quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AS AMEAÇAS EXISTEM E IGNORÁ-LAS PODERÁ SER TRÁGICO

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Vamos falar sério.

A eleição de Dilma Rousseff está mais do que definida.

O escândalo da invasão de dados siligosos de pessoas próximas a José Serra não tem apelo eleitoral suficiente para alterar o resultado do pleito.

Nem mesmo para evitar que a eleição seja decidida no 1º turno.

Mas, dá combustível para tentativas golpistas. Dos mais inflamáveis.

O jogo não vai ser virado. A mesa, talvez.

Foi com que sonharam os articuladores do  Cansei!.  Quando o que seria sua  Marcha da Família com Deus Pela Liberdade só mobilizou 4 mil gatos pingados, decidiram recuar, à espera de oportunidade melhor.

Resignaram-se ao cumprimento integral do segundo mandato do presidente Lula.

Aceitarão, da mesma forma, o mandato da sucessora que Lula produziu, mais a perspectiva de que ele próprio conquiste outro (eu quase ia escrevendo  um quarto...) em 2014?

Têm oito anos de pão e água pela frente e um mote e tanto para tentarem reeditar 1964.

Daquela vez, o pretexto era a conspiração comunista internacional, o  ouro de Moscou, etc. Funcionou.

Em 2007, ergueram o espantalho do Fôro de São Paulo, Chávez, etc. Não funcionou.

Agora, o bicho-papão será o estado policial, tentacular, conforme proposto pela Veja em recente matéria de capa (foto acima) cujo texto e ilustração têm mais a ver com   sci-fi  do que com jornalismo...

Sejamos francos: existe organização popular suficiente para que a resistência a uma eventual quartelada seja mais eficaz do que em 1964?

Não. A ênfase do lulo-petismo tem sido a de ganhar eleições, não a de estruturar, fora e independentemente do Estado, o poder popular. Então, a tomada do governo pelas forças reacionárias o privaria da fonte principal de sua força e capacidade de reação.

Podemos confiar em que as Forças Armadas desta vez não cedam à tentação golpista?

O quadro é pior do que em 1964, quando a maioria dos militares queria respeitar a Constituição, um núcleo de conspiradores esforçava-se para assumir a liderança da caserna e havia remanescentes dos cabos e sargentos que heroicamente impediram a primeira tentativa de usurpação do poder, em 1961.

Agora, a maioria continua preferindo atuar profissionalmente, o núcleo de oficiais conspiradores existe (contando com expressivo contingente de nostálgicos da ditadura) e nada restou de espírito resistente nos escalões inferiores.

Então, o fiel da balança é o poder econômico.

A anemia do  Cansei!  se deveu à falta de apoio do grande capital, dos banqueiros, da agroindústria, da Rede Globo. Os senhores do Brasil consideravam que seus interesses estavam sendo bem servidos e não viam motivos para aventuras.

Nada indica que tenham mudado de opinião, haja vista a profusão de recursos com que abastecem a campanha de Dilma.

Mas, nada é definitivo na política e os cenários se modificam com muita rapidez.

Podemos dar como favas contadas que haverá cidadãos querendo derrubar o governo no início de 2011.

Não se produziu até agora o fato político capaz de alterar os humores dos verdadeiramente poderosos. 

Mas, tudo é possível. Há sempre um Gregório Fortunato para fazer uma monumental lambança, ou um Cabo Anselmo para incitar radicalização desmedida.

Então, seria sensato, talvez até providencial, se os dirigentes petistas tomassem duas providências:
  • apagarem o incêndio na Receita Federal, demitindo superiores que não zelaram como deveriam pelos dados sob sua guarda e apurando rigorosamente as responsabilidades desses aloprados que, com suas ações criminosas e estúpidas, acabaram servindo como inocentes úteis para a arregimentação das forças inimigas;
  • passarem a se preocupar um pouco menos com a eleição, que marcha a contento, e um pouco mais com a sustentação do resultado que sairá das urnas.
Outubro não é preocupante. A incógnita são os meses seguintes.

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