Dezembro 13, 2008
Por Patu Antunes
Tenho seguido, estupefata, o caso da menina que acabou presa (e está há 49 dias) por pichar o andar vazio da Bienal de São Paulo, que era, agora vemos teoricamente, para a intervenção do público. A gaúcha Caroline Pivetta da Mota foi à Bienal com um grupo de pichadores (que se identificam assim e não com os “street art” do calibre de osgemeos, por exemplo). Levaram a proposta da curadoria a sério e foram além: devolveram à arte aquilo que é próprio dela - romper paradigmas, preconceitos, arriscar, ir além, protestar, gritar, provocar. E acabou presa. Que raio de Bienal é essa????? Para os críticos, um grande fracasso, com algumas exceções. Para mim, um descalabro e uma indecência que só uma mentalidade muito atrasada pode permitir. Apóio minha afirmação em outra, da chefona da Bienal, Ana Paula Cohen.
Em uma coletiva de imprensa, uma semana antes da abertura da mostra, ela afirmou, respondendo sobre a possibilidade do tal andar vazio acabar em pichação: “Estão convocando gente da periferia da cidade para fazer isso, e essas pessoas não sabem no que estão se metendo.” É, realmente não sabiam onde estavam se metendo: no raio de ação de uma senhora que deveria fazer qualquer coisa na vida. MENOS ser CURADORA de uma BIENAL DE ARTE.
Come on, em que planeta-da-arte vivem esses “curadores”????? É óbvio que os pichadores, grafiteiros e toda a fauna da street art VAO fazer uma intervenção em um espaço assim. Esses curadores de escritório vivem ali, num espaço de design, com objetos de “arte”, com ar-condicionado, longe da plebe e não sabem de porra nenhuma que acontece nas ruas, nas casas e no interior das pessoas, esses sim a verdadeira origem da Arte, com “A” e não “arte” de concurso público.
E para quem vem com esse discurso retrógrado de “Ah, mas aquilo não é arte, é vandalismo”… É, olhando um monte de rabiscos, realmente é difícil comparar isso a Picasso ou a Goya, por exemplo. Mas me diz: um homem pelado dentro de uma sala (a coisa mais elogiada na Bienal deste ano) é arte?????? Sim, porque não é só um homem pelado. É um homem pelado com mil conexões, estímulos, contextos, provocações. Os pichadores não fazem só riscos na parede. Eles também estão ali, com mil conexões, estímulos, contextos, provocações. O problema é que vamos à uma sala da Bienal, vemos um homem pelado e nos dizem que isso é arte da boa, e compramos. E aí nos vendem que a pichação é um monte de rabiscos sem valor… e compramos.
Tudo é muito mais simples do que parece. É só uma questão de mentalidade.
FONTE :http://patuantunes.wordpress.com/2008/12/13/a-prisao-da-pichadora-x-a-mentalidade-tupiniquim/
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