terça-feira, 3 de abril de 2012

PM FRATUROU BRAÇO DE MANIFESTANTE NO PROTESTO DIANTE DO CLUBE MILITAR

Por Celso Lungaretti
Santana: "O troglodita que me agrediu é produto
de uma formação militar absolutamente equivocada".
A jornalista Ana Helena Tavares entrevistou um manifestante que sofreu ferimentos leves e outro cujo braço foi fraturado pela PM no último dia 29, diante do Clube Militar do Rio de Janeiro, durante o protesto contra oficiais da reserva que cometiam, impunemente, o crime de fazer apologia do totalitarismo e do terrorismo de estado. Leia a íntegra aqui.

Como na canção célebre de Chico Buarque, parece que o jeito é chamar o ladrão, pois a polícia barbariza os homens de bem e atua como guarda pretoriana dos pregadores de quarteladas, ditaduras, torturas, genocídios, execuções a sangue frio, estupros, ocultação de cadáveres, etc.

Várias vezes já propus às forças democráticas brasileiras e aos cidadãos com espírito de justiça que levantem a bandeira da proibição de se fazer apologia do golpe de 1964, com o indiciamento e instauração de processos contra os infratores. 

Negar o Holocausto é crime nos países civilizados, levando à prisão até historiadores. Está mais do que na hora de o Brasil assumir idêntica postura em relação aos que até hoje envenenam a mente das novas gerações com exortações em tudo e por tudo equiparáveis às dos nazistas.

Eis os principais trechos da excelente reportagem de Ana Helena:
"'Ali, a gente não estava fazendo um carnaval, não estava fazendo palhaçada. Para ver um cara que foi do regime que matou rindo das fotos dos companheiros que foram mortos e sumiram. Rindo também de gente que estava lá, que tinha sido torturada e que traz cicatrizes no corpo', desabafa Rodrigo Mondego, de 27 anos, bacharel em direito, que esteve na quinta-feira, 29 de março, em frente ao Clube Militar no Rio de Janeiro, protestando contra a comemoração do golpe de 64.
Ele não estava sozinho. Segundo seus cálculos, havia cerca de 700 pessoas. Gustavo Santana, sociólogo, de 28 anos, também estava lá. Ambos dizem ter sido agredidos por PMs. Mondego sofreu ferimentos leves, porém Santana teve o braço quebrado e terá de ser operado.
Os jovens pensam em processar o Estado pelas agressões dos PMs e o Clube Militar por apologia ao crime: 'Para mostrar que alguma coisa tem de ser feita. Porque nós ainda não chegamos ao ideal pretendido pelos que lutaram contra a ditadura e o Estado tem que ser responsabilizado pelas atrocidades cometidas naquele período', diz Santana, que completa: 'O troglodita que me agrediu pode até ter consciência do que fez, mas ele é produto de uma formação militar absolutamente equivocada. E temos que discutir, inclusive, por que a polícia tem de ser militar. Ela pode nos proteger, mas é o contrário'.

Os dois estão receosos pela vida de um colega, Felipe Garcês (conhecido como 'Pato'), de 22 anos, que foi fotografado cuspindo em um militar e está sendo ameaçado de receber represálias. A foto (...) foi publicada na Veja.com, no blog de Reinaldo Azevedo, que chama Garcês de 'baderneiro'.

Eles [Santana e Mondego] consideram que participar do ato contra a comemoração do golpe foi uma obrigação cidadã: 'Nós tínhamos a obrigação de estar ali. Muita gente deu a vida para que nós pudéssemos ter o direito à livre manifestação. E a essas mesmas pessoas foi negado o direito de ter história, porque muitos desapareceram. E acho que nós, como signatários dessa luta, temos que estar na rua para dizer que enquanto essas pessoas não aparecerem a luta ainda não acabou. A luta delas ainda existe e é a nossa luta', diz Santana.
O jovem sociólogo [Santana] descreveu a forma como foi agredido na manifestação do dia 29: 'Eu estava correndo e tomei uma pancada. Vi quando o PM me bateu e olhei na cara dele. Ele sabe que bateu para me machucar. Fumaça, bomba… Só senti quando meu braço ficou pendurado', lembra Santana, que conclui: 'Vivemos num Estado Democrático de Direito, mas as atrocidades (da PM) são as mesmas'.
Segundo Mondego, o ato contra a comemoração do golpe de 64 'começou de maneira pacífica, tranquila'.
Mondego: os oficiais da reserva
faziam "apologia do crime".
Considera que os militares participantes do evento pró-golpe, mesmo os que não foram torturadores, 'estavam lá, por livre e espontânea vontade, festejando um período onde houve estupro de militantes, pau-de-arara, desaparecimentos. O fato de ele estar comemorando aquele golpe faz com que ele esteja torturando hoje os filhos de todo mundo que foi torturado. Está torturando os filhos dos desaparecidos. Está fazendo apologia do crime'.
Alguns manifestantes, sentido-se provocados por militares que, contam os entrevistados, 'debochavam e faziam gestos obscenos', resolveram comprar ovos na hora. Mondego estava com alguns na mão, quando ouviu de um senhor ao seu lado: 'Meu filho, me dá a honra de me dar um ovo desses para eu tacar num fascista'. Ele tinha tido um irmão morto pela ditadura.
'Aqueles ovos não davam para acertar em ninguém, tinha muita tropa de choque. Mas era uma questão simbólica. A gente queria tacar ovo na comemoração, não em ninguém específico', pondera o jovem.

Além da agressão que ele próprio sofreu, levando um soco na boca do estômago, Mondego conta ter presenciado a cena de um colega seu da UFRJ caído no chão e recebendo choque com pistola elétrica de PMs.
'A organização do evento não foi boa e a polícia foi extremamente irresponsável. Muita gente apanhou. Muito gás lacrimogêneo. Enquanto isso, os militares saíram de fininho pelas escadas do metrô. Teve cuspe, porque provocaram. Mas ninguém os agrediu', garante.
E completa: 'A sensação que ficou é que, como eles nunca foram punidos, se acham no direito de debochar da história do País'".
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