sábado, 6 de junho de 2009

Não Me Sinto Mudar (Pablo Neruda )

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei.É um pouco mais de melancolia,
um pouco e tédio que me deram os homens.

Não mudei.Não mudo. O meu pai está muito velho.
As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem demais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo,num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

2 comentários:

  1. Amada Joyce que dizer diante deste mestre; "Mas num dia amargo,num dia distantesentirei a raiva de não estender as mãos de não erguer as asas da renovação".
    Êle mesmo diz.
    A paz

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