terça-feira, 16 de junho de 2009

BATALHA DA USP: FINALMENTE, A VERDADE

Alberto Dines, lenda viva do jornalismo brasileiro, escreveu há algumas semanas que a Folha de S. Paulo estaria disposta a reverter o processo de direitização que vem (ou vinha) implementando de uns dois anos para cá.

Ainda não há elementos que nos permitam emitir um juízo definitivo, mas vale registrar que na edição desta terça-feira (16) há dois textos dos mais esclarecedores, nos espaços de Opinião, sobre a Batalha da USP.

Caio Vasconcellos e Ilan Lapyda, coordenadores da Associação de Pós-Graduandos da USP-Capital, assinam o artigo USP: diálogo ou monólogo? ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1606200908.htm ), que tem minha total concordância. Vale reproduzir alguns trechos:
"A reitoria fechou os canais de negociação com os movimentos da USP, deslegitimando a política como esfera de solução de conflitos e recorrendo a uma força externa de repressão.

"Essa opção, que expressa seu caráter autoritário, infelizmente coerente com a estrutura de poder da USP, possui a especificidade de ser uma reação às atuais pressões externas e internas por democracia.

"A USP tem enorme concentração de poder: apenas os professores titulares são elegíveis ao cargo de reitor, e este é eleito praticamente só por professores titulares.

"Além do fator estrutural, há um movimento crescente de autoritarismo que torna mais opacas as decisões políticas na USP.

"Desde maio de 2008, as reuniões do Conselho Universitário não têm ocorrido em seu devido local, no prédio da reitoria, mas no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), área com proteção militar e não pertencente à USP.

"Ao todo, cinco reuniões foram realizadas no Ipen. Em duas delas, os representantes estudantis e dos funcionários não foram avisados da mudança de local, o que resultou na aprovação do orçamento para 2009 e na reforma do estatuto da USP sem as suas presenças, além de outros graves problemas procedimentais na votação.

"Não seria a reitora, bem como o grupo do Conselho Universitário que legitima suas medidas por meio de 'resoluções', o pivô da violência e da violação - das instituições, da democracia e da política-, ao se esconder em área militarizada e militarizando o campus para não se abrir ao debate?

"O atual clima de horror é incompatível com as funções de reflexão crítica e produção científica independente. A USP deveria ser o espaço do diálogo efetivo, e é ele que deve mediar os legítimos conflitos políticos.

"Se a democracia está travada e a violência parte da reitoria, ao se furtar ao debate e recorrer à repressão policial, fica claro que Suely Vilela não possui condições nem competência de se manter no cargo e que a atual estrutura de poder tem de ser radicalmente transformada."
"GRUPO DIRIGENTE DIVORCIADO DA PRÓPRIA UNIVERSIDADE"

E o colunista Marcos Nobre, com Violência na USP ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1606200906.htm ), também dá ótima contribuição para trazer ao debate os ângulos vinham sendo omitidos ou minimizados pela grande imprensa. Como estes:
"Dizer que a ação da polícia pretendia simplesmente restaurar a ordem ignora que todo o problema está justamente nessa ordem a ser restaurada.

"O que torna o conflito na USP mais amplo do que os muros da escola é justamente o fato de revelar quão baixo ainda é o nível de democratização da sociedade brasileira. O episódio mostra com clareza que energias de protesto e de mudança continuam represadas em universidades, sem encontrar canais efetivos de expressão na esfera pública e na política institucional.

"A USP tornou-se um emblema desse nó social por insistir em manter uma estrutura de participação e uma forma de escolher dirigentes que se parece mais com o conclave que elege o papa. Continua a preservar a estrutura de uma universidade de cátedras...

"A recusa em proceder a uma reforma estrutural aprofunda cada vez mais o isolamento da administração em relação à comunidade da universidade, visível há mais de uma década. Produz atritos internos que rapidamente degeneram em conflitos artificiais. O apelo à intervenção policial é o último recurso de um grupo dirigente divorciado da própria universidade."
De resto, como tanta gente já falou tanta coisa, evitarei chover no molhado, apresentando de forma bem sucinta minhas conclusões sobre este lamentável episódio:
  • os piquetes de funcionários não agiam com violência e, tendo a reitora credibilidade zero, são discutíveis os alegados danos ao patrimônio da universidade;
  • se tivesse a mínima qualificação para o posto, a reitora resolveria essa questiúncula sem o malsinado pedido de reintegração de posse;
  • não foi a Justiça que escolheu, para cumpri-lo, os efetivos policiais mais inadequados e truculentos, mas sim o Governo Serra;
  • também não foi a Justiça que decidiu manter as tropas no campus depois de cumprida a missão;
  • a presença inaceitável e ostensiva da PM no campus, representando uma óbvia provocação aos manifestantes que realizavam um protesto pacífico, tornou inevitável o conflito;
  • as agressões a professores, estudantes e funcionários da USP só têm paralelo com as bestialidades da ditadura militar, como a invasão da PUC/SP em 1977;
  • é imperativa e urgente a retirada da PM do campus, antes que ocorra uma tragédia;
  • é imperativa e urgente a destituição da reitora e sua substituição por um(a) educador(a) com formação democrática e abertura para o diálogo.


CELSO LUNGARETTI

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