Nesta edição:
Replicantes, Homens e Técnica
Glória Kreinz
Divulgação Científica no Séc. XXI:
Poeta do Orkut - Marcelo Roque - Glândula de Skene
CNPq
Irana Mariano
O uso da imagem na divulgação científica: Os Cientistas
João Garcia
http://abradic.com/abradic/
ABRADIC
REPLICANTES, HOMENS E TÉCNICA
Glória Kreinz
Neste início de milênio, quando as tecnotopias invadem o cotidiano em forma de avanços tecnológicos impensáveis, algumas vezes busca-se nas artes uma transfiguração da realidade, e no ciberespaço uma fuga.
O pensador francês Paul Virilio no seu livro Cybermonde, La Politique du Pire*, deu demonstrações concretas de mudanças sociais e comportamentais ocorridas em pouco mais de sete anos. O livro pode ser visto no endereço que citamos Nesta obra Virilio chama atenção para o desvio perverso que pode ocorrer na relação homem/computador:
“Há o perigo da perversão. Da diversão que se converte em perversão – como o sexo normal que se transforma na zoofilia –, a diversão tecnofílica. A possibilidade da relação sexual sem contato. A Internet e a tecnologia como substituto da sexualidade. Cybersexualidade”.
Em 1989, na segunda edição de Esthétique de la Disparition, Paul Virilio destacava a importância da mulher na sociedade, afirmando: “Amante da passagem, a mulher tem até agora organizado efetivamente tudo aquilo que é velocidade; tudo que pertence ao movimento da vida dos homens se inscreve nela ou entra em concorrência com ela”
A poesia , por exemplo, que usamos em nossas publicações para facilitar a divulgação científica, age exatamente neste espaço, recuperando o papel do jogo da sedução mesmo no ciberespaço. Não permite que o espaço do jogo da sedução homem/mulher seja alterado por um novo elemento, quebrando uma lei natural de atração.
Ampliando-se este contexto, se anularmos a sexualidade, a clonagem de seres humanos seria uma derivação quase necessária e alguns cientistas sociais se inquietam com esta constatação.
Também nos anos noventa, em Nova York, mais exatamente em 1994, Arthur Kroker e Michael Weinstein lançam o livro Data trash. The theory of the virtual class e alertam para a linguagem da perversão substituindo a sedução natural da atração entre corpos como se vê:
“O corpo conectado é perfeito. Viajando como um nômade eletrônico através dos fluxos circulatórios da mediascape (paisagem medial), ele é apenas a forma biológica virtual de uma imagem escaneada multiplamente reproduzida. Abandonando a pesada história referencial de um sistema nervoso central, o corpo conectado realmente torna-se um sistema nervoso telemático, livremente distribuído pelo espelho eletrônico da Internet. Produto da sangria neural e do processamento de imagem, o corpo conectado é a forma tecnóide de vida que finalmente abre seu caminho rompendo a concha morta da cultura humana”.
Kroker e Weinstein traçam os contornos do apocalipse ao concluírem que a “tecnotopia tem a ver com desaparecimentos” e que ao aparecer a tecnologia como espécie diferente encontramos enfim o fim da história (humana) e o início da história virtual. “O quadro que se tem é o da sociedade ocidental entrando numa fase de desaparecimento, onde a energia do social reclina-se, com delírio e êxtase, no corpo eletrônico”. (Kroker e Weinstein, 1994)
É uma luta travada no ciberespaço para manter vivo aquilo que temos de diferente das máquinas, nossa capacidade de amar acordada, com uma linguagem própria de seu tempo. A sedução permanece como jogo amoroso, o mistério da atração sobrevive além do virtual.
É luta do homem e da máquina, no próprio universo maquínico. E a poesia vence, para nossa sorte de divulgadores científicos em ação, e daquilo que existe de humano em nós. Replicantes de Blade Runner, fazemos do amor e da contingência da técnica nossas armas. Continuamos indagando sobre nós mesmos, sobre o que queremos, o que divulgamos, e sobre nossos sonhos.
Nota-1-http://www.scribd.com/doc/6544969/Paul-Virilio-Cybermonde-La-Politique-Du-Pire
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