Ao
Pé do Muro
Um Livro de Cesare Battisti
Carlos Alberto Lungarzo
Na quinta feira 12 de abril, na Livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, foi apresentado o
livro de Cesare Battisti intitulado Ao Pé
do Muro, cuja versão original em francês já tinha sido lançada na França em
março desse ano.
O romance foi editado em Português pela Editora Martins Fontes Selo Fontes, numa tradução de Dorothée de Bruchard,
que estava entre os membros da mesa, e fez um discurso delicioso sobre as
sutilezas da linguagem do livro, produto do cruzamento dos diversos idiomas que
Battisti aprendeu em sua fuga, finalmente com
fim.
Na edição Brasileira o volume tem 302 páginas e consta de uma
apresentação que tive a máxima e não bem merecida honra de redigir, por uma
gentileza do autor que aproveito para agradecer nesta nota. Já fiz vários
prefácios na minha vida, mas nenhum de um grande escritor e de um símbolo da
luta contra o fascismo e a barbárie.
Face au Mur, como se chama na versão francesa, teve excelentes resenhas em vários
dos principais jornais e revistas especializadas da França, quando foi
publicada a versão original. (Vide)
Sobre a edição brasileira, incluindo comentários, vídeos e material
adicional, veja aqui.
O lançamento brasileiro começou na Travessa
por volta das 18 horas e contou com a presidência do deputado Domingos
Dutra (PT, Maranhão), atual chefe da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da
Câmara de Deputados. Participaram, além do próprio autor, a tradutora Dorothée
de Bruchard, o artista Sebastião Vitorino que idealizou a capa, o Deputado
Chico Alencar, e outros membros do ambiente intelectual e social.
A audiência, que contava com representantes dos movimentos sociais, de
pessoas independentes, de jornalistas e do Sindicato de Petroleiros encheu
totalmente a sala de reuniões da livraria. Foi notório o interesse dos
comunicadores franceses, que fotografaram todos os momentos do evento, e
assistiram à assinatura de autógrafos.
Battisti respondeu algumas perguntas por extenso, destacando com muita
precisão as motivações que o determinaram a escrever o livro. Ele disse que a
prisão, através dos relatos dos detentos, lhe permitiu conhecer e imaginar
regiões de país, situações e costumes que não tinha podido presenciar durante
os meses anteriores à sua prisão, que sempre estiveram carregados pelo
permanente perigo de perseguição.
Cesare elogiou o espírito de tolerância dos populares brasileiros, e o
grande senso de compreensão das pessoas mais simples que, com a simpatia que
lhe demonstraram sempre na rua, nos bares, nas vizinhanças, provaram não estar
enganados pelas calúnias lançadas sobre ele.
De fato, durante a apresentação informal do livro que ainda não tinha
sido impresso, tanto em Fortaleza como em Porto Alegre, alguns meses antes, era
possível ver a simpatia e cordialidade das pessoas que o paravam nas ruas e
pediam para fotografar-se com ele.
Todas as intervenções foram emocionantes, especialmente a do deputado
Domingos Dutra, que lembrou de sua origem paupérrima no Maranhão e de seu
esforço para levar a voz dos oprimidos ao parlamento, uma tarefa da qual deu
uma amostra ao convocar os presentes a apoiar a lei contra o trabalho escravo.
Vibrante, afetuosa e cheia de humor foi a curta fala do deputado Chico
Alencar, que falou em pé e com o livro de Battisti nas mãos. Ele disse, com
nada dissimulada alegria, que as forças positivas do povo brasileiro tinham
derrotado a pretensão de extraditar Battisti, que ele agora era um brasileiro
nato, e que nada moveria ele do país.
O evento se caracterizou pela mesura, a emoção, a sinceridade e,
sobretudo, pela compreensão de todos de que a integração de Battisti ao Brasil,
demonstrada pela forma magnífica em que descreve o povo através da
sensibilidade de seus proscritos, é um fato irreversível.
Com efeito, a longa saga de crueldade e perseguição iniciada há 5 anos
no país, deverá esbarrar com uma parede humana de milhares de amigos.
Não teria condições de descrever a solidariedade e carinho demonstrados
pelos movimentos sociais e intelectuais aí representados, as pessoas
independentes, os grupos sindicais e de estudantes, e a mídia francesa. Mais
ainda, fica uma lição: qualquer ataque futuro contra Cesare (que esperamos não
exista) será um ataque contra toda uma legião de defensores da liberdade e da Inteligência.
Não estamos lutando apenas por um amigo, mas também por nós mesmos. Todos somos Cesare Battisti.
(Numa próxima nota, apresentarei uma resenha específica sobre o conteúdo
do livro).
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