Por Celso Lungaretti
Quando
se aproximava o fim da ditadura, os criminosos fardados agiram como
quaisquer outros criminosos: eliminaram as provas dos seus crimes.
Mas, caxias como eles só, fizeram a besteira de relacionar os documentos, à medida que os iam incinerando.
Ainda não sabiam que isto deve ser feito na calada da noite, sem testemunhas nem registros, para não acabar virando reportagem do Fantástico --como aconteceu no final de 2004, quando foi escancarada uma queima de arquivos na base aérea de Salvador...
Seu know-how, aliás, continua meio amadoresco. No começo do mês passado, quando montaram um mutirão de reclassificação de documentos secretos, não escolheram subalternos 100% confiáveis: um deles deu o serviço para a imprensa. Se aqui não fosse o país dos panos quentes, estariam presos por sabotarem descaradamente a Lei de Acesso à Informação, desacatando a comandante suprema das Forças Armadas (a presidente Dilma Rousseff) e o ministro da Defesa (Celso Amorim), além de transformarem em motivo de galhofa as leis aprovadas pelo Congresso.
Enfim, é devido à falta de know-how dos incendiários acidentais que podemos agora dimensionar a obra desses piromaníacos da caserna: no segundo semestre de 1981, quando o ditador da vez era João Baptista Figueiredo, foram reduzidos a cinzas aproximadamente 19,4 mil documentos secretos produzidos após o nefando 1º de abril de 1964.
Sobre o teor de cada um deles resta apenas um resumo de uma ou duas linhas, em 40 relatórios encadernados aos quais a Folha de S. Paulo teve acesso --o suficiente, contudo, para dar uma boa idéia do que se tentou esconder dos brasileiros.
Segundo a reportagem publicada nesta 2ª feira (2) pelo jornal da ditabranda, "boa parte dos documentos eliminados trata de pessoas mortas até 1981".
Havia também "relatórios sobre personalidades famosas, como o ex-governador do Rio Leonel Brizola (1922-2004), o arcebispo católico dom Helder Câmara (1909-1999), o poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980) e o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999)", levantamento das "contas bancárias no exterior" do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, investigação sobre a "infiltração de subversivos no Banco do Brasil", etc.
Verifica-se, ainda, que o tão criticado acobertamento de delitos cometidos por protegidos da corte também vicejava no regime militar: nunca foi levado à Justiça, como deveria ter sido, o personagem de que tratou o relatório intitulado "Tráfico de Influência de Parente do Presidente da República". Enquanto Emílio Garrastazu Médici autorizava carnificinas e ia fingir de torcedor do Mengo no Maracanã, a família faturava algum por fora...
Um dos mandantes dos piromaníacos, o general Newton Cruz, sai pela tangente de sempre, ao afirmar ter "cumprido a lei da época". Da mesma forma, os que executaram prisioneiros indefesos e deram sumiço nos seus restos mortais utilizam uma lei da época, a anistia de 1979, para escaparem até hoje da responsabilização por seus atos.
Mas, caxias como eles só, fizeram a besteira de relacionar os documentos, à medida que os iam incinerando.
Ainda não sabiam que isto deve ser feito na calada da noite, sem testemunhas nem registros, para não acabar virando reportagem do Fantástico --como aconteceu no final de 2004, quando foi escancarada uma queima de arquivos na base aérea de Salvador...
Seu know-how, aliás, continua meio amadoresco. No começo do mês passado, quando montaram um mutirão de reclassificação de documentos secretos, não escolheram subalternos 100% confiáveis: um deles deu o serviço para a imprensa. Se aqui não fosse o país dos panos quentes, estariam presos por sabotarem descaradamente a Lei de Acesso à Informação, desacatando a comandante suprema das Forças Armadas (a presidente Dilma Rousseff) e o ministro da Defesa (Celso Amorim), além de transformarem em motivo de galhofa as leis aprovadas pelo Congresso.
Enfim, é devido à falta de know-how dos incendiários acidentais que podemos agora dimensionar a obra desses piromaníacos da caserna: no segundo semestre de 1981, quando o ditador da vez era João Baptista Figueiredo, foram reduzidos a cinzas aproximadamente 19,4 mil documentos secretos produzidos após o nefando 1º de abril de 1964.
Sobre o teor de cada um deles resta apenas um resumo de uma ou duas linhas, em 40 relatórios encadernados aos quais a Folha de S. Paulo teve acesso --o suficiente, contudo, para dar uma boa idéia do que se tentou esconder dos brasileiros.
Segundo a reportagem publicada nesta 2ª feira (2) pelo jornal da ditabranda, "boa parte dos documentos eliminados trata de pessoas mortas até 1981".
Havia também "relatórios sobre personalidades famosas, como o ex-governador do Rio Leonel Brizola (1922-2004), o arcebispo católico dom Helder Câmara (1909-1999), o poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980) e o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999)", levantamento das "contas bancárias no exterior" do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, investigação sobre a "infiltração de subversivos no Banco do Brasil", etc.
Verifica-se, ainda, que o tão criticado acobertamento de delitos cometidos por protegidos da corte também vicejava no regime militar: nunca foi levado à Justiça, como deveria ter sido, o personagem de que tratou o relatório intitulado "Tráfico de Influência de Parente do Presidente da República". Enquanto Emílio Garrastazu Médici autorizava carnificinas e ia fingir de torcedor do Mengo no Maracanã, a família faturava algum por fora...
Um dos mandantes dos piromaníacos, o general Newton Cruz, sai pela tangente de sempre, ao afirmar ter "cumprido a lei da época". Da mesma forma, os que executaram prisioneiros indefesos e deram sumiço nos seus restos mortais utilizam uma lei da época, a anistia de 1979, para escaparem até hoje da responsabilização por seus atos.
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