Um Novo Livro de Cesare Battisti
Carlos A. Lungarzo
No dia 12 de abril, Cesare Battisti e sua editora (a casa Martins Fontes), apresentarão a
primeira versão em português de seu novo livro, Ao Pé do Muro, no Rio de
Janeiro.
O evento contará com um painel de
debates, no qual estarão vários convidados, entre eles a tradutora Dorothée de
Bruchard (responsável também pelas outras duas traduções ao
português).
O encontro será realizado no dia 12
de abril, na sucursal da Livraria da Travessa
situada no Shopping Leblon (Av.
Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205 A). O CEP e o telefone são,
respetivamente 22430-060 e (21) 3138 9600. A reunião está prevista para as
19:00 horas.
O livro já foi apresentado na versão
francesa no dia 7 de março, com o título Face au Mur, uma expressão que pode
referir, igual que em português, a uma situação na qual uma pessoa que vinha
fugindo de algo bate num muro que corta sua fuga. A expressão completa, que foi
cunhada no século 16 é “estar de cara ao muro e sem escala” ou, como é mais
comum em português, “estar contra a parede”.
Em minha opinião, isto possui um
significado especialmente interessante na obra de Battisti: agora será
necessário voltar à cara na direção do inimigo e lutar. Como sabemos, até o
final de 2010 não sabíamos se o escritor sairia vitorioso da luta contra os inquisidores
que o acossavam.
Tereza Cremisi, a presidente da
editora Flammarion, que lançou o
livro em francês, disse que ficou fascinada de que o autor tenha tido a
capacidade de falar do Brasil através dos prisioneiros brasileiros. Esta
representação da sociedade através de seus reféns jurídicos encontra sentido
num comentário que o próprio Battisti fez no Fórum Mundial Temático, em Porto
Alegre, no final de janeiro passado, quando se referiu à frase de Nelson
Mandela, de que a melhor forma de conhecer a sociedade é através de seus presídios.
Surpreende a coerência narrativa e
outros valores que eu menciono no prefácio, tendo em conta que esta obra foi
escrita em duríssimas condições: durante dois anos e meio, salvo em algumas
circunstâncias, Battisti deveu escrever a mão, escondido dentro da cela,
ocultando as folhas de papel e a caneta, porque, como é natural para a
mentalidade dos cérberos, ler e escrever tornam as pessoas mais dignas e, portanto,
mais perigosas.
Um comentador da edição francesa se
refere ao autor como um grande escritor, e indica o que considera os pontos
fortes do livro. Um é encontrar um Battisti inesperado; nas palavras do
resenhista, estamos longe do romance policial ou do relato de fuga; é uma
“história de amor e de trevas sob alta tensão”.
O segundo ponto é a visão rica e
vivente do Brasil, através de homens e mulheres considerados “inesquecíveis”. Suas
histórias são como “janelas abertas ao Brasil”.
O conteúdo do livro já foi relatado
duas vezes em eventos brasileiros (uma em Fortaleza e outra em Porto Alegre),
mas nunca tinha sido formalmente mostrado ao público porque, em ambas as
situações, a obra não tinha sido ainda impressa.
Para a vindoura apresentação,
Battisti gostaria de enviar convites pessoais a todos os que colaboraram na sua
libertação, e Cesare me pediu a mim a lista dos que assinaram contra a
extradição. Um traço muito forte do autor (traço pessoal, sem dúvida, mas que tem
a ver com a enorme solidariedade que caracterizou a real esquerda européia dos
anos 70) é seu profundo sentimento de gratidão, mas faço aqui um convite geral.
Com este livro, Battisti retoma
plenamente a fase de escritor de seus melhores tempos, interrompida pelo
sequestro policial de março de 2007. Esta não é exatamente uma nova etapa, mas
um estágio posterior da contínua obra cultural e literária do autor.
A fase do escritor e ativista
cultural e social substituiu o lutador armado há muito tempo, no começo de
1982. Ainda assim, nem os chacais italianos nem os brasileiros podiam
reconhecer isso, porque admitir que um homem é perigoso por seu pensamento, significa
reconhecer que o alvo atingido por esse pensamento é tão inconsistente que não
resiste a crítica.
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