terça-feira, 27 de março de 2012





Um Novo Livro de Cesare Battisti
Carlos A. Lungarzo
No dia 12 de abril, Cesare Battisti e sua editora (a casa Martins Fontes), apresentarão a primeira versão em português de seu novo livro, Ao Pé do Muro, no Rio de Janeiro.
O evento contará com um painel de debates, no qual estarão vários convidados, entre eles a tradutora Dorothée de Bruchard (responsável também pelas outras duas traduções ao português).
O encontro será realizado no dia 12 de abril, na sucursal da Livraria da Travessa situada no Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205 A). O CEP e o telefone são, respetivamente 22430-060 e (21) 3138 9600. A reunião está prevista para as 19:00 horas.
O livro já foi apresentado na versão francesa no dia 7 de março, com o título Face au Mur, uma expressão que pode referir, igual que em português, a uma situação na qual uma pessoa que vinha fugindo de algo bate num muro que corta sua fuga. A expressão completa, que foi cunhada no século 16 é “estar de cara ao muro e sem escala” ou, como é mais comum em português, “estar contra a parede”.
Em minha opinião, isto possui um significado especialmente interessante na obra de Battisti: agora será necessário voltar à cara na direção do inimigo e lutar. Como sabemos, até o final de 2010 não sabíamos se o escritor sairia vitorioso da luta contra os inquisidores que o acossavam.
Tereza Cremisi, a presidente da editora Flammarion, que lançou o livro em francês, disse que ficou fascinada de que o autor tenha tido a capacidade de falar do Brasil através dos prisioneiros brasileiros. Esta representação da sociedade através de seus reféns jurídicos encontra sentido num comentário que o próprio Battisti fez no Fórum Mundial Temático, em Porto Alegre, no final de janeiro passado, quando se referiu à frase de Nelson Mandela, de que a melhor forma de conhecer a sociedade é através de seus presídios.
Surpreende a coerência narrativa e outros valores que eu menciono no prefácio, tendo em conta que esta obra foi escrita em duríssimas condições: durante dois anos e meio, salvo em algumas circunstâncias, Battisti deveu escrever a mão, escondido dentro da cela, ocultando as folhas de papel e a caneta, porque, como é natural para a mentalidade dos cérberos, ler e escrever  tornam as pessoas mais dignas e, portanto, mais perigosas.
Um comentador da edição francesa se refere ao autor como um grande escritor, e indica o que considera os pontos fortes do livro. Um é encontrar um Battisti inesperado; nas palavras do resenhista, estamos longe do romance policial ou do relato de fuga; é uma “história de amor e de trevas sob alta tensão”.
O segundo ponto é a visão rica e vivente do Brasil, através de homens e mulheres considerados “inesquecíveis”. Suas histórias são como “janelas abertas ao Brasil”.
O conteúdo do livro já foi relatado duas vezes em eventos brasileiros (uma em Fortaleza e outra em Porto Alegre), mas nunca tinha sido formalmente mostrado ao público porque, em ambas as situações, a obra não tinha sido ainda impressa.
Para a vindoura apresentação, Battisti gostaria de enviar convites pessoais a todos os que colaboraram na sua libertação, e Cesare me pediu a mim a lista dos que assinaram contra a extradição. Um traço muito forte do autor (traço pessoal, sem dúvida, mas que tem a ver com a enorme solidariedade que caracterizou a real esquerda européia dos anos 70) é seu profundo sentimento de gratidão, mas faço aqui um convite geral.

Com este livro, Battisti retoma plenamente a fase de escritor de seus melhores tempos, interrompida pelo sequestro policial de março de 2007. Esta não é exatamente uma nova etapa, mas um estágio posterior da contínua obra cultural e literária do autor.
A fase do escritor e ativista cultural e social substituiu o lutador armado há muito tempo, no começo de 1982. Ainda assim, nem os chacais italianos nem os brasileiros podiam reconhecer isso, porque admitir que um homem é perigoso por seu pensamento, significa reconhecer que o alvo atingido por esse pensamento é tão inconsistente que não resiste a crítica.

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