depois daquele dia

depois daquele dia

há dias que ficam para sempre
não sei se o que aconteceu foi uma epifania 
só sei que depois daquele dia (1979, ou por ai)
eu mudei, ou eu tive que mudar
nem posso tentar descrever o que houve
porque não há palavras para descrever

talvez por causa daquele dia
eu passei a entender muito mais Paulo Freire
ou eu tenha passado a entender tudo melhor

por causa daquele dia
hoje vejo bem as saídas pelas tangentes
dos homens e de todos
os homens custam a dizer que enxergam certas coisas
então, preferem sair pelas tangentes
é compreensível...
mas não perdoável e é de dar dó

a maioria das mulheres concorda
com as saídas pelas tangentes dos homens
elas sabem bem que a opressão
não atinge só a elas
tem  intelectuais que preferem o outro livro de Paulo Freire
e deixam um pouco pra lá o que fala sobre oprimidos
mas não dá pra fingir que a fase da opressão passou
a maioria das pessoas talvez nunca tenha 
entendido o que seja determinismo e relativismo
e a relevância de se entender um pouco só estas coisas

esta falta total de *equanimidade
entre várias coisas, como etnias, gêneros...
níveis intelectuais, sociais...
degringola tudo e até degola
processos que nunca deveriam
ser degolados
e assim caminhamos ainda na opressão
onde as pessoas antes mesmo, 
de descobrirem que possuem cabeças pensantes
estão sendo degoladas.

pra que estou a falar sobre estas coisas?
pra que escrevo se nem tenho talento pra coisa?
pra que uso meu tempo tentando fazer coisas
que julgo hiper complicadas?
pra que estamos neste mundo, neste país?
porque atualmente as pessoas se sentem tão impotentes?
porque elas não se lembram das pessoas do passado
que tiravam leite das pedras?
porque nós mulheres ainda temos de tomar consciência
de todas as injustiças terríveis pelas quais nosso gênero passou?
se a opressão do homem pelo homem começou com 
a opressão do homem sobre a mulher...temos muito o que
recapitular, resgatar e reescrever para influir no todo que anda um caos.

nadia gal stabile - 13 03 2017

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