terça-feira, 4 de outubro de 2011

REFLEXÕES SOBRE O CAPITALISMO PUTREFATO

Por Celso Lungaretti


No artigo 'Temos que abandonar o mito do crescimento econômico infinito', escrito para a BBC, o professor Tim Jackson, da Universidade de Surrey, resume as teses que vem defendendo desde 2006 e sistematizou em sua conhecida obra Prosperity without Growth - Economics for a Finite Planet (Prosperidade sem Crescimento: Economia para um Planeta Finito), lançada no final de 2009.

O diagnóstico é correto, mas, como bom  schoolar  do sistema, ele não o leva até as últimas consequências. Vamos ao que interessa (trechos):
"Nas últimas cinco décadas, a busca pelo crescimento tem sido o mais importante dos objetivos políticos no mundo.

A economia global tem hoje cinco vezes o tamanho de meio século atrás. Se continuar crescendo ao mesmo ritmo, terá 80 vezes esse tamanho no ano 2100.

Esse extraordinário salto da atividade econômica global não tem precedentes na história. E é algo que não pode mais estar em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico do qual dependemos para nossa sobrevivência.

Na maior parte do tempo, evitamos a realidade absoluta desses números. O crescimento deve continuar, insistimos.

As razões para essa cegueira coletiva são fáceis de encontrar.

O capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade. Quando a expansão falha, como ocorreu recentemente, os políticos entram em pânico.

...Questionar o crescimento é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários.
Ainda assim, precisamos questioná-lo. O mito do crescimento fracassou. Fracassou para as 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência.
...Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.

Viver bem está ligado à nutrição, a moradias decentes, ao acesso a serviços de boa qualidade, a comunidades estáveis, a empregos satisfatórios.

A prosperidade, em qualquer sentido da palavra, transcende as preocupações materiais.
 Ela reside em nosso amor por nossas famílias, ao apoio de nossos amigos e à força de nossas comunidades, à nossa capacidade de participar totalmente na vida da sociedade, em uma sensação de sentido e razão para nossas vidas".
TRABALHO HUMANO JOGADO NO RALO
 
Faltou Jackson explicar melhor por que "o capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade".

Em meados do século retrasado Marx já esgotava esta questão.

A contradição entre a produção coletiva e a apropriação individual gera um permanente desequilíbrio entre a oferta e a procura, já que os produtores não temos capacidade aquisitiva para adquirir tudo que produzimos. Fica faltando aquela parte dos frutos do nosso trabalho que é usurpada pelo capital, a mais-valia.

Para evitarem-se aquelas crises terríveis de excesso de produção (escassez de consumidores, na verdade), a economia capitalista se voltou cada vez mais para o parasitário, instituições financeiras à frente; o suntuário e a indústria bélica. São formas de se jogar no ralo o trabalho humano sem proveito para a humanidade, muito pelo contrário.

Afora os mecanismos de crédito que vão empurrando o acerto das contas cada vez mais para a frente, permitindo aos consumidores adquirirem o que não podem bancar, até que o elástico arrebenta e vêm as recessões.

Não há como sanar-se a irracionalidade econômica do capitalismo -- é ela que o condena à extinção. Ou nos condena, se não conseguirmos escapar de suas garras em tempo.

A expansão econômica apenas adia o desfecho para o qual suas contradições apontam, ao custo de comprometer cada vez mais "os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência".

Então, mudar este foco não é uma questão de convencer as pessoas a abdicarem do consumismo em prol do amor familiar. A lógica perversa do sistema, martelada dia e noite por sua nefanda indústria cultural, vai exatamente na direção oposta. 

Sob o capitalismo, nem mesmo a substituição do transporte individual pelo coletivo está sendo implementada como deveria, embora cada automóvel novo que sai da fábrica seja mais um prego em nosso caixão.

Então, uma "prosperidade" que "transcede as preocupações materiais" só será possível quando as motivações maiores dos seres humanos deixarem de ser a ganância e a busca da diferenciação, trocadas pela cooperação solidária e pela priorização do bem comum.

Em outras palavras, quando o homem despertar do pesadelo capitalista.

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