A Justiça assume o poder, sem voto nem povo
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12 04 2017
por Rodrigo Vianna
O sistema político implodiu. A República de 1988 chegou ao fim, mesmo
que ainda tenha forças para se arrastar moribunda pelo chão.
O Poder Judiciário e o Ministério Público, numa aliança prolongada
com a Globo e a mídia comercial, assumem o poder. Reparem: são 3 poderes
que não se submetem à chancela do voto. MPF, STF e Globo. E se
retroalimentam, absorvendo a legitimidade que tiraram do sistema
político.
A cobertura da Globo sobre a lista de Facchin/Janot segue a lógica
esperada: 10 minutos de bombardeio intenso contra Lula, e uma cobertura
muito mais diluída quando os alvos são tucanos. Mas a novidade é essa:
rompeu-se a blindagem tucana.
O PSDB deveria anotar essa data: 12 de abril de 2017. Desde hoje, o
partido perdeu a utilidade como contraponto ao PT. Serra, Aécio, Alckmin
e FHC (ah, o aluno de Florestan Fernandes não conhece a História
brasileira?) cumpriram o destino de Lacerda: usaram o moralismo e a
histeria das classes médias para tramar o golpe contra Dilma. E no fim
acabaram tragados pela onda que ajudaram a fomentar.
Este blogueiro escreve sobre isso desde 2015 – como se pode ler aqui.
Engana-se quem pensa que Moro e a Lava-Jato cumprem uma agenda tucana. A
agenda do Partido da Justiça, em aliança com a Globo, segue ritmo
próprio. A aliança com o PSDB era meramente tática. E se desfez.
O objetivo não era destruir o PT, mas implodir o Estado nacional. O que em parte já se conseguiu.
No sistema político, Lula é o único ainda com capacidade de liderança
para enfrentar a direita togada. Aqui e ali, personagens de outros
partidos parecem intuir que de Lula poderia vir alguma reação. Inclusive
FHC (agora sob investigação da Justiça) já deu mostras de que seria
preciso algum freio no moralismo togado. Parece pouco, e parece vir
tarde demais.
Moro e a Lava-Jato ainda precisarão manter o bombardeio para destruir Lula.
A cobertura do escândalo no JN, neste dia 12 de abril, foi uma
sucessão de “Facchin disse”, “o STF pediu”, “Moro recebeu os autos”. A
Justiça no centro absoluto do poder. O Executivo e o Legislativo
colocados de joelhos.
O clima agora é de salve-se quem puder.
A sina de 64 se repete. Os espertalhões do golpismo acharam que
empunhariam o poder. Mas a derrubada do trabalhismo significa que o
poder está agora nas mãos de uma corporação sem votos, associada à
família mais rica do Brasil: a família Marinho. O verde oliva, nesse
golpe do século XXI, foi substituído pelo tom negro das togas.
Se Moro mandar o camburão da PF parar na frente da casa de qualquer
empresário/jornalista/operário/professor, a condenação já estará
estabelecida. A Justiça pode tudo. Todos são suspeitos.
Caminhamos para um caos, num Estado que se desmonta.
Das ruas pode vir alguma resistência. Mas o fato é que vivemos numa espécie de 1968, sem AI-5 declarado.
Esse tipo de processo baseado na caça às bruxas e no denuncismo
permanente tende a devorar inclusive seus filhos. A lógica é essa. E o
caminho estará aberto para as falanges fascistas e histéricas que
votavam no PSDB e agora tentarão conduzir ao poder algo muito pior. O
caos será prolongado.
INÍCIO
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