domingo, 19 de julho de 2009

O DESEMPREGO - Entrevista de Domenico De Masi no Roda Viva de 4/1/1999

[Resumo "impressionístico" preparado por Eduardo Chaves]

No dia 4/1/99 o programa Roda Viva da TV Cultura mostrou uma fascinante entrevista gravada com Domenico de Masi, sociólogo italiano. A entrevista foi um sucesso tão grande que a repetiram já na semana seguinte, dia 11. Segundo me disse a TV Cultura eles não tinham a menor condição de atender a todas as demandas de cópias da fita (incialmente a 49 reais, hoje a 35), de modo que terceirizaram a produção de fitas para uma empresa, que também não está conseguindo atender à demanda.

O livro do entrevistado (A Emoção e a Regra, vide acima), que ele havia vindo lançar aqui no Brasil, sumiu das livrarias, esgotado face à tamanha procura.

De Masi era socíólogo do trabalho e virou sociólogo do lazer. Esse fato apenas já dá uma idéia de suas teses. A mais fustigante é que esse desemprego que vemos ao nosso redor hoje é estrutural e só tende a aumentar -- na realidade, aumentar a tal ponto que a maior parte de nós ficará desempregado no século XXI. A razão é óbvia. No século passado, mais de 50% dos trabalhadores estava na agricultura. Hoje, nos países avançados, não há mais do que 2% dos trabalhadores na agricultura. O trabalho é feito por máquina. O pessoal que ficou desempregado no setor agrícola, por causa da automação, porém, veio para as cidades e encontrou emprego nas fábricas. Num determinado momento, o emprego industrial foi responsável pela ocupação de quase 50% da mão-de-obra (literalmente falando) economicamente ativa. A tendência, nos países desenvolvidos, é que, em pouco tempo, o percentual dos trabalhadores na indústria fique próximos dos 2% que hoje trabalham na agricultura. Boa parte dos desempregados da indústria ainda hoje acha emprego em escritórios, mas nem todos. O problema é que os escritórios estão se automatizando e enxugando a sua força de trabalho. Os serviços (bancos, por exemplo) estão se automatizando com uma rapidez incrível. O comércio começa a vender on-line, pela televisão. Numa situação de recessão econômica, até o turismo e o lazer passam a ser virtuais. O problema maior, segundo de Masi, é que agora não há perspectiva de que surja um novo setor que vá empregar esses desempregados, porque os novos setores que surgem todos fazem uso intenso da tecnologia.

"Quoi faire?" Segundo de Masi, acostumar-se com a idéia de que o trabalho não será, nem poderá ser, daqui para diante, sinônimo de fonte de renda para sobrevivência -- se o for, a maior de parte de nós tenderá a morrer, se não desempregado, nas mãos das revoltas dos desempregados.

De Masi não propõe um programa de renda mínima, mas nos desafia a encontrar uma solução criativa e realista para o problema, em vez de ficar ingenuamente imaginando que um novo plano econômico (ou um novo partido no governo) irá conseguir reativar a economia e acabar definitivamente com o desemprego.

Na área educacional, de Masi menciona que gastamos, CADA VEZ MAIS tempo, energia e dinheiro preparando as pessoas para algo que elas vão fazer CADA VEZ MENOS: trabalhar. Por isso ele deixou de ser sociólogo do trabalho e passou a ser sociólogo do lazer.

Estou resumindo uma entrevista de duas horas, e resumos são sempre inadequados. Além do mais, cada um "pesca" da entrevista o que mais chama a sua atenção (em função de seus interesses). Todos deviam ver a entrevista. A fita que, como já disse, custa 35 reais, pode ser obtida através do Vídeo Cultura, telefone (0800) 12-6122

Só para dar um exemplo mencionado por de Masi. Ele disse que se choca, quando vem ao Brasil, de ver jovens (alguns adolescentes) trancados dentro de um elevador apenas para fazer algo que todos nós sabemos fazer por nós mesmos: apertar um botão. Emprego totalmente inútil, e (naturalmente) mal pago. Se o ascensorista custasse ao condomínio mais, eles o substituiriam por um elevador totalmente automatizado. Como custa o salário mínimo (imaginamos), pagam. Segundo de Masi, sairíamos todos ganhando se o condomínio desse os 130 reais para o ascensorista ir estudar, ou mesmo ir se divertir. Mesmo nesta última hipótese ele sairia ganharia em muitos aspectos: deixaria de ficar trancado num cubículo de 1,20 por 1,20 m.; poderia ficar ao ar livre, fazendo algo de que gosta, etc.

[Contribuição de Eduardo Chaves para o EduTec, em 5/2/99]

FONTE : http://edutec.net/Textos/Alia/MISC/edmasi1.htm

*Vide também a Entrevista de Domenico de Masi no Roda Viva de 21/6/99
http://edutec.net/Textos/Alia/MISC/edmasi2.htm

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