segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Agricultura ecológica e a saúde humana

Por Fernando Bignard *

Há cerca de 50 anos surgiu nos consultórios médicos um paciente atípico: ele não trazia queixas específicas de um órgão em especial, como uma dor de cabeça ou no estômago ou uma febre. Queixava-se apenas de não estar bem; de não estar motivado para o trabalho; dizia que dormia mal a noite apesar de se sentir sonolento durante o dia; sem ânimo para o trabalho e até mesmo para o lazer e para a vida relacional. Durante décadas esse paciente foi medicado com tranquilizantes e ansiolíticos pois supunha-se que se tratava de um desequilíbrio psíquico. A situação elevou em dezenas de vezes o consumo mundial de benzodiazepínicos (ansiolíticos como o Valium e o Diempax).

Há pouco mais de uma década uma nova especialidade médica, a medicina ortomolecular, começou a estudar o metabolismo humano como um todo e percebeu que estes pacientes estavam na verdade micro desnutridos e intoxicados, isto é, apresentavam deficiência de vitaminas e sais minerais e os metais pesados e outras substâncias estavam nocivamente em excesso em seu organismo. Esta medicina desenvolveu uma forma de retirar quimicamente estas substâncias nocivas do sangue e repor aquelas faltantes através da suplementação vitamínico-mineral, procurando normalizar o metabolismo.

Mas, se transcendermos a medicina do indivíduo e olharmos ecologicamente em busca da origem dessa situação encontraremos transformações profundas nas formas de produção agropecuária que se disseminaram pelo mundo nos anos 50. Nesse período pós-guerra, a tecnologia bélica perdeu sua finalidade, mas encontrou um escoamento para sua produção transformando tanques de guerra em tratores! A prática de arar o solo era justificável e até ecológica nas áreas de clima temperado, pois trazia para a superfície do solo a camada vital que ficou latente a 40 centímetros de profundidade durante o inverno gelado. Esse método, aplicado numa região fria, auxilia a natureza expondo ao calor do suave sol de primavera a camada viva do solo possibilitando que a prática agrícola se inicie mais cedo.

Porém, quando são derrubadas as matas das zonas tropicais com os potentes tratores de esteira ligados por pesadas e grossas correntes, a camada viva superficial do solo é aquecida a 60ºC ou até 80ºC pelo tórrido sol tropical, mata-se a flora e a a fauna subterrânea pelo calor e pela destruição provocada pelo arado mecânico. Nesse solo morto a matéria orgânica não pode ser reciclada. A única alternativa é alimentar as plantas com adubo químico, pois elas só conseguem absorver a matéria orgânica que foi mineralizada pelo organismos vivos do solo. A lavoura alimentada com NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) é microdesnutrida, apesar de aparentar saúde.

A Natureza porém não se engana e, seguindo suas leis de equilíbrio e homeostase envia seus agentes para eliminar as plantas de seiva doce (sintoma decorrente do uso de NPK) como verificou Chaboussou em 1.981. estes organismos são chamados de pragas e "tratados" com defensivos agrícolas, isto é, venenos poderosíssimos que adoecem e matam os agricultores. Grando, em 1.998, constatou que somente no Estado de Santa Catarina são registrados np Centro de Informação Toxicológica da Universidade Federal de Santa Catarina 30 a 40 casos de intoxicação por agrotóxicos ao mês, chegando a 500 casos por ano, dos quais 15 em média vão a óbito.

Bortoletto em 1.993 afirma que este índice é subestimado quando pensamos no Brasil todo. Os agricultores apresentam sintomas vagos que por vezes passam desapercebidos evoluindo até dores de cabeça e estômago, fraqueza, sonolência; chegando a danos neurológicos irreversíveis, neoplasias e malformações congênitas além de abortos. Essas manifestações variam segundo a susceptibilidade do indivíduo, podendo ocorrer em pessoas que não sejam trabalhadores rurais, mas sim consumidores inconscientes que estão se intoxicando cronicamente! Além de danificar de forma irreversível o meio ambiente, a agricultura convencional está produzindo alimentos inadequados, microdesnutridos e intoxicados estendendo a mesma condição aos consumidores.

A Revolução Verde da década de 50, baseada em um olhar neomalthusiano, subordinou a agricultura ao capital industrial e ignorou métodos tradicionais de manejo ecológico do solo como o plantio direto (utilizado tradicionalmente pelos índios), adubação verde com cobertura permanente do solo, etc (Miller 2.002) A saúde e principalmente o bem-estar e a qualidade de vida decorrem não só da qualidade dos alimentos consumidos por uma população mas também do seu estilo de vida. A História mostra que os povos mais longevos e saudáveis ingeriam alimentos naturais produzidos no local que habitavam sem conservantes através de uma verdadeira agricultura, isto é, de uma cultura humana alicerçada no solo vivo reverenciado por vários rituais, integrados por uma convivência consciente e saudável com a Natureza. São exemplo desses modelos os Mayas, os habitantes da Nova guiné e também do Vale dos Hunza e Vilcabamba no Equador, bem como as populações que habitam hoje a Serra Gaúcha do Brasil. A longevidade dos colonos da região de Taquari (RS) é uma das maiores do país. Eles tem uma cultura alimentar mediterrânea (consagrada pela literatura médica mundial como preventiva de doenças crônicas) mas também tem uma relação direta com a produção agropecuária que os sustenta e tem uma forte estrutura familiar que gera confiança (Azevedo, 2.003).

Acredita-se que a natureza da espécie humana seja matriarcal. Recentes estudos arqueológicos realizados na Europa meridional sugerem que os primórdios da agricultura tenham acontecido por volta de 7.000 a.C. (...)

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