Você pode pensar em escrever uma média de dez a quinze linhas. Há quem estenda os minicontos até uma página, porém. Os de uma linha também são chamados de microcontos, só para se ter uma idéia de que essa nomenclatura tem mesmo a ver com sua dimensão.
Os teóricos do miniconto costumam, em nome de uma “estética da brevidade”, dizer que se trata de um gênero que vem ao encontro de nossa vida loca: de nosso culto da velocidade e de nossa cultura do impacto. Esta, porque um dos segredos e uma das recorrências do miniconto, é a surpresa do fim do texto. Com a vantagem de não se precisar ler 345 páginas até chegar a ela.
Dá para comparar um miniconto a uma boa piada. Esta não pode ser comprida demais senão a atenção de quem a ouve vai para o espaço. Há uma história, na anedota, que pega o ouvinte de cara, desenvolve-se e fecha com uma frase surpreendente ou por uma situação inesperada dos personagens, provocando o riso pela surpresa. O miniconto, como qualquer ficção curta, tem de pegar o leitor de cara, com recursos expressivos capazes de interessá-lo a seguir o desenvolvimento da história até chegar a uma reviravolta que provocará a surpresa e que geralmente é o objetivo do escritor.
A fração de uma idéia
Quais são os truques para escrever o miniconto? Algo como um de Juan José Arreola: “A mulher que amei, se transforma em fantasma. Eu sou o lugar das aparições”? Comece, antes de mais nada, por uma idéia pequena. Tome alguma idéia grande e procure pelas menores que existem dentro dela. Por exemplo, para discutir a inter-relação de pais e filhos, você não precisa escrever um complexo romance de muitas páginas.
Pegue as idéias menores que há nesse grande tema. Assim, como as crianças se sentem quando ficam à margem de uma conversa entre adultos? Ou o que elas fazem quando estão chateadas no banco traseiro de um automóvel? Se aparece um mau boletim. Os sentimentos de um filho do meio, e um grande etc.
De cara, você tem de se concentrar no fato de que não tem duas páginas para explicar todo o começo de uma história. Descubra um jeito de colocar tudo em um parágrafo. Daí, conte o resto.
O começo sem preâmbulos
Uma boa maneira é começar a história no meio da ação. Nada de preâmbulos: mostre um homem que está correndo, uma bomba está explodindo, um monstro está surgindo. Só descreva o que for necessário, pois o leitor irá preencher as lacunas. Bom recurso para isso é recorrer a um cenário que o leitor conheça e você não precise descrever, como por exemplo um jogo no Maracanã, um acontecimento num teatro, por aí. Da mesma forma, uma imagem poderosa ajuda, para focalizar a história, como uma rua arrasada pela guerra.
A reviravolta final
O xis da questão com o miniconto são dois: o começo e o final. A não ser que você tenha facilidade para o conto equivalente ao disparar de um flash, como o célebre de Ernest Hemingway: “Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.” Para o final, é recomendável a tal da reviravolta, como no conto convencional ou na crônica. A reviravolta surge, geralmente, porque o miniconto não tem tempo nem espaço para mostrar como a trama afetou os personagens. Uma boa frase pode resolver sua história e carregar sua mensagem.
O absurdo com humor
Pense no miniconto como um corte de uma história maior, uma fatia de bolo que tem os ingredientes para dar uma boa idéia do sabor do bolo todo. De certa forma, uma fatia de vida. Nele, você dá ao leitor uma leitura rápida com todo o prazer da ficção. É um gênero perfeito para você explorar sua criatividade e contar histórias de um ponto de vista extremamente diferente, até mesmo absurdo.
O absurdo, como o humor, é difícil de praticar em textos mais longos e cabe como uma luva no miniconto. Ele serve ainda como um ótimo exercício de criação: obriga a usar poucos advérbios e poucos adjetivos e a empregar verbos de ação. Confira, por exemplo, este de Cíntia Moscovich: “Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.”
Escrever é cortar
O primeiro-ministro inglês Winston Churchill deu certa vez um sábio conselho: “Das palavras, as mais simples. Das simples, a menor.” O que é absolutamente perfeito para quem escreve minicontos. Afinal, o gênero não serve para mostrar um extenso vocabulário ou virtuosismos. No miniconto contam mais a criatividade e a possibilidade de narrar uma história em espaço limitado. O que não quer dizer pobreza de recursos expressivos, mas, sim, a aplicação de uma regra que serve para todos os gêneros: escrever é selecionar.
Créditos: http://subrosa3.wordpress.com/2007/07/22/historias-em-apenas-uma-linha/
FONTE: http://recantodasletras.uol.com.br/forum/index.php?topic=3087.0
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