José Jonatas B. de Sousa N°USP: 5145821
Economia - História Econômica Mundial Contemporânea
Perry Anderson
O fim da história - de Hegel a Fukuyama
Cap 5 - Fukuyama
A publicação do artigo O Fim da História? por Francis Fukuyama suscitou várias objeções. Perry Anderson agrupa as críticas da seguinte forma, e mostra como a tese inicial de Fukuyama responde às principais objeções contra sua teoria de fim da história.
Genéricas:
- Reprovação da idéia de conclusão da história.
Resposta: Fukuyama deixa margem para qualquer quantidade de novos eventos. Apenas aplica um limite estrutural dentro das quais os eventos irão acontecer.
-Ignora as paixões humanas.
Resposta: As necessidades humanas mudam, e atualmente a democracia foi convertida numa necessidade humana.
Específicas:
- Existência de guerras.
Resposta: Estados modernos não buscam o poder como um objetivo em si mesmo, mas como garantia de interesses particulares. Estados democráticos não são propícios a recorrerem ao repertório de hostilidades militares e nunca guerrearam entre si.
-Persistência da desigualdade e miséria.
Resposta: Causa da pobreza em países desenvolvidos deriva de desvantagens culturais e não nas forças do mercado.
- Carência moral. (Sociedade construída sobre votos e videocassetes é estável?)
Resposta: Apesar de todos os seus benefícios para a humanidade no fim da história, o tempo de grandes empreendimentos e lutas heróicas, são coisas do passado. Anderson ainda defende que Fukuyama não afirma que o fim da história é a chegada de um sistema perfeito, mas a eliminação de quaisquer alternativas melhores a ele.
Alternativas Sistêmicas:
-Nacionalismo
Resposta: Conflitos regionais continuariam a acontecer sem incidência no sistema das grandes potências. A apenas um nacionalismo que é global em ambição ameaçaria a ordem mundial. A derrota do fascismo, por sua vez, mostra o limite das manobras para obtenção de vantagens nacionais. Porém, não leva em conta a questão nuclear.
-Fundamentalismo
Resposta: Apensar das doutrinas religiosas terem pretensões universais, o avanço da cultura secular e da tecnologia as tornam mais vulneráveis. Enfim, um retorno às origens teológicas não é um sério candidato a prolongar a evolução humana.
-Socialismo como uma força não derrotada. A democracia social como o próprio socialismo real. Capitalismo como uma denominação imprópria.
Resposta: Regulação econômica e crescimento das disposições sociais foi previsto, e não alteram estruturalmente o capitalismo. Propriedade privada, trabalho assalariado, concorrência...
Perry Anderson conclui que a tese de Fukuyama exposta no artigo consegue passar pelo teste da crítica. Então parte para a análise do livro O Fim da História e o Último Homem de Fukuyama, segundo o qual, confere ao discurso do fim da história uma imponente expressão política, de notável proeza de composição e que transita entre a exposição metafísica e a observação sociológica.
Fukuyama
Principais argumentações:
A evolução humana exibe direcionalidade por causa do acúmulo de conhecimento técnico, o qual recebe maior impulso com a ciência moderna. Essa com o passar do tempo transforma o mundo em geral, levando a modernização dos Estados, devido à pressão das potências mais desenvolvidas tecnologicamente. Esse mecanismo leva ao pleno desenvolvimento econômico que satisfaz as necessidades materiais. O capitalismo então aparece como o único sistema eficiente.
Porém, mesmo o capitalismo bem-sucedido não garante a democracia política.
Dessa forma, é a luta por reconhecimento que impele a humanidade para o objetivo de liberdade e igualdade. Para explicar esse conceito Fukuyama utiliza Hegel e Kojève, mas também a divisão da realidade psíquica humana entre: razão, desejo e thymos.
A força dos princípios da política liberal é demonstrada pelo colapso das ditaduras em todo o mundo nas décadas de 70 e 80, pela ausência de violência que marcou essa transição para a democracia, e por fim, na queda da crença que países pobres são incapazes de se desenvolverem (Ásia).
Problemas sociais ainda não resolvidos pelo capitalismo poderão ser resolvidos pela permuta entre liberdade e igualdade.
“democracia liberal subsiste como a única aspiração coerente que abarca diferentes regiões e culturas em todo o globo” (Fukuyama)
“não podemos imaginar para nós próprios um mundo que seja essencialmente diferente e, ao mesmo tempo, melhor” (Fukuyama)
O fim da história então seria a falta de quaisquer alternativas.
O próprio Fukuyama levanta a questão se a democracia liberal realmente satisfaz as exigências categóricas da humanidade. Pois, se os anseios da alma humana não estiverem saciados ela mesma criará os desafios ao capitalismo, não bastando a eliminação empírica das alternativas para se anunciar o fim da história. A resposta que Fukuyama encontra é que a democracia capitalista representa o melhor equilíbrio entre as três partes da alma.
Perry Anderson
Críticas:
A exposição de Fukuyama é uma notável inovação ao preencher uma teoria hegeliana da história com uma teoria platônica da natureza humana.
Utiliza o modelo tripartido de Platão da realidade psíquica, porém essa é uma tríade fraca, e sua fragilidade reside exatamente no thymos.
A combinação de significados para thymos (ira infantil, autocensura e dominação social) a torna efêmera. O próprio Platão tirou o destaque do espírito, e retrocedeu para a divisão socrática original entre razão e apetites em sua obra posterior (As Leis). Porém, mesmo para Platão na República o thymos é aliado da razão.
Efeito: O thymos adquire várias formas: é o motor da democracia; por outro lado a ambição de supremacia. Pode representar o orgulho na autonomia pessoal ou uma cultura de conformidade coletiva; um sentimento de igualdade ou uma validação de hierarquia.
Para distinguir cada uma Fukuyama oferece prefixos: mega e iso. Porém, a questão para Perry Anderson é que os compostos opostos compartilham da mesma substância. Tantas manifestações diferentes podem ser oriundas do mesmo espírito?
Fukuyama ainda recorre a Hegel para sustentar a sobrecarga semântica do termo: “o thymos de Platão nada mais é que a sede psicológica do desejo de reconhecimento postulado por Hegel”.
Mas para Hegel a alma não é um repertório de disposições constantes que definem os seres humanos. É mais um preâmbulo à consciência. É dialética e dinâmica:
Desejo → Dominação → Trabalho Escravo → Moderna Liberdade
O casamento da substância platônica com o espírito hegeliano causa a perda da lógica original da dialética histórica. A teoria de Fukuyama ainda abrange o mundo empírico enquanto Hegel e Kojève constituem mais uma metáfora que uma narrativa de um documento histórico.
Fukuyama afirma que a ciência não deve ser considerada a causa essencial que levou o processo histórico ao capitalismo. Existe uma um desejo que impulsionou a própria ciência. O desejo de bens materiais. Porém, Fukuyama ainda acha uma origem para esse desejo, seria o desejo que explicaria o desejo do homem econômico. O desejo de reconhecimento, ou seja, o thymos.
Por outro lado, Fukuyama defende que o desenvolvimento econômico para altos níveis tecnológicos não seja uma condição suficiente de democracia, mas necessária. Dessa forma, é possível encontrar uma industrialização bem-sucedida, mas num regime autoritário. Assim, a prioridade do thymos é derrubada.
Pode-se explicar que a ciência separou o desejo material do thymos, mas de que forma o thymos teria antes gerado a ciência.
Dessa forma, Fukuyama se distancia de Hegel ao não tomar a direcionalidade da técnica como a condutora da história e de Platão ao colocar o thymos como aliado do desejo e não da razão.
Existe no mundo real, um contraste visível entre a amplitude intercontinental do progresso da democracia política e da base regional da expansão da prosperidade capitalista. Japão, onde a democracia teria entrado pela porta dos fundos, já que foi decidida por Washington. A convicção na falta de alternativas deve-se muito mais ao fracasso do comunismo que ao êxito do capitalismo, por exemplo, na Coréia.
Não existe garantia que países fora da OCDE possam seguir o caminho taiwanês ou coreano. Mesmo em Taiwan a renda per capita ainda é metade da norte-americana. Perry Anderson ainda defende a impossibilidade material do Segundo e Terceiro Mundos igualarem os modelos atuais de consumo dos países desenvolvidos.
Os 20% mais ricos mundo são responsáveis por 86% do consumo global; os 20% mais pobres, por apenas 1%. Uma parcela de 80% do PIB mundial pertence a 1 bilhão de pessoas vivendo no mundo desenvolvido. Os restantes 20% são repartidos por 5 bilhões no mundo emergente (ONU 2005). Pressão migratória cada vez maior, devido às altas taxas de crescimento da população nos países pobres.
Segundo Fukuyama, o relacionamento entre a zona pós-histórica e a zona histórica envolve colisões em três eixos: os fornecimentos de petróleo que devem ser salvaguardados, imigração que deve ser filtrada e as tecnologias avançadas que dever ser bloqueadas. OTAN como instrumento mais adequado. A questão nuclear. O monopólio nuclear não tem base moral nem continuidade prática. Inevitabilidade de uma luta pelo o reconhecimento nuclear, ou a renúncia das grandes potências de seus arsenais.
Inconsistência de Fukuyama ao endossar o pressuposto que guerras continuarão acontecendo mesmo após o fim da história. Sua preposição é dada pelo fato que o ultimo homem possui duas opções ou prosseguir na busca material ou buscar realizações timóticas. Não leva em consideração o fato que a própria democracia vive uma crise nos países desenvolvidos, tento cada vez menos a participação do eleitorado.
A democracia está mais disseminada, mas também mais superficial. E que o devaneio de guerra de Fukuyama é uma compensação para ausência de perspectivas na qualidade política da paz.
Hoje a família é o leito das correntes mais velozes de mudança do capitalismo, e Fukuyama apenas atribui um papel secundário a essas mudanças. Exemplo da desigualdade dos sexos.
FONTE: http://www.econ.fea.usp.br/nozoe/eae0539/Perry_Anderson_Cap5_Fukuyama.doc.
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