sábado, 14 de abril de 2012

AO PÈ DO MURO: UM LIVRO DE CESARE BATTISTI





Ao Pé do Muro
Um Livro de Cesare Battisti

Carlos Alberto Lungarzo

Na quinta feira 12 de abril, na Livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, foi apresentado o livro de Cesare Battisti intitulado Ao Pé do Muro, cuja versão original em francês já tinha sido lançada na França em março desse ano.
O romance foi editado em Português pela Editora Martins Fontes Selo Fontes, numa tradução de Dorothée de Bruchard, que estava entre os membros da mesa, e fez um discurso delicioso sobre as sutilezas da linguagem do livro, produto do cruzamento dos diversos idiomas que Battisti aprendeu em sua fuga, finalmente com fim.
Na edição Brasileira o volume tem 302 páginas e consta de uma apresentação que tive a máxima e não bem merecida honra de redigir, por uma gentileza do autor que aproveito para agradecer nesta nota. Já fiz vários prefácios na minha vida, mas nenhum de um grande escritor e de um símbolo da luta contra o fascismo e a barbárie.
Face au Mur, como se chama na versão francesa, teve excelentes resenhas em vários dos principais jornais e revistas especializadas da França, quando foi publicada a versão original. (Vide)
Sobre a edição brasileira, incluindo comentários, vídeos e material adicional, veja aqui.
O lançamento brasileiro começou na Travessa por volta das 18 horas e contou com a presidência do deputado Domingos Dutra (PT, Maranhão), atual chefe da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados. Participaram, além do próprio autor, a tradutora Dorothée de Bruchard, o artista Sebastião Vitorino que idealizou a capa, o Deputado Chico Alencar, e outros membros do ambiente intelectual e social.
A audiência, que contava com representantes dos movimentos sociais, de pessoas independentes, de jornalistas e do Sindicato de Petroleiros encheu totalmente a sala de reuniões da livraria. Foi notório o interesse dos comunicadores franceses, que fotografaram todos os momentos do evento, e assistiram à assinatura de autógrafos.
Battisti respondeu algumas perguntas por extenso, destacando com muita precisão as motivações que o determinaram a escrever o livro. Ele disse que a prisão, através dos relatos dos detentos, lhe permitiu conhecer e imaginar regiões de país, situações e costumes que não tinha podido presenciar durante os meses anteriores à sua prisão, que sempre estiveram carregados pelo permanente perigo de perseguição.
Cesare elogiou o espírito de tolerância dos populares brasileiros, e o grande senso de compreensão das pessoas mais simples que, com a simpatia que lhe demonstraram sempre na rua, nos bares, nas vizinhanças, provaram não estar enganados pelas calúnias lançadas sobre ele.
De fato, durante a apresentação informal do livro que ainda não tinha sido impresso, tanto em Fortaleza como em Porto Alegre, alguns meses antes, era possível ver a simpatia e cordialidade das pessoas que o paravam nas ruas e pediam para fotografar-se com ele.
Todas as intervenções foram emocionantes, especialmente a do deputado Domingos Dutra, que lembrou de sua origem paupérrima no Maranhão e de seu esforço para levar a voz dos oprimidos ao parlamento, uma tarefa da qual deu uma amostra ao convocar os presentes a apoiar a lei contra o trabalho escravo.

Vibrante, afetuosa e cheia de humor foi a curta fala do deputado Chico Alencar, que falou em pé e com o livro de Battisti nas mãos. Ele disse, com nada dissimulada alegria, que as forças positivas do povo brasileiro tinham derrotado a pretensão de extraditar Battisti, que ele agora era um brasileiro nato, e que nada moveria ele do país.
O evento se caracterizou pela mesura, a emoção, a sinceridade e, sobretudo, pela compreensão de todos de que a integração de Battisti ao Brasil, demonstrada pela forma magnífica em que descreve o povo através da sensibilidade de seus proscritos, é um fato irreversível.
Com efeito, a longa saga de crueldade e perseguição iniciada há 5 anos no país, deverá esbarrar com uma parede humana de milhares de amigos.

Não teria condições de descrever a solidariedade e carinho demonstrados pelos movimentos sociais e intelectuais aí representados, as pessoas independentes, os grupos sindicais e de estudantes, e a mídia francesa. Mais ainda, fica uma lição: qualquer ataque futuro contra Cesare (que esperamos não exista) será um ataque contra toda uma legião de defensores da liberdade e da Inteligência. Não estamos lutando apenas por um amigo, mas também por nós mesmos. Todos somos Cesare Battisti.
(Numa próxima nota, apresentarei uma resenha específica sobre o conteúdo do livro).

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