Cientistas podem ter feito a foto de um buraco negro e isso muda tudo
Especialistas explicam como uma fotografia do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea pode revolucionar vários campos da Física
25/04/2017 - 20H04/ atualizado 20H0404 / por André Jorge de Oliveira
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Uma equipe internacional de astrônomos constrói um telescópio do tamanho do planeta Terra para fotografar pela primeira vez o buraco negro supermassivo no centro de nossa galáxia.
Poderia muito bem ser o argumento de um ótimo filme de ficção científica, ou então o devaneio de uma criança apaixonada por ciência, ou ainda um projeto vago na cabeça de algum cientista sonhador. Mas é apenas a realidade.
Após duas décadas de muito esforço científico e político, pesquisadores do mundo todo conseguiram a façanha de forjar um observatório com essas dimensões. É claro que não se trata de nenhum mega-Hubble: o projeto consiste em conectar de um jeito muito engenhoso oito radiotelescópios potentes espalhados pelo planeta em uma única rede, de modo que, na prática, funcionam como um único instrumento de abertura gigantesca.
Foi assim que nasceu o Event Horizon Telescope (EHT), ou Telescópio do Horizonte de Eventos. E ele pode ter acabado de obter a primeira imagem de um buraco negro da história.
Pesquisadores envolvidos estão otimistas de que a coleta de dados mais recente, realizada durante cinco noites entre 5 e 14 de abril, tenha alcançado a sensibilidade extrema necessária para se obter a tão buscada fotografia.
O projeto emprega tecnologias de ponta impensáveis há uma década com o propósito de fotografar o buraco negro com 4 milhões de vezes a massa do Sol que fica no centro da Via Láctea, o Sagittarius A* (Sgr A* — o asterisco é pronunciado “estrela”), e outro a 50 milhões de anos-luz daqui, no coração da galáxia M87.
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Uma moeda na Lua
“A ideia de combinar observatórios de micro-ondas pelo mundo e aplicar isso aos buracos negros é bastante inovadora”, afirma Thiago Signorini, astrônomo e professor do Observatório do Valongo, no Rio de Janeiro. Signorini explica que, quanto mais distantes estiverem as antenas de rádio envolvidas e quanto menor for o comprimento de onda que elas captam, mais nítidas se tornam as imagens.
Normalmente, os radioastrônomos trabalham com comprimentos na ordem dos 21 centímetros. Já o EHT opera na faixa de 1,3 milímetro.
Isso resulta em uma capacidade inigualável de explorar objetos distantes nos mínimos detalhes. “A resolução é capaz de revelar um objeto do tamanho de uma moeda na superfície da Lua”, diz o astrônomo. Tamanha sensibilidade é necessária pois o projeto não quer só uma foto que mostre o brilhante disco de acreção, feito de enormes quantidades de matéria incandescente em órbita ao redor do buraco negro, atraída por sua monstruosa gravidade.
O foco do EHT é enxergar o horizonte de eventos, região escura que fica no centro do disco e marca o “fim da linha” do qual nada, nem mesmo a luz, consegue escapar. No caso do Sgr A*, o diâmetro dessa área, estimado em 44 milhões de quilômetros, equivale a cerca de 30 vezes o tamanho do Sol. “Pode parecer grande, mas a uma distância de dezenas de milhares de anos-luz, acaba se tornando uma coisa muito pequenina no céu”, afirma Signorini.
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