CURVA-SE O DIA
Salvatore Quasímodo
...
Eis-me desamparado, Senhor,
no teu dia,
cerrado a toda luz.
...
De ti privado tenho medo,
perdida estrada de amor,
e não me é dada nem mesmo
a graça de trêmulo confessar-me
tão seca é a minha vontade.
...
A ti amei e combati;
curva-se o dia
e colho sombras dos céus:
que tristeza o meu coração
de carne!
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SALVATORE QUASÍMODO
Trad. Geraldo Holanda Cavalcanti
JÁ SE DESPRENDE A MAGRA FLOR
Nada saberei de minha vida
escuro monótono sangue.
Não saberei quem amei, quem amo
agora que aqui contido, reduzido a meus membros,
no gasto vento de março
enumero os males dos dias desvendados.
Já se desprende a magra flor
dos galhos. E eu contemplo
a paciência de seu vôo irrevogável.
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IMITAÇÃO DA ALEGRIA
Ali onde as árvores fazem
a tarde ainda mais abandonada
indolente
sumiu teu último passo,
como a flor que mal se mostra
sobre a tília e insiste em viver.
Buscas sentido para teus afetos,
encontras o silêncio em tua vida.
Outro destino me revela
o tempo refletido. Pesa-me
como a morte, a beleza que agora
noutras faces brilha.
Perdida está toda coisa inocente
mesma nesta voz, sobrevivente
a imitar a alegria.
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