Brasil tem raízes jesuíticas, difícil não ver o óbvio, que o Cristianismo e outras tantas religiões são muito relevantes para a maioria do povo brasileiro.
Quando posso assisto um programa muito bom na Tv Brasil, Retratos de Fé. Se os professores assistissem teriam boa base para tratar de religião nas escolas.
Religião é assusto muito polêmico e o ensino dela nas escolas, mais ainda. Num sistema educacional falido não adianta nada ir colocando disciplinas novas. Já passou da hora de todo o sistema educacional mudar.
Nadia Gal Stabile - 08 07 2015
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/stf-debate-ensino-religioso-em-escolas-publicas
http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/noticia/2015/06/camara-aprova-projeto-sobre-ensino-religioso-em-escolas-em-itapetininga.html
Inteligência sem deuses
Richard Dawkins hoje reina entre os ateístas, por sua defesa vigorosa
do pensamento científico e pela crítica humanista aos enganos da
religião. O pensador inglês tem a seu favor o lastro de milênios de
pensamento crítico e o vigor de argumentos necessários para a
civilização. A meta é a emancipação do humano diante do que ele mesmo
criou, uma rede de representações do mundo sobrenatural, onde habitariam
deuses e de onde comandariam a vida na Terra e no além. Emancipado, o
indivíduo moderno pode chamar de ficção cultural o que bilhões de
pessoas chamam de Senhor, e pode fundar sociedades sobre valores de
liberdade, de tolerância e de consistência moral e jurídica.
Minoritários, os ateus parecem exóticos, e a crença em divindades,
natural. Isto obriga os ateus a manter um arsenal de argumentos, certa
vigília e, eventualmente, atitude de combate, o que aborrece crentes e
produz nova safra de desentendimentos. Sem a galhardia dos céticos,
agnósticos e ateus, porém, pouco saberíamos do universo, do corpo humano
e das soluções jurídicas e tecnológicas que enchem de conforto a vida
moderna. A discussão entre razão e fé não pode ser arquivada; será atual
por muitos séculos.
Instituída há 5.000 anos, junto com o Estado
e antes de alfabeto, biblioteca, museu, universidade, telescópio e
internet (!), a religião é o antigo antiquado intrometido na
modernidade. Todavia, alguns antigos já percebiam o problema, e o
disseram com inteligência que parece moderna, falando nosso idioma.
Ei-los.
Escrito na tumba do faraó Intef II, no Egito de 4.084
anos atrás, o “canto de um harpista” revela inteligência cética onde
imperava poderosa teologia. "Ninguém volta (...) para dizer o que
precisam (...)”, diz a canção: tudo o que se fala do além (base da
cultura egípcia) é invenção dos que aqui estão, em estado de ignorância.
“Por isso alegra teu coração, esquece que serás um espírito, segue teu
desejo por mais que vivas, põe mirra em tua cabeça, veste linho fino”,
canta o(a) harpista, antecipando em 2.000 anos o famoso carpe diem
(colhe o dia) do poeta latino Horácio. Nada sabemos, vivamos do melhor
modo possível.
A segunda geração de filósofos gregos questionou a
natureza e função das divindades. Xenófanes de Colofão: “Se os cavalos
tivessem mãos e pudessem grafar, fariam seus deuses com a imagem de
cavalos”; para não restar dúvidas, arremata: “os egípcios pintam seus
deuses baixos e negros, os trácios os fazem altos e ruivos.” A religião,
depreende-se, é produto cultural, relativo, criado pelo homem com
auxílio de imagens, que dão forma à crença e a comunicam. Muitos se
perguntam onde caberiam todas as divindades imaginadas ao longo dos
séculos. E afinal, qual dos mitos é o verdadeiro? O meu, o teu, o do
mais forte, o mais belo, o mais filosófico, o mais moral, o mais
oriental, o que sacia ansiedades, o que entorta braço, o que me aproxima
da cura ou da pessoa amada? Todos ficção, o que não os deleta, muito
pelo contrário, redime os mitos e os faz matéria preciosa para a
compreensão dos símbolos que formam a cultura. Logo, a imaginação é grau
maior do mito e das religiões; antes de Dawkins já estavam aqueles
gregos e Freud, Frazer, Lévi-Strauss e Mircea Eliade para ler este
código cultural. Todos herdeiros de Heráclito: “Que são os deuses?
Homens imortais. Que são os homens? Deuses mortais.” O humano promete
mais, e pode a cada dia superar-se.
Sobre o território para o
pensamento emancipado, brilharam os sofistas, na Atenas do século V
a.C.. Mestre de Péricles, Anaxágoras de Clazômenas foi acusado de
ateísmo, ao propor que a Lua não era Selene, irmã do Sol e da Aurora,
mas um corpo celeste resultante da colisão de um astro contra a
superfície da Terra, de onde desprendeu-se uma parte, lapidada pelo
tempo, ora em órbita (exatamente o que hoje se pensa sobre a formação da
Lua). Eis a ciência crescendo em um mundo em que os deuses podiam
tornar-se obsoletos. Atomistas como Epicuro e Lucrécio Caro, e cínicos
clássicos como Diógenes, completaram a cena antiga do pensamento
emancipado.
Novidades, doravante, somente na era moderna, com a
sagacidade de Giordano Bruno, desafiando cosmologia opressora, com a
ironia de Voltaire - um Xenófanes com muito estilo e prosa, ou com a
lucidez de Immanuel Kant, em cuja obra se funda a dimensão política e
ética do homem contemporâneo. Bem lido, Kant responde à pergunta do
cardeal Martini a Umberto Eco, no célebre debate: em que crêem os que
não crêem? Naquilo que podem determinar pelo pensamento e optar por
critério ético de universalidade, sem medo de castigo infernal ou
carência de tutela divina. Faltava pouco para Nietzsche reler e inverter
Lutero, e declarar a morte de deus.
O cadáver, todavia, é
imenso, e nele ainda se refestelam exploradores de toda ordem, dos mais
polidos aos mais afoitos, que ora aceleram a máquina religião com força
máxima, e enriquecem com os votos e dízimos de milhões de iludidos. Em
cenário de crise e no vazio de uma educação pública decente, os crentes e
sua ofensiva política e social são hoje um dos principais desafios do
Brasil e do mundo, prontos para reverter o frágil edifício da
civilização. Eis porque todos os artistas e filósofos, do harpista
egípcio a Dawkins e cada um de nós, hoje precisam assumir sua
modernidade e defendê-la como se fosse a muralha de uma cidade chamada
liberdade.
http://tvcultura.cmais.com.br/jcdebate/videos/jc-debate-sobre-religioes-no-colegio-08-07-2015
http://tvbrasil.ebc.com.br/retratosdefe
*amiga Lea envia:
http://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/brasileiros-retratam-uma-outra-nigeria-onde-fe-ancestral-ioruba-predomina-15872849
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