Carlos Alberto Lungarzo
Anistia Internacional (USA) – 2152711
A denúncia do Carrefour contra Claudinéia Freitas Santos, uma mulher desempregada, mãe de 10 filhos, por tentar furtar artigos de primeira necessidade contra o frio, e condenada a pagar uma fiança de 300 Reais, não é o único ato de barbárie social da grande rede. Neste artigo, vou mencionar os principais conflitos da organização em diversas partes do mundo (incluindo o Brasil), onde aparecem fatos como repressão violenta dos trabalhadores, condições desumanas de funcionamento, uso de trabalho semiescravo, e assim em diante. Vou descrever apenas alguns casos, que o leitor pode conferir com detalhe na Internet através dos links citados. Muitos outros casos aparecem citados nos próprios documentos da Internet.
É interessante salientar que a repressão aos trabalhadores do Carrefour do Osasco transcendeu todo o mundo ocidental, e foi citada várias vezes pelos sindicalistas europeus como amostra da brutalidade de sua sede brasileira.
Todos os que desejem estender as denúncias sobre o caso de Claudinéia à matriz do Carrefour, na Franca, podem usar o seguinte e-mail:
Já várias pessoas têm feito isto, mas ainda não sabemos as reações. Estarei passando brevemente, em outras mensagens, os endereços de grupos humanitários franceses que defendem pessoas exploradas ou perseguidas, trabalho escravo e vítimas da faxina social.
Aproveito às pessoas que nos estão ajudando desde o exterior, especialmente desde a França e a Bélgica.
O Caso do Brasil (Osasco)
No dia 30 de agosto de 2007, a Confederação Nacional de Trabalhadores de Comércio e Serviços (CONTRACS), convocou junto a outros sindicatos a uma manifestação totalmente pacífica na frente do Carrefour em Osasco, periferia de São Paulo.
Os demonstradores foram atacados violentamente pela polícia e, além disso, alguns líderes da união foram detidos. Mesmo que as empresas às vezes negam cumplicidade na brutalidade policial, é bem conhecido que em países subdesenvolvidos, ultradesigualitários e totalmente governados pelas empresas, estas orientam a repressão e, em muitos casos, remuneram em negro os policiais para que a represálias contra os trabalhadores seja “lembrada” no futuro.
Lucilene Binsfield, presidente de CONTRACS, que relatou a truculência, anunciou as ações do movimento ante a repudiável repressão do Carrefour.
- Concentramo-nos na frente do Carrefour em três portas internas, carregando nossas bandeiras, pedindo que a gerência retomasse a negociação com o sindicato. Em determinado momento nós juntamos numa única porta interna da entrada dos clientes.
Em seguida, a gerência chamou as polícias militares, que chegaram atacando brutalmente os manifestantes.
Atacaram os trabalhadores com pulverizador de pimenta, ameaçando com bastões, e espancando vários companheiros. A repressão foi intencionada, já que tínhamos anunciado que logo em seguiria nos retiraríamos. Faltavam quatro minutos para irmos embora, quando a policia atacou brutalmente o companheiro Matos de Alci, da secretária de relações internacionais de CONTRACS, o prenderam violentamente, o espancaram e o algemaram.
- Qual é a situação atual do companheiro Alci?
- Foi levado ao presídio acusando-o falsamente de resistir. Foi a polícia que chegou atacando. Ele permanece em estado de choque pela violência sofrida.
Veja mais detalhes e fotografias em:
Caso Brasil (Bahia)
Cansados das péssimas condições de trabalho, os funcionários do Atacadão/Carrefour Rótula, de Salvador (BA) entraram em greve no dia 05 de julho de 2007, permanecendo paralisados por 3 horas.
Os trabalhadores denunciam as precárias condições de trabalho na empresa. Os problemas começam com a qualidade da água fornecida pela empresa, se estendem às cadeiras e esteiras dos caixas que estão quebradas, balanças de produtos inadequadas, jornada excessiva e plano de saúde precário.
“A situação ficou intolerável para os trabalhadores”, ressalta José Evangelista Rios, diretor do Sindicato dos Empregados no Comércio de Salvador e dirigente da CONTRACS/CUT. “É impossível trabalhar desse jeito! As condições de trabalho se tornaram precárias demais: cadeiras e esteiras quebradas, água de qualidade duvidosa, plano de saúde precário, são muitas as mazelas da empresa”, explica Rios.
Os trabalhadores denunciam ainda um fato grave como as jornadas de trabalho que vão das 7 horas da manhã até às 24 horas (Meia-noite). Ou seja, é uma jornada de 17 horas, MAIOR DA QUE SE PRATICAVA EM 1850 NA EUROPA QUE DETERMINOU A INDIGNAÇÃO DE TODOS OS MOVIMENTOS CIVILIZADOS DA ÉPOCA.
Lucilene Binsfeld, presidente da CONTRACS/CUT, comenta que a confederação recebe e acompanha denúncias de trabalhadores e consumidores contra o Carrefour. “O Tribunal Superior do Trabalho já condenou o Carrefour por discriminação e humilhação de trabalhadores e até proposta enganosa de salário. Além das constantes denúncias de consumidores divulgadas pela mídia”, acrescenta Lucilene.
“Temos denúncias que vão desde poluição ambiental , até funcionamento de lojas com número insuficiente de trabalhadores, o que está gerando constante conflito e até ofensas e xingamentos de clientes contra os trabalhadores”, relata Alci Matos, secretário de Relações Internacionais da CONTRACS/CUT.
A indignação e os protestos dos trabalhadores na Bahia tem todo o apoio do Sindicato de Comerciários de Salvador - filiado à CONTRACS/CUT.
Veja detalhes nestes dois links:
O Caso da China
Denúncia de Dezembro 2009
Carrefour enfrenta uma ação judicial em Pequim pela exploração de vendedoras de seus fornecedores, às quais o Carrefour utiliza como trabalho gratuito. Ou seja, quando elas chegam para vender os produtos de seus fornecedores, o Carrefour as obriga a trabalhar um tempo para eles.
Sheng Yucang, vendedora de 34 anos de idade da província de Shandong, protocolou processo contra Carrefour no tribunal popular de Fengtai, pedindo compensação por segurança social e horas extras que não foram pagas.
Sheng foi contratada no início de 2008 para promover produtos químicos em uma ramificação do Carrefour no distrito de Fengtai, mas realmente gastou uma grande quantidade de seu tempo carregando mercadorias e fazendo limpeza para o Carrefour.
Foi demitida Abril de 2009 quando estava grávida de seis meses. "Eu ouvi um funcionário do Carrefour dizer que eu não estou apta a trabalhar porque estou grávida," Sheng disse China Daily via telefone. Em seguida, o diretor me demitiu sem mais cerimônia. “Se você quiser ficar tem que fazer um aborto”.
Sheng também disse que o departamento de venda de produtos químicos diários tem cerca de 60 trabalhadores e apenas três ou quatro deles tinham assinado contratos com Carrefour; todos os outros são informais.
O Carrefour obriga os funcionários a levar carga de mercadorias, fazer limpeza, sem remuneração. Caso contrário, ele obriga o fornecedor a demitir o funcionário. Carrefour de Pequim se recusou a responder a reportagem por estas acusações.
A assistência jurídica de Pequim /Zhicheng descobriu que o caso da Sheng não foi um caso isolado, mas é uma regra permanente do supermercado. Além disso, não pagam seguro nem horas extremas. Um advogado disse que se trata de uma forma de trabalho semiescravo, disfarçado a través das fornecedoras, que, em realidade, dependem do Carrefour.
Sheng, por exemplo, estava promovendo no Carrefour mercadorias dos fornecedores, mas ela foi utilizada para vender esses produtos ao Carrefour. O trabalho de Sheng como limpeza, carga e descarga não era sua obrigação como trabalhadora do fornecedor, mas FOI EXIGIDO PELO CARREFOUR PARA POUPAR SALÁRIO DE CARREGADORES E FAXINEIROS.
Além disso, os vigilantes do Carrefour policiam as trabalhadoras e impedem descansar mesmo as que estão grávidas.
Veja detalhes em:
http://www.Chinadaily.com.cn/bizchina/2009-12/30/content_9246785.htm
Denúncias de Maio de 2010
Entre Fevereiro e Abril de 2010, a organização de Observação do Trabalho na China (CLW) investigou quatro fornecedores de Carrefour:
(1) Dongguan Lanyu & Toy Company, (2) Kiddieland Toys, (3) Shenzhen Nanling Toys e (4) fábrica de Xinlong.
Muitos funcionários destes fabricantes não foram contratados (uma violação do direito de contratos de trabalho de 2008 da China) e a jornada de trabalho é de 11 a 12 horas.
Os funcionários estavam alojados em cubículos superlotados, e submetidos a condições de semiescravidão que lhes impedia se demitir.
A fornecedora Dongguan Lanyu & Toy Company, Ltd. (como as outras) trabalha em cumplicidade com Carrefour, que é conivente na manutenção de péssimas condições trabalhistas, para conseguir preços mais baratos.
Abusos graves encontrados:
1) Não se pagam horas extras.
2) Só permite aos trabalhadores DOIS dias de descanso por mês
3) Carga de trabalho de 11 a 12 horas por dia.
4) Às vezes, trabalho noturno
5) Quartos infetados de insetos e roedores.
6) Falta de seguro social
7) Exposição dos empregados a vapores tóxicos
8) Funcionários que não completam 3 meses de trabalho NÃO RECEBEM NADA PELOS DIAS JÁ TRABALHADOS.
9) Os trabalhadores não podem demitir-se até que seu contrato expira. São praticamente escravos.
Situações iguais ou piores acontecem com todas as fornecedoras de Carrefour
O Caso da Indonésia
O Carrefour de Ratu Plaza Outlet, Jakarta do Sul é famoso pela falta absoluta de condições de segurança do trabalho de seus funcionários, o que tem produzido numerosos acidentes com mais de 200 feridos. Isso tem mobilizado os sindicatos progressistas para exigir condições humanas de trabalho. Aqui está o quadro desses acidentes desde 2002.
Cinco Acidentes no mesmo Carrefour | |
Novembro 2002 | 45 |
Dezembro 2002 | 20 |
Maio 2007 | 119 |
Dezembro 2007 | 19 |
Maio 2008 | 27 |
Veja o relatório completo
www.amrc.org.hk/alu_special/ohs/osh_in_indonesia_accidents_at_carrefour_and_how_unions_deal_with_osh
Os Casos Europeus
A Confederação Sindical de Comissões Operárias da Europa denunciou na reunião de Bélgica de 2007, as péssimas condições de trabalho no Carrefour da Espanha. O representante desse país disse que as políticas “sociais” e de “inclusão” propagandeadas pela rede são puro marketing.
No meio de uma extensa conversa do Diretor de Recursos Humanos do Grupo Carrefour, o representante da confederação manifestou que não havia responsabilidade social nenhuma na empresa, nem respeito pela libertade sindical, citando a política antisindical que Carrefour mantém tradicionalmente contra os sindicatos democráticos espanhóis, contra a Confederação, e AFIRMOU QUE ESSA ERA UMA POLÍTICA INTERNACIONAL DA EMPRESA. Como exemplo, citou a sangrenta repressão policial no Brasil (referindo-se ao caso de Osasco relatado acima.) Vide.
Em 23 de Fevereiro de 2010, o Carrefour de Bélgica anunciou 1687 demissões e o encerramento de 21 lojas. Menos de 12 meses antes, eles estavam planejando abrir uma mega loja perto de Bruges. Carrefour Bélgica fez 381 milhões de euros em lucros no ano passado em que pagaram impostos de € 33,225, que é uma taxa de 0,008%.
Carrefour Bélgica uso como pretexto que perdeu quotas de mercado, mas esqueceu-se convenientemente de mencionar que eles fizeram ainda um lucro em 2008 de 66 milhões de euros.
Na quarta-feira, 24 de Fevereiro, os trabalhadores em muitos shoppings pertencentes a Carrefour decidiram não abrir as portas. Esta ação direta e espontânea dos trabalhadores foi a consequência da indignação que existe entre os funcionários, mas na verdade indica a todos os trabalhadores a maneira de evitar essas demissões maciças. Veja mais informações.
Na França, em fevereiro de 2008, o setor do Grande Litoral do Carrefour teve uma greve de 11 dias, a maior numa empresa deste tipo durante esse ano, por causa dos baixos salários, que às vezes não atingem os 800 Euros, e as condições precárias dos contratos. (Vide)
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