Quanto vale a 5ª Sinfonia de Beethoven?
Foi o
que me perguntei numa madrugada dessas. Não saberia responder,
mesmo. Existem coisas, concluí, não adianta, não têm como
mensurá-las. Aí, dei de pensar, ou matutar, como falava o meu amigo
Théo, caipira, do interior de São Paulo. Fui atrás do prejuízo,
como dizem outros. Afinal, eu formulara a pergunta. Então, a
responsabilidade recaíra sobre mim mesmo.
Pirâmide
Social. Vou começar por aí, pensei. Vasculhei algumas páginas lá
na Internet e, até, livros, pra entender melhor essa tal tão
propalada e considerada, Pirâmide Social. Nossa! Fiquei assustado
com tal estrutura. Fui tentando entender, recuei, desde lá das
pirâmides do Egito que, não são e não será fácil desfazê-las,
tampouco cairão de uma hora para outra. Napoleão, que não era
nenhum louco, quando exclamou, ao deparar-se com elas: “Quarenta
séculos vos contemplam!”. Quatro mil anos, ou mais; É mole? Acho
que não caem nem com reza brava. Mas, alguns esperançosos, acham
que, um dia, a tal Pirâmide Social, supondo que é mais frágil que
as do Egito, cairão por terra. Duvi-d+o=dó. Ou, pelo menos, não
estarei por aqui. Quem viver, talvez, verá. Também, pensei no tripé
Estado, Igreja e a “Comunidade” do Sistemão. Nem me aprofundei,
precisaria de mais uma vida inteira.
Certa
vez perguntei para um mestre de obras, meu conhecido, por que as
estruturas usadas, tanto para ficarem fixadas (tesouras, cumeeiras e
outros bichos), quanto aos meios de se ir levantando uma construção,
são na forma triangular. Ele disse que o triângulo era o melhor
suporte para segurar qualquer coisinha, mesmo que seja, ainda, uma
coisona. Numa obra, revelou o mestre, é só pegar três pedacinhos
de madeira e três preguinhos, desses manjados 12 x 12, e estará
construída a fortaleza. Nossa! Juntando as informações do meu
amigo mestre de obras e alguns dados da minha investigação, me
assustei. Ele também dissera que o triângulo por ter três ângulos,
interligados, tinha essa propriedade. Mas, se a tal de pirâmide tem
quatro triângulos, postados sobre um quadrado, cujos lados, são,
também, os lados, ou bases, de cada um desses triângulos e, ainda,
lá em ciminha tem um vértice pra ninguém botar defeito... Parei.
Desisti. Vai ser forte, assim, nas profundezas do inferno. Esses
egípcios... Nem tentei fazer os cálculos.
Por
saberem, os analistas políticos e econômicos - expertinhos
como eles só - que a pirâmide é um “achado”, passam, e
passarão, a vida inteira tomando-a como o seu cavalo-de-batalha.
Pano pra mais de metro. Vichi! A vida inteira, dela sobreviverão.
Quatro milênios, não são apenas uma vida. Bota um monte de
gerações nisso. Bem, até aí morreu Neves. E a tal de Pirâmide
Social, propriamente dita? Tive que percorrer algumas etapas da
evolução do homem, até chegar aonde cheguei. Quando atingi o cume,
maneira de falar, não sei se é assim que se diz, foi que comecei a
entender melhor. Ora, além de formar esses quatro triângulos, na
subida, existe, ainda, na base, o quadrado, mais quatro lados,
formado, ao mesmo tempo, pelos próprios lados dos tais triângulos,
para sustentá-los. Parece coisa de louco, mas não é. Tirando essa
rigidez toda fora, o que será, no frigir dos ovos, que sustenta
aquela pontinha, lá de cima? Uma das explicações achei numa frase
corriqueira: “Você ainda chega lá”. Ou, “Eu ainda chego lá.”.
Uma espécie de incentivo mal intencionado do sistemão que fez água,
novamente, em 2008. Saindo daqui debaixo, considerando a tal de
Pirâmide Social, pra se chegar lá, me pareceu lógico, o sujeito
terá que se valer de vários degraus, humanos. Por vezes,
mais
exatamente pela maioria das vezes, fica-se pelo caminho. Aí, não
tem cristão que dê jeito. É uma longa estrada, Pior, na subida.
Ainda, pra se chegar lá, é preciso ser bom de capoeira, rasteira,
cotovelada, puxação de tapete e, claro, bom de corrupção, roubo e
de hipocrisia, também. E, disso tudo saber se defender. Os que
estão, ou pensam que estão no meio do caminho (aí, precisa
imaginar outra pirâmide, cujas bases, mantendo a mesma estrutura,
vão-se estabelecendo ao longo da subida). Se for na descida,
vertiginosa, certamente será. Triângulos abaixo e, sabe-se lá,
quantos quadrados durante a queda, assim, no rapidão, se
apresentarão?
Isso
tudo começou por que eu estava assistindo a um vídeo da Orquestra
Filarmônica de Viena, no Youtube, sob a batuta do maestro
Leonard Bernstein. A orquestra e o maestro, todos tomados, me
pareciam, por um transe, levados por essa tal de 5ª Sinfonia, de
Beethoven. O maestro se contorcia todo, suava, regia, fazia caretas,
se escabelava todo sem ficar bravo com ninguém. Por vezes, fazia até
cara de satisfeito. Acho até, que era ele quem estava provocando
aquele “tumulto” musical, deliberadamente. Um monte de músicos,
ainda, uma diversidade bárbara de instrumentos. Pensei: Mas o que
está acontecendo? Parece que estão loucos? Uma hora, tudo pianinho,
pianinho, daí a pouco, nossa, um deus nos acuda. Porém
percebi que eles estavam bem era gostando da coisa.
Como
não entendo de sinfonias, fiquei ali, por quase quarenta minutos,
tentando saber o que, realmente, poderia estar acontecendo.
Sujeitando-me a várias repetições do tal vídeo. Ainda li que o
tal de Beethoven tinha problemas auditivos. Eu, hein? Informaçãozinha
aqui, outra ali, fui juntando os pauzinhos e, ao final, aliás,
depois do final, já nem sei em que replay, eu já me considerava um
entendido em sinfonias e em Beethoven. Ainda assim, não me contive,
voltei a perguntar a mim mesmo:
Quanto
vale a 5ª Sinfonia de Beethoven?
Parei
por aí. Foi o meu melhor presente de Páscoa. Dei-o a mim mesmo.
R - A Quinta Sinfonia de Beethoven não tem preço.
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