segunda-feira, 15 de junho de 2009

LULA DESCOBRE A PÓLVORA: O ÁGIO BANCÁRIO "AINDA ESTÁ MUITO ALTO"

No programa radiofônico semanal Café com o Presidente, o nosso bom Lula voltou, singelamente, a cobrar dos bancos que levem em conta o bem comum, ao invés de se comportarem como rapinantes insensíveis durante a crise global do capitalismo:
"...obrigatoriamente, os bancos privados e bancos públicos vão ter que reduzir as taxas de juros para que a gente possa facilitar o crédito para a população. É importante lembrar que, desde que foi criada a taxa Selic, é a primeira vez que ela está abaixo de dois dígitos. (...) Mas não basta taxa Selic cair. É importante que ela caia, mas é importante que o spread bancário diminua no Brasil. O spread ainda está muito alto, o spread ainda está seletivo...".
Trocando em miúdos, quando o IBGE anunciou que o PIB brasileiro caiu 0,8% no 1º trimestre de 2009, soaram os alarmes no Planalto e o governo decidiu uma nova redução da taxa Selic, agora para 9,25% ao ano. Pois, blablablá para tranquilizar simplórios à parte, ninguém sabe realmente quanto ainda despencaremos.

Para que seja revertida a tendência de crescimento econômico negativo, os bancos têm de fazer sua parte, diminuindo o ágio que extorquem dos seus correntistas e deixando de negar crédito àqueles que enfrentam enormes dificuldades e tentam desesperadamente manter-se à tona.

Mas, claro, só o farão sob vara, pois agiotas jamais sensibilizaram-se com exortações.

É da natureza das feras caçarem os animais mais fracos e os devorarem. É da natureza dos agiotas arrancarem tudo que puderem dos coitados que caem em suas garras. Não adianta aconselhar umas e outros; a mudança de comportamento tem de ser-lhes imposta.

Então, ilustríssimo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se V. Exa. estiverdes mesmo, como dizeis, compartilhando as aflições das donas de casa, cabe-vos agir em conformidade com vossa declaração, rompendo a sujeição ao capital financeiro (mantida desde o primeiro dia do vosso primeiro governo) e impondo aos bancos que dêem também sua quota de sacrifício para evitar que a recessão brasileira evolua para depressão.

Pois foram eles os que mais lucraram no Brasil entre vossa posse e o advento da crise capitalista. Cinco anos e meio anunciando, mês após mês, escandalosos recordes de faturamento.

E não foi só isto. Como bem ressaltou o comentarista econômico Octávio Costa na IstoÉ, as instituições financeiras acumularam uma banha adicional quando vosso governo adotou as primeiras medidas para evitar-se o pior, no final do ano passado, liberando R$ 100 milhões em depósito compulsório, baixando a Selic e reduzindo os impostos sobre operações financeiras.

Já então vossa equipe econômica alegava esperar que, como consequência, os bancos disponibilizassem mais crédito e diminuíssem o percentual do ágio.

Negativo. Preferiram engordar em quase 50% as provisões para créditos duvidosos, visando minimizarem as próprias perdas durante a emergência nacional.

O maior reforço dessas provisões (R$ 3 bilhões no 4º trimestre de 2008) foi o do Itaú-Unibanco, cujo presidente-executivo Roberto Setubal deitou falação demonstrando ter perfeita consciência do quadro em que agia: "O ajuste da economia brasileira às novas condições da economia mundial levará algum tempo, reduzirá o crescimento e aumentará o desemprego e a inadimplência".

Na ocasião fui um dos poucos a chamá-lo às falas, já que a mídia se omite vergonhosamente nos momentos em que grandes anunciantes se fazem merecedores de críticas:
"Saudado como herói pela grande imprensa quando fundiu seu negócio com outra casa de agiotagem, Setubal esqueceu de dizer que 'o ajuste da economia brasileira às novas condições da economia mundial' levará muito mais tempo, impondo sacrifícios terríveis ao nosso povo, graças a atitudes como a que ele tomou, cujas consequências óbvias serão exatamente as de reduzir o crescimento e aumentar o desemprego e a indamplência".
Finalmente, em vosso benefício, presidente Lula, vou repetir algo mais do que que escrevi há três meses e meio, para não vos restem dúvidas sobre as características predatórias daqueles com quem estais lidando. Isto na esperança de que queirais adotar medidas realmente eficazes para domesticar a besta, ao invés de apenas chover no molhado com retórica inócua:
"Os agiotas estão entre os piores exemplares do gênero humano, ao lado dos torturadores, dos assassinos seriais, dos traficantes, dos molestadores de menores e outras aberrações.

"Em qualquer circunstância, um agiota só pensa em aumentar sua fortuna. Não lhe importa que suas vítimas sejam reduzidas à penúria, percam os lares, passem fome, prostituam suas crianças, cometam suicídio.

"Move céus e terras para arrancar até o último centavo que lhe devem e sai em busca de outros desesperados para oferecer-lhes não uma tábua de salvação, mas a âncora que os arrastará para as profundezas.

"É um abutre em forma humana, tendo o calculismo como característica dominante e a ganância como motivação suprema.

"Mas, poderão indagar os leitores, por que lançar tal catalinária contra Shylock (o mercador de Veneza), um personagem tão remoto como o dramaturgo que o criou, William Shakespeare?

"Porque Shylock, qual um vampiro, não morreu. Apenas alterou sua aparência. Institucionalizou-se, atendendo hoje pelo nome de banco.

"E, enquanto não lhe cravarmos uma estaca no coração, continuará sugando nosso sangue, nossas energias, nossas esperanças."

POR CELSO LUNGARETTI

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