sexta-feira, 16 de outubro de 2009

NOTAS DE LEITURA - (AMIGA REGINA ENVIA)

Mando-lhe minhas notas de leitura. Se quiser, ponha no Sarau: podem ser úteis para algum estudante. Admirável pensador esse professor emérito. Parece que as deficiências que ele constata no pensamento nacional no inicio da colonização teimam em persistir.

REGINA - 09/10/09

**(o número no início das linhas é o número de página)

NOTAS DE LEITURA

CRUZ COSTA João, Contribuição à Historia das Idéias no Brasil (O desenvolvimento da filosofia no Brasil e a evolução histórica nacional) – Col. Documentos Brasileiros – Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1956

Prefácio

Para que o pensamento não seja mera fantasia sem proveito, - como dizia El-rei D. Duarte – é mister que não perca contato com a historia, com os problemas reais da vida.


INTRODUÇÃO

18 A filosofia (durante a colonização) foi assim considerada, desde logo, como uma disciplina livresca. Da Europa ela nos vinha ja feita. E era sinal de grande cultura o simples fato de saber reproduzir as idéias mais recentemente chegadas. A novidade supria o espírito de analise, a curiosidade supria a critica.

“Desde os fins do século XVIII, o pensamento português deixou de ser o nosso mestre. Fomos nos habituando a interessar-nos pelo que ia pelo mundo”. Silvio Romero, Historia da literatura brasileira, vol. II, p 151.José Olympio, RJ, 1943

79 1° reinado: dois cursos de ciências jurídicas e sociais: SP – convento de S Francisco e Olinda – mosteiro de S Bento. Essas duas escolas, nascidas à sombra de dois conventos, irão substituir, por mais de um século, uma instituição que reunira e coordenara o saber, como é a Universidade.

80 1ª metade do s XIX – filosofia no Brasil – será dai que surgirão grandes e importantes movimentos nacionais que passarão para a nossa Historia... e os homens do Parlamento Imperial.. Mas, problemas fundamentais não resolvidos, condições de vida precárias, - a nossa experiência intelectual só podia ter sido, como alias foi, apenas expressão da nossa situação colonial, que o artifício, o sibaritismo e o diletantismo das classes cultas e possuidoras de fortuna representadas nesse Parlamento procurava mascarar. Que exprimirão esses letrados políticos? Os seus interesses e uma cultura que deriva das vicissitudes da importação européia.

...81 (essa cultura) será assim, uma curiosa série de contradições e, ao mesmo tempo, um incessante esforço, que nos impele à procura do sentido das nossas ideias. ... A realidade ambiente, essa, era esquecida pela maioria dos letrados do inicio do século XIX, para os quais os moldes literários, artísticos e filosóficos da Europa pareciam calhar, como uma luva, para o Brasil.

As ideias no Brasil não descendem umas das outras, não as liga um liame histérico.

90 O trabalho servil manterá o Império e com ele terminará. Será a abolição do trafico que ira encerrar verdadeiramente a fase colonial da historia nacional. O Brasil conhecerá, a partir de então, um ritmo novo.

...Em 1850, o Império estabilizar-se-ia em seu equilíbrio natural – o de uma monarquia burguesa.

114 Será a nova lavoura do café que restabelecerá, na ultima fase do Império, a vida da monarquia. A abolição do trafico trará consigo uma outra conseqüência que é mister pôr em realce para a exata compreensão da situação histórica do Brasil dessa época. Essa medida liberaria grandes capitais que nele estavam empregados. “Até então, escreve Joaquim Nabuco, o espírito comercial e industrial do pais parecia resumir-se na importação e venda de africanos. (Um estadista do império, vol I, p 255, H. Garnier, RJ, s/d)

152 é erro  antigo nosso atribuir todos os nossos defeitos à fraqueza ou má constituição do nosso ensino, quando este apenas reflete os defeitos e as fraquezas das nossas condições sociais, políticas e econômicas.

315 é com Silvio Romero que a mercadoria intelectual de importação passa a constituir objeto de menor importância e os problemas nacionais, sobretudo os que dizem respeito à historia da cultura, passam a ocupar a atenção dos nossos letrados.

372 Euclides da Cunha

373 O sertão fizera, no alvorecer da República, a sua dramática aparição no cenário da vida brasileira, revelando aspectos trágicos de nossa formação.

...
os fanáticos foram batidos pelas nossas tropas de linha. Enquanto isso, os letrados do litoral ainda continuariam a entregar-se à tarefa de construir uma fachada européia para o pais... Só Euclides da Cunha tivera coragem de clamar a favor do homem do sertão. ... Fugiam todos ao mistério da terra. Um porém – e dos maiores – fizera sentir ao letrado saudosista do litoral toda a importância da massa que recuara para o sertão ... para exigir precisamente uma reforma – a da inteligência brasileira. O brado de alarma que precede e anuncia essa reforma, quem o deu foi Euclides da Cunha. Não é pois, como filosofo – o que seria ridículo – que ele tem saliente lugar na historia das ideias do Brasil no século XX. É porque com ele se inicia a reação contra o sibaritismo intelectual, contra a faina cega dos copistas dos pensadores de empréstimo.

375 (faz concurso para a cátedra de lógica do colégio Pedro II) Não era, porém, homem que pudesse considerar a sério as rixas intermináveis dos filósofos e os ecos irritantes da algazarra das teorias. (Carta a Oliveira Lima 5/5/1909).

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