociólogo e psicanalista Erich Fromm, é uma das mais importantes críticas psicossociais do autoritarismo, da destrutividade e do conformismo típicos do séc. XX. Para a visão profundamente humanista do autor, a razão capaz de explicar esses fenômenos é uma mescla de observações dos aspectos psicológicos da neurose com os fatores sociais que a impulsionam e a alimentam. Tudo sob o princípio filosófico existencial de que, nas escolhas da vida, a liberdade humana entre evoluir ou regredir é uma obrigação, uma responsabilidade que ninguém pode se furtar.
Sua tese é que na presente busca do sucesso financeiro, ao lado da liberdade material conquistada ao longo da história do ocidente, os indivíduos se isolaram cada vez mais uns dos outros. Essa mesma liberdade econômica, carregada de solidão, tornou-se motivo de medo e angústia, levando as pessoas a desejarem uma fuga psicológica de alienação, por meio de ilusões de “terem” algo ou de “pertencerem” a uma corporação ou grupo que lhes fariam sentir menos sós. Se na antiguidade o perigo era os homens tornarem-se escravos, atualmente tornou-se o de serem alienados psíquicos, autômatos. Pudessem encontrar uma alternativa saudável ao conflito, haveriam de reconhecer a importância do outro nos vínculos de cooperação e solidariedade. Mas, a solidão e a impotência encontraram na indústria moderna artifícios da felicidade de consumo e estímulos para o rápido alívio psicológico da condição humana – que em seu dinamismo tende a procurar soluções de alguma forma, com possibilidades de satisfação, ainda que ao preço da violência, da neurose e servidão voluntária. Explicando o fenômeno do nazifacismo, que bem conheceu, esclarece que a ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza.
Fromm faz assim uma análise da patologia da alienação psíquica inconsciente da sociedade industrial, que se caracteriza pelo comportamento social consumista e pelo sistema patriarcalista autoritário, reclamando uma necessidade ética urgente de mudanças nas determinações sócio-econômicas. Do ponto de vista psicopatológico, segundo ele, o centro gravitacional da cultura capitalista é o consumismo passivo. O consumo, no entanto, é próprio da vida, do crescimento biológico e das relações humanas; afinal, precisa-se comer, vestir, trocar valores de uso econômico e outros. Todavia, há uma espécie compulsiva de consumo que unicamente visa aliviar a ansiedade, a insegurança ou mesmo o desespero subjacentes à nossa época. Ironicamente, constata ele, o homem contemporâneo, com seu avançado conhecimento intelectual, desconhece-se enquanto totalidade espiritual, não sabe bem o que deseja e por isso não consegue satisfazer-se plenamente, sentindo-se vazio de realizações.
Pode-se dizer, acertadamente, que ele foi o primeiro filósofo a construir uma antropologia filosófica, e uma problematização da liberdade, vinculando intimamente os pensamentos de Marx e Freud, reconhecendo claramente a superioridade do primeiro. A bem dizer, foi em 1930, com o livro o Dogma de Cristo (1986)2, que Fromm uniu de maneira concreta esses dois pensadores. Quem o afirma, com razão, é Franz Borkenau3, erudito do partido comunista que freqüentou o ambiente do Instituto de Frankfurt e escreveu uma resenha do mesmo texto no lançamento da revista Zeitschrift für Sozialforschung, de publicações desta Escola. Trata-se ali do uso da psicanálise aplicado aos fenômenos históricos, compreendendo as idéias e ideologias individuais como um resultado de necessidades psíquicas básicas submetidas a condições sociais e econômicas específicas. No entendimento de Martin Jay4, Fromm então afirmara em termos psicológicos o que Horkheimer e Marcuse, depois de sua ruptura com Heidegger, diziam sobre a noção abstrata de historicidade.
Para Fromm a função da ideologia e do autoritarismo pode equiparar-se aos sistemas neuróticos. A correlação direta entre o conceito marxista de “ideologia” e o conceito psicanalítico de “racionalização” veio a ser feita por Erich Fromm em 1932, no artigo Método e Função de uma Psicologia Social Analítica5, onde ele afirma que a psicanálise pode mostrar como a situação econômica é transformada em ideologia, através dos impulsos naturais do homem. (...)
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