Dois assuntos movimentaram como nunca nas últimas semanas o circuito brasileiro de artes plásticas.
O primeiro foi a decisão de Ivo Mesquita de aceitar a curadoria da 28ª edição do evento, prevista para 2008, mesmo tendo estado a Fundação Bienal envolvida em uma série de lamentáveis escândalos, como desvio de verbas, nepotismo, não publicação de catálogos, falta de pagamento a artistas e fornecedores etc.
O outro assunto foi a decisão também do Ivo Mesquita de apresentar uma proposta em que não realizar uma exposição de artes visuais e deixar todo um andar do pavilhão vazio para assim estimular a discussão e a reflexão sobre a Bienal.
Ivo Mesquita conseguiu seu objetivo, pois não se fala de outra coisa nas artes plásticas, mas o que as pessoas se perguntam é qual seria o real objetivo do curador...
O “Mapa das Artes” enviou então um e-mail para 26 galeristas paulistanos para saber sua opinião sobre a polêmica, visto que eles, como representantes de centenas de artistas brasileiros e estrangeiros, são os grandes interessados no assunto.
Recebeu respostas de apenas nove deles.
Leia as respostas recebidas, no aguardo das posições de outros galeristas.
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“A idéia seria pertinente se acaso fosse uma opção do curador e não uma ""imposição"" devido à péssima situação em que a Bienal se encontra” (André Millan, Galeria Millan).
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“Eu prefiro ver o proposto primeiro e depois, se for o caso, falar sobre ele” (Eduardo Brandão, Galeria Vermelho)
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“Prefiro conversar melhor com Ivo, para depois opinar” (Valu Oria, Galeria Valu Oria).
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“Me parece que ele querendo ou não o pavilhão vai estar vazio, por questões financeiras e de tempo hábil. Não é o caso de querer deixar vazio, mas não ter outra alternativa a não ser deixá-lo vazio. Há outra possibilidade?” (Regina Pinho de Almeida, Galeria Virgílio)
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“Com todo respeito ao Ivo, preferiria ver a Bienal acontecer não vazia. Com todo respeito ao Ivo, preferiria, ao ver destruída a obra da minha vida, retomar de novo a ferramenta desgastada e sem queixumes vãos recomeçar do nada.(texto decorado na minha adolescencia!). Com todo respeito, digo ao Ivo: Você foi o úníco, apesar da sua proposta de apagão, que pegou o bastão em brasa e disse: Digam ao nosso pequeno grande público que eu estou aqui!” (Fábio Cimino, Galeria Brito Cimino).
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“Sobre nosso tema Bienal, antes de mais nada me entristece a cena brasileira, acho uma enorme tristeza manter o pavilhão vazio, mas acho necessário para que o Brasil caia em si. Se fizermos uma Bienal ‘normal’, isso passaria batido, como se os problemas não estivessem acontecendo, e estão??? Acho na verdade um ato de coragem do Ivo” (Alessandra D’Aloia, Galeria Fortes Vilaça).
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“Nada sei sobre as intenções do Ivo, no projeto da Bienal vazia. A Bienal de São Paulo foi escola para mim quando cheguei ao Brasil. A partir de 1965 vi todas as edições e com todos seus muitos erros a Bienal foi uma ponte para o artista, o crítico, o mercado e o público brasileiro tomarem contato com o mundo das artes, assim como o MASP foi um templo para mim, que só tinha visto ilustrações em livros. Mas era época de Cicillo Matarazzo, de Assis Chateaubriand, que pensavam grande. As desastrosas edições recentes e a confissão de falência atual quebram essa ponte e ameaçam devolver São Paulo como referência indiscutível da arte internacional à era pré-Kubitschek. Uma façanha, convenhamos. A decadência do MASP, mais uma. Politicagem, feira de vaidades, incompetência e falta de visão estão nos levando de volta para esse engate da marcha-ré. Crítica de arte ausente, galerias tradicionais brasileiras ‘queimando’ galerias tradicionais brasileiras em eventos internacionais, curadorias indecentes (repito indecentes) como a operação-ARCO, um ‘trem da alegria’ com 31 galerias (tudo pago pelo dinheiro do contribuinte) e a eliminação deliberada da participante mais antiga por ressentimentos regionais, museus desatualizados e sem dinheiro para atualizar acervos (quando existem), Bienais nas quais as visitas estrangeiras são direcionadas com favorecimentos de algumas galerias em detrimento de outras, divulgação na mídia de exposições banais em detrimento de outras relevantes, educação artística a preços inacessíveis, deformação de vocações com insistência fascista no uso de novas tecnologias deixando o circuito pobre em pintores e escultores, falta de revista de arte, de crítica e de críticos, tudo isso e muito, muito mais foram fatores de peso na ‘criação’ desse retrocesso para o abismo, institucionalizado agora como se proposta fosse (proposta de quê, exatamente?). O meio das artes plásticas está contaminado pelo carreirismo, pelo provincianismo, por panelinhas de modas, tendências e até preferências sexuais. A mediocridade tomou conta. Precisamos de gente que pense grande (Thomas Cohn, Galeria Thomas Cohn)
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“Sinceramente, eu entendo a proposta do Ivo Mesquita. Mas, ao mesmo tempo penso que todo o circuito de arte brasileira está perdendo muito com o cancelamento de uma Bienal ‘tradicional’. A Bienal de São Paulo conquistou um lugar muito importante dentro do circuito mundial de bienais e grandes exposições. A arte contemporâea em geral está atraindo a atenção em todos os sentidos. As pessoas do circuito mundial se deslocam de uma cidade para outra somente para visitar as mostras e feiras. Perder esta oportunidade, neste momento, é realmente uma pena! Mas parece que esta é uma característica brasileira: quando as coisas começam a se consolidar, são interrompidas (Luciana Brito, Galeria Brito Cimino)
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“Sobre a minha opinião sobre a Bienal vazia, não me sinto à vontade antes de conversar com o Ivo, a quem sempre respeitei e que deve ter seus motivos. Logo estarei mais disponível e pretendo fazê-lo” (Raquel Arnaud, Gabinete de Arte Raquel Arnaud)
FONTE:
http://www.mapadasartes.com.br/setoresnn.php?artig=1&texid=25.
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