São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009
Folha de São Paulo - Saúde
Injeção de plaquetas acelera recuperação de músculos
Especialistas relatam bons efeitos em casos de tendinites e lesões musculares
O plasma rico em plaquetas é empregado há cerca de dois anos no Brasil; estudo revela que técnica diminui necessidade de cirurgias
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma técnica que utiliza plasma sanguíneo rico em plaquetas do próprio paciente vem mostrando bons resultados em casos de tendinite e lesões musculares. Aplicada no Brasil há cerca de dois anos, ela vem sendo usada com sucesso principalmente em atletas, diminuindo significativamente o tempo de recuperação e a necessidade de cirurgias.
Embora os estudos sobre o assunto ainda estejam em fase inicial, uma pesquisa conduzida pelo ortopedista Rogério Teixeira da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia e presidente do Comitê de Traumatologia Desportiva da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), que acompanha 90 pessoas, constatou os benefícios da técnica.
Dos 46 pacientes que tinham recebido indicação cirúrgica, apenas três de fato precisaram da operação após passar pelo procedimento que utiliza plasma rico em plaquetas.
A técnica consiste em injetar, diretamente na lesão, um concentrado de plaquetas (células que carregam proteínas chamadas fatores de crescimento). Esses fatores são os responsáveis por promover a regeneração do tecido. Em altas concentrações, eles podem ser capazes de acelerar o processo natural.
O plasma rico em plaquetas é produzido a partir do sangue do próprio paciente. Os médicos colhem uma pequena quantidade do líquido, que pode variar de 30 a 50 mililitros -menos do que o retirado em uma bateria de exames de sangue de rotina-, dependendo da lesão a ser tratada. Esse sangue é processado em uma centrífuga de alta velocidade, com o objetivo de separar os glóbulos vermelhos das plaquetas.
Alta concentração
Com esse procedimento, a concentração de plaquetas pode aumentar até dez vezes em relação ao volume normal.
"Por enquanto, a indicação consagrada, com evidências científicas relatadas em artigos, é para os casos de tendinites crônicas, em que há inflamação e degeneração do tendão", diz o ortopedista Rogério Teixeira da Silva. "A técnica também pode ser aplicada para rupturas de tendão e até em caso de fraturas", diz o ortopedista Carlos Henrique Bittencourt, da Universidade Federal Fluminense.
Todas essas lesões têm longo período de recuperação porque normalmente acontecem em regiões com menor aporte de sangue. É por isso que, de acordo com os especialistas, a injeção das plaquetas diretamente no local acelera o processo. "Uma lesão que demoraria dois meses pode se recuperar em 15 dias", afirma Bittencourt.
Segundo os especialistas, as plaquetas ajudam a regenerar ligamentos e fibras de tendões, o que pode reduzir o período de reabilitação e, assim, evitar a necessidade de cirurgia.
Atualmente a técnica vem sendo muito usada em atletas, grandes vítimas desse tipo de lesão. Nos casos de tendinite, a terapia costuma ser oferecida ao paciente quando ele já passou por outros tratamentos convencionais, como fisioterapia, sem resultado.
"Os resultados nas lesões musculares também são excelentes", diz Joaquim Grava, consultor do departamento médico do Corinthians. "Há casos de lesões que demorariam de oito a dez semanas para se recuperar com fisioterapia e, com a aplicação do plasma rico em plaquetas, o jogador voltou a jogar em 15 dias."
A utilização dessas plaquetas não oferece riscos de rejeição ou de reação alérgica, já que são células do próprio paciente. A aplicação normalmente é rápida -dura em torno de 30 minutos- e a recuperação é muito mais fácil do que a de uma cirurgia convencional.
Falta de consenso
A técnica é contraindicada, no entanto, para pacientes com câncer, para quem tem infecções agudas ou pessoas que têm baixo número de plaquetas no sangue, quadro que pode ser causado por doenças da medula óssea. O procedimento, que custa em torno de R$ 3.000 por aplicação, ainda não é coberto pelos planos de saúde.
"Ainda não temos evidências científicas que confirmem a eficácia do tratamento", pondera Romeu Krause, presidente da SBOT. "Não há consenso na literatura e o paciente deve ser informado a respeito disso", lembra Krause.
"Não é um tratamento experimental, ele faz parte do arsenal terapêutico, mas ainda há questões em aberto, como qual o fator de crescimento ideal que deve ser usado ou se há casos de resposta exacerbada", opina o ortopedista Ricardo Cury, do Grupo de Cirurgia do Joelho e Trauma Esportivo da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho.
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